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Publicado em 3 de setembro de 2025 às 08:30
O cineasta Esmir Filho está em Vitória para participar do 32º Festival de Cinema de Vitória, onde vai ministrar a aula “A Direção Como Performance” nesta quarta-feira (03). Aproveitando a passagem pelo Espírito Santo, HZ conversou com o cineasta sobre a construção de Homem com H, a cinebiografia de Ney Matogrosso que conquistou o público e se tornou o maior sucesso de sua carreira. >
Mais de 600 mil pessoas assistiram ao filme nos cinemas em pouco mais de um mês, antes da estreia no streaming. Para Esmir, o convite para dirigir a cinebiografia foi mais do que um trabalho, foi um encontro pessoal. "Se tivesse um artista da música brasileira que eu gostaria de retratar, seria o Ney. Foi como ganhar um presente. Sempre admirei sua postura no mundo, e muitos aspectos da vida dele dialogam com a minha própria história".>
Essa foi a primeira cinebiografia dirigida por Esmir, que já havia trabalhado com curtas, longas, televisão e até fenômenos da internet. Para ele, a diferença foi justamente lidar com uma história real, marcada por eventos que já pertencem ao imaginário coletivo. >
“O desafio não era listar fatos da vida do Ney, mas traduzir sentimentos. Era preciso organizar os acontecimentos em um arco dramático que revelasse a coragem dele diante das tentativas de repressão. Trabalhei muito a partir do que ele sentia, preenchendo lacunas de memória com imagens e simbolismos”.>
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Para dar forma ao roteiro, Esmir buscou um fio condutor: a luta de Ney Matogrosso pela liberdade de ser e de se expressar. “Cada evento escolhido precisava dialogar com esse protagonista que não aceitava ser reprimido. A relação com o pai, os amores, as amizades, tudo seguia esse norte. O que não dizia respeito a isso, ficava de fora”, explica.>
A atuação de Jesuíta Barbosa como Ney é um dos pontos altos do longa. O ator passou meses em preparação, entre aulas de canto, dança, prosódia, ensaios e acompanhamento nutricional.>
“Ele chegou Jesuíta e foi se tornando Ney ao longo do processo. Esse ‘transe’ que o público vê é resultado de muito trabalho técnico aliado à entrega pessoal. Houve dias em que ele passava da preparação de elenco direto para a prova de figurino, e depois para a aula de canto. Foi um mergulho completo”.>
Aos 42 anos, Esmir Filho construiu uma trajetória marcada por experimentações. Do curta Alguma Coisa Assim (2006), premiado em Cannes, ao fenômeno Tapa na Pantera no YouTube, passando pelo longa Os Famosos e os Duendes da Morte (2009), exibido em festivais internacionais, o diretor sempre partiu das próprias inquietações para criar. >
“No início, eu falava da angústia da juventude, do deslocamento, da descoberta do íntimo. Hoje, percebo que gosto de retratar as crises humanas em qualquer idade. Por mais que os personagens atravessem momentos de dor, meus filmes sempre terminam com uma vontade de viver”, reflete.>
Sem pressa de definir próximos passos, o diretor prefere manter a abertura às novas experiências. “Cada filme me ensina algo novo. Quero continuar encontrando projetos que me proporcionem esse mergulho profundo no outro e em mim mesmo. O que desejo é seguir aprendendo”. >
Com Homem com H, Esmir Filho não apenas traduziu a vida de Ney Matogrosso para as telas, mas também reafirmou sua própria marca no cinema: a de transformar inquietações em histórias capazes de inspirar liberdade.>
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