Publicado em 28 de outubro de 2021 às 16:34
Keri Russel admite que é "muito medrosa" na hora de assistir a filmes de terror, mas não conseguiu resistir à oportunidade de contracenar com Jesse Plemons em "Espíritos Obscuros", thriller de horror muito aguardado do diretor Scott Cooper, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28). >
Ela diz que ficou intrigada por Cooper, que dirigiu histórias muito diferentes na sua carreira de diretor --que inclui o romance "Coração Louco", seu filme de estreia, a trama de gângster "Aliança do Crime" e o western "Hostis"--, ter aceitado o comando de um thriller sobrenatural baseado no mito do Wendigo. >
"Sou muito medrosa. Qualquer coisa me assusta. Minha sensação é a de que memorizo as imagens e elas não desaparecem, e por isso sou seletiva ao escolher filmes de terror", disse a atriz, rindo, em entrevista cedida com exclusividade ao F5 pelos estúdios Disney. "Consumo um número bem limitado deles". >
Quando chegou o convite para "Espíritos Obscuros", no entanto, Russell diz que aceitou "para brincar". "E foi mais ou menos isso que aconteceu. O gênero é novidade para Scott [Cooper], e em alguma medida também para mim. Fiz um filme independente do mesmo tipo dois anos atrás, e curti bastante o processo". >
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Segundo Russell, a "brincadeira" ficou completa com Guillermo del Toro. O cineasta premiado com o Oscar, é um dos produtores do filme e trabalhou em estreito contato com Cooper para desenhar a "criatura" -o Wendigo- cuja presença aterroriza o filme. >
Na trama, Russel interpreta Julia Meadows, professora em uma escola de uma cidadezinha mineradora decadente do Oregon. Seu irmão, Paul (Plemons) é o xerife local. A família Meadows tem uma história sombria, que marcou os dois irmãos. >
Julia começa a se preocupar cada vez mais com o bem-estar de um de seus alunos, Lucas (Jeremy T. Thomas), um garoto solitário e introvertido que sofre bullying na escola. Lucas oculta um segredo terrível ligado ao desaparecimento de seu pai e de seu irmão mais jovem. >
Quando Julia e o irmão começam a investigar, eles ingressam em um mundo tenebroso no qual o mito indígena americano do Wendigo, um espírito homicida invocado pela natureza para buscar vingança contra os homens, está à espreita. >
"Sim. O mundo de nossa história é sombrio. É engraçado porque, até começarmos a filmar as cenas com o Wendigo, estávamos fazendo um drama íntimo. Há momentos aterrorizantes, mas mais no modo pelo qual seres humanos podem ser aterrorizantes uns com os outros". >
"Bem, é fácil me assustar, e eu entro logo no clima do momento", continua ela. "Mas gosto da atmosfera de medo, gosto de pensar que existe alguma coisa lá no meio da noite -o monstro apavorante pode estar lá à espreita". >
Russell nasceu na Califórnia e conquistou um Globo de Ouro de melhor atriz em série dramática como a protagonista de "Felicity" (1998-2002). Também foi indicada duas vezes ao Globo de Ouro por sua interpretação de Elizabeth Jennings, em "The Americans", que acabou em 2018 depois de seis temporadas. >
Depois de concluir a filmagem de "Espíritos Obscuros", ela se integrou ao elenco de "Star Wars: Episódio 9", dirigido por J.J. Abrams. Veja abaixo trechos da entrevista concedida pela atriz. >
Você é fã dos filmes de terror? >
Sou, mas também sou muito medrosa. Qualquer coisa me assusta. Minha sensação é a de que memorizo as imagens e elas não desaparecem, e por isso sou seletiva ao escolher filmes de terror (risos). Tomo cuidado quanto ao número deles que consumo! >
Você ficou curiosa por Scott Cooper estar dirigindo um filme de terror? >
Fiquei certamente intrigada por Scott estar no comando desse projeto. Amei "Coração Louco" e acho que Scott fez um trabalho lindo naquele filme. Amei a história, o lado dolorido dela, e por isso, quando Scott entrou em contato, eu aceitei o convite para brincar. E foi mais ou menos isso que aconteceu. O gênero é novidade para ele, e em alguma medida também para mim. >
Fiz um filme independente do mesmo tipo dois anos atrás, e curti bastante o processo. O nome era "Os Escolhidos", e o diretor [Scott Stewart] era realmente bom e ele conduziu a história como um drama de família, uma história sobre a dissolução de uma família. Por isso, quando Scott [Cooper] me falou sobre "Espíritos Obscuros", eu logo concluí que não tinha feito coisa alguma de parecido, e ele tampouco, e já que Guillermo [del Toro] também estava envolvido, imaginei que seria um mundo divertido e interessante em que brincar por algum tempo. >
Julia Meadows é uma personagem complicada. Ela tem um passado sombrio, problemático, e se envolve na ação... >
Sim, há muita coisa a fazer, o que é parte da diversão. Temos um grande ator jovem (Jeremy T. Thomas), ele interpreta o garoto, Lucas. Creio que os melhores filmes do gênero são os que mostram alguma forma de conexão humana, e minha personagem, Julia, se sente muito apegada àquele menino, e curiosa a respeito dele, e quer garantir que ele vá ficar bem, de alguma maneira. >
Julia é professora dele e desconfia que Lucas tenha problemas em casa. Certo? >
Sim. O mundo de nossa história é sombrio. É engraçado porque, até começarmos a filmar as cenas com o Wendigo, estávamos fazendo um drama íntimo. Há momentos aterrorizantes, mas mais no modo pelo qual seres humanos podem ser aterrorizantes uns com os outros. Há muita coisa sobre como a vida pode alquebrar uma pessoa. >
Acabo de rodar uma cena em que acordo gritando de um pesadelo, e Julia está começando a lembrar de alguma coisa. Ela voltou para a cidade em que nasceu, para viver na casa em que cresceu, e que tinha deixado muito tempo atrás. Ela volta para viver com seu irmão, e estar de novo naquela casa faz com que lembranças ressurjam. >
Como é trabalhar com Jeremy T. Thomas? Ele interpreta Lucas, um papel crucial no filme. >
Ele é o filme. Tem uma sensibilidade muito real, e uma placidez que é muito agradável e não é comum em crianças pequenas. E é um menino fisicamente tão interessante -a estrutura de seu rosto. Ele é o filme, o ponto central. >
Fale-nos de trabalhar com Jesse. >
Amo Jesse. Ele é um grande talento, mas infelizmente me faz rir demais. Deveríamos estar chorando, mas nos fazemos rir com imitações horríveis de pessoas famosas, e rimos histericamente. Nos divertimos demais. Amo isso nos filmes de Scott. Acho que ele forma elencos muito bem e às vezes isso é meio caminho andado. O gosto dele me agrada. Por exemplo, amo o trabalho de Jesse. Sou fã dele há muito tempo, e o admiro demais. Ele é uma pessoa muito real. >
Você já viu a criatura? >
Não, ainda não vi, mas sei que está por lá (risos). Vou vê-la por três dias consecutivos, quando rodarmos algumas cenas, e achei que seria mais bacana e assustador se deixasse para vê-la só nessa hora. Assim fica mais divertido. Mas pelo pouco que vi, é impressionante e completamente assustadora (risos). >
Como atriz, ter uma criatura real com a qual contracenar é muito melhor do que trabalhar diante de uma tela verde? >
Depende muito. Mas, para começar, a criatura parece muito imponente, do ponto de vista físico. Ouvi dizer que era alta demais para os tetos, no começo, e tiveram de elevar o teto. Vai ser ótimo trabalhar com algo tão grande e grotesco (risos). >
Você pesquisou sobre o mito do Wendigo? >
Li um pouco sobre o mito do Wendigo. Não li demais, porque minha personagem precisa ser surpreendida por ele. Creio que o que intrigou mais foi o drama pessoal, o drama familiar, e o foco nesse lado da história vem primeiro, com a transformação em um filme de monstro, que acho que será muito, muito assustadora, ficando para mais tarde. >
Você disse que se assusta quando assiste a filmes de terror. O que acontece quando trabalha neles? >
Bem, é fácil me assustar, e eu entro logo no clima do momento -mas não posso contar sobre o que penso nessas horas, porque é um segredo meu (risos). E é esse o trabalho, é isso que eu faço. Mas gosto da atmosfera de medo, gosto de pensar que existe alguma coisa lá no meio da noite -o monstro apavorante pode estar lá à espreita. Sinto que, em muitos desses momentos, ainda que eles possam ser altamente emocionais, existe um lado físico intenso, uma atuação física, e esse filme não tem muito diálogo. Gosto disso. Minha formação foi em dança, e imagino que isso é algo que conhece e que dá forma ao meu desempenho físico. >
Você curte mais as cenas de ação em que sua personagem sai atrás da criatura? >
Esse será um daqueles momentos em que a audiência vai gritar para ela não ir. Eu estava fazendo uma cena em que entro em uma mina, e havia uma máquina de chuva ligada a todo vapor, e eu carregando uma pequena lanterna. Jesse e eu brincamos que eu chegaria na entrada da mina e diria, "bom, aquele garoto é legal, mas não é tudo isso. Ele é bonitinho e tudo, mas a gente pode comprar um cachorro". >
Você conheceu Guillermo? >
Sim, conheci. Ele esteve no estúdio, e vai voltar a nos visitar. Mas o envolvimento dele é mais com Scott. Para mim, parte da atração foi saber que a experiência de Guillermo na criação dessas criaturas fantásticas faria parte do projeto. E a combinação de Scott e Guillermo é intrigante. Logo pensei: "Por que não"? >
Scott disse que os filmes de terror muitas vezes trazem comentários sociais escondidos, e que em "Espíritos Obscuros" existe um subtexto sobre os danos ambientais que estão sendo causados agora e sobre a destruição que as drogas causam. Você falou sobre isso com Scott? >
Sim, inicialmente fiquei intrigada porque conversamos muito sobre cidades abaladas por graves problemas como esse; eu li muito, e havia muitas notícias sobre a crise dos opioides. A cidade do filme certamente foi atingida por isso -falamos especificamente de metanfetaminas, mas sinto que todas essas coisas se assemelham. E para mim, o monstro verdadeiramente assustador é esse -que as drogas tenham destruído todas aquelas famílias, pais ausentes, filhos abandonados. Isso assusta. É parte do que o garoto do filme está passando. E por isso acho que existem paralelos reais com os quais trabalhar. Não é só um monstro assustador. >
Ou seja, é possível entreter e divertir as pessoas mas também fazê-las pensar? >
Sim, e esse é o monstro que me apavora -as coisas que destroem famílias e infâncias. E os danos ambientais, também. >
Você vem trabalhando muito desde o final de "The Americans". Fez "Espíritos Obscuros" e, é claro, "Star Wars Episódio 9", com J.J. Abrams. O que orienta suas escolhas? >
Uma das coisas bacanas de ser atriz é que você nunca sabe o que fará a seguir e, se estiver preparada para largar as rédeas um pouco, a cavalgada é sempre divertida. Depois de "The Americans", eu nem imaginava o que faria a seguir. Queria fazer uma pausa, e fiz, e tive algumas grandes aventuras, mas quando J.J. ligou e me convidou para fazer aquele pequeno filme independente, não pude dizer não, porque esse tipo de trabalho é uma grande diversão. >
Em seguida, Scott me procurou para este filme, mas eu não sabia se conseguiria encaixar as filmagens em minha agenda; os produtores deram um jeito de fazer funcionar. Era uma oportunidade inédita para mim, e me parecia empolgante e criativa. Por que não aceitar o risco? Uma das melhores coisas nessa experiência, para mim, é que Florian (Hoffmeister), nosso diretor de fotografia, está fazendo coisas tão bonitas e suntuosas. Foi uma das surpresas mais agradáveis que tive. >
Scott pediu que você assistisse a algum outro filme para se preparar? >
Não, não pediu. Ele me mandou algumas referências visuais que estavam influenciando seus planos, como base para o visual do filme. >
É interessante que as duas cenas que vimos você rodar hoje tenham abordagens contrastantes -a primeira, em que você encontra seu irmão, Paul (Plemons), ferido, e parece muito real, e em seguida a cena em que você acorda gritando do pesadelo, e parece muito maneirista. >
Muito diferentes, e existe um elemento intensificado, especialmente nos filmes de gênero, que acompanha o visual, e é divertido. Estou curtindo esse lado. Sinto como se eu estivesse mergulhando em um mundo inteiramente novo. Acabo de sair de "The Americans", que também era um outro mundo, mas mais natural, e é divertido fazer essas cenas visualmente intensas. E o que mais agrada é a arte de tudo isso -o que Florian e Scott estão criando é tão bonito e tão assombroso. Realmente apreciei poder fazer parte disso. >
Guillermo tuitou certa vez sobre como ele amava "The Americans". >
Quando conversamos no telefone, ele falou disso, tinha visto todos os episódios, e estava informado sobre todos os detalhes. Fiquei muito surpresa, e perguntei por que ele assistia a "The Americans" (risos). Ele conhecia a série bem demais. Ele é um daquelas caras que sabem tudo -assiste a tanta coisa, é uma loucura. Mas acho que não dorme muito. Como todos os grandes diretores, ele é um grande fã de cinema e TV. É algo que ele ama, e por isso ele assiste a tudo que pode. Ele com certeza assistia a "The Americans" -e gostava da série.>
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