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Filme biográfico de Drauzio Varella faz paralelo entre vida pessoal e maratonas

Longa acompanha médico desde infância pobre no bairro do Brás

Publicado em 15 de novembro de 2025 às 15:37

 Cena do documentário 'A Vida É uma Maratona', sobre o médico Drauzio Varella
Cena do documentário 'A Vida É uma Maratona', sobre o médico Drauzio Varella Crédito: Divulgação/Youtube/@drauziovarella

Aos 82 anos, o médico, escritor, comunicador, voluntário em presídios e maratonista Drauzio Varella agora se torna protagonista de sua própria história no documentário "A Vida É uma Maratona", que estreia nesta segunda (17), às 17h, em seu canal no YouTube.

Dirigido por Jeff Peixoto, Michel Souza e Thais Roque e produzido pela Júpiter Conteúdo em Movimento, o filme é um projeto do YouTube em parceria com o Google e faz um paralelo entre a trajetória pessoal do também colunista da Folha e as maratonas que ele corre.

O longa acompanha o médico desde a infância no bairro operário do Brás, zona leste de São Paulo, até sua última maratona, em Berlim, em setembro deste ano. Pela primeira vez, ele não completou o percurso por causa de uma dor na coxa e na perna.

Ao revisitar o bairro onde cresceu, Drauzio conta que pouco restou daquele Brás de sua infância, mas uma imagem resistiu ao tempo. A fachada da antiga fábrica que ficava em frente à sua casa continua de pé.

"Eu olhei para aquele frontispício e vi, aquele menino magro, subindo nos ombros dos amigos para pegar a bola no telhado. Foi a única lembrança concreta que sobrou", diz o médico.

Ele afirma, no entanto, não ser apegado a nostalgias. "O passado é um editor muito habilidoso. Ele vai cortando o que não interessa e o que te provocou sofrimento. Sobram as boas lembranças."

No documentário, Drauzio reflete sobre os principais marcos da sua jornada médica, como sua atuação na área oncológica, o atendimento de pacientes com Aids e o trabalho voluntário em presídios.

O eixo central do filme é sua relação com a corrida, iniciada aos 50 anos e mantida com rigor até hoje. "Eu entendi que se quisesse envelhecer bem, tinha que ter uma atividade física desse tipo. E depois percebi que tinha uma genética apropriada para correr maratona."

Ao longo de mais de três décadas, completou "25 ou 26 maratonas, não tenho certeza", além de conquistar em 2022 a cobiçada medalha Six Majors, quando finalizou a maratona de Londres aos 79 anos.

A disciplina exigida pelos treinos, diz ele, moldou mais que sua vida esportiva. "A maratona exige um longo processo de treinamento, disciplina, persistência. Você tem que acreditar que aquilo é importante. Na minha vida também é assim."

O abandono da maratona de Berlim revelou outra camada dessa relação: o reconhecimento dos limites. "Quando cheguei no quilômetro 30, a dor começou a incomodar. Falei: 'mais sensato eu parar'. Depois pensei 'também não tá mal correr 30 quilômetros aos 82 anos'."

Mesmo diante da frustração, ele não cogita desistir: "Parar de correr eu não quero. Enquanto for possível, nem que seja dez, cinco, três, um quilômetro, eu vou continuar."

O médico acha natural que sua experiência inspire outras pessoas, embora não corra pensando nisso. "Tem um efeito pedagógico: se um homem de 82 anos corre, outros percebem que também podem."

Drauzio rejeita a ideia de que envelhecer signifique recolhimento ou limitação. Continua viajando para gravações e projetos, sobe e desce escadas como parte da rotina e embarca agora em novos trabalhos, como um filme sobre agentes comunitários de saúde. "As pessoas mais importantes do SUS", diz.

Galeria Veja os livros de Drauzio Varella que ele mais gosta Médico e escritor é autor de 18 obras, mas tem as suas preferidas https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1764464526248234-veja-os-livros-de-drauzio-varella-que-ele-mais-gosta *** No documentário, ele lembra que muitos dos seus amigos da infância deixaram a escola para trabalhar nas fábricas, e atribui ao pai, o contador José Varella, a chance de continuar os estudos. "Meu pai dizia que os filhos dele iam entrar na universidade."

Drauzio afirma que essa consciência de privilégio sempre o guiou e lhe trouxe uma responsabilidade: divulgar conhecimento para quem não teve as mesmas oportunidades. Ao longo de 26 anos na TV Globo e com o alcance atual do YouTube, tornou-se o médico brasileiro com maior presença nos meios de comunicação.

Newsletter Maratonar Um guia com dicas de filmes e séries para assistir no streaming *** Sobre seus próximos quilômetros de vida, mantém a serenidade de quem já encarou o fim de perto, quando teve febre amarela aos 61 anos. "Achei que ia morrer e pensei: 'até aqui, fiz tudo o que queria ter feito'. Hoje penso a mesma coisa. Quero fazer muitas coisas, mas serão uma continuidade do que já fiz."

Discreto em relação à vida pessoal, Drauzio diz que resistiu inicialmente à ideia do documentário com receio de que virasse um festival de elogios. "Quando vejo esse tipo de coisa nos outros, fico meio desgostoso. Mas me garantiram que não fizeram isso." Até a última sexta (14), ele ainda não havia visto o filme.

O longa traz depoimentos de amigos e familiares, como a mulher, a atriz Regina Braga, as filhas Mariana e Letícia, e a irmã mais velha do médico, Maria Helena. "O Drauzio é a mesma pessoa teimosa que sempre foi na vida", entrega a primogênita.

Se pudesse falar algo ao menino pobre que corria livre pelas ruas do Brás na década de 1940, ele diz que seria direto: "Aproveita bem essa fase. Nada substitui a liberdade que você tem hoje."

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