Publicado em 11 de fevereiro de 2024 às 08:00
Matthew Vaughn é um cineasta que gosta de rir, se divertir e fazer paródias de certos subgêneros que já começam a virar uma piada por si só. Ele já deu risada do cinema de super-heróis (Kick-Ass) e, principalmente, do cinema clássico de espionagem ao melhor estilo James Bond (com a série Kingsman). Agora, ele direciona seu humor para o cinema de agentes secretos com 'Argylle: O Superespião', que estreou no dia 1º, com Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill e participação especial de Dua Lipa, Ariana deBose, John Cena e Samuel L. Jackson.>
Aqui, acompanhamos a história de Elly Conway (Bryce Dallas Howard), escritora de filmes de espionagem que, da noite para o dia, se vê envolvida em uma trama muito parecida com a de seus livros quando Aidan (Sam Rockwell), um agente especial, surge em sua vida. Criatividade aguçada ou dom premonitório? É isso que o thriller de espionagem busca resolver.>
Na superfície, Argylle é divertido. Assim como o diretor britânico Matthew Vaughn redimensionou os absurdos dos heróis e espiões, aqui ele coloca o ridículo das aventuras de agentes secretos em outra escala.>
Seja pela forma tosca como retrata o principal espião (na dicotomia entre Rockwell e o agente idealizado vivido por Cavill) ou, então, por piscadelas sobre coisas que acontecem nessas histórias, como beijos apaixonados.O elenco também ajuda a criar esse clima de paródia. Bryce Dallas Howard (Jurassic World) e Rockwell (Três Anúncios para um Crime) dão dimensão aos absurdos nas narrativas sobre espionagem.>
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O grande problema de Argylle não reside na direção nem nos atores, mas no roteiro desastroso e sem coesão de Jason Fuchs, que antes tinha créditos por sucessos como Mulher-Maravilha, A Era do Gelo 4 e IT: A Coisa 2.>
Enquanto Vaughn tem uma direção segura, Fuchs não sabe bem como contar boas piadas nem quando parar de tentar - e aí tudo fica sem humor. Há tantas tramas que é fácil se perder nesse emaranhado. Uma reviravolta pode surpreender, duas podem te deixar vidrado se forem muito bem escritas. Mas cinco, seis?>
O longa começa a se desconectar. Aqui, mais especificamente, você se vê cada vez mais longe da autora Elly, que simplesmente deixa de existir na narrativa para se tornar um motor desses plot twists descabidos.>
Além disso, os personagens mudam demais de identidade. A princípio, é uma sacada divertida, que faz rir com histórias de John le Carré, brincando0 com a linha que separa um escritor de espionagem de um espião - e, acima de tudo, com aqueles enredos de agentes com dupla identidade ou até tripla, como em Atômica. Mas a piada repetida à exaustão deixa a plateia desnorteada. Dessa forma, o elo do espectador com os personagens se rompe.>
Tudo se torna líquido: a história, os propósitos da trama. Se não fosse o bom e estelar elenco liderado por Rockwell, Bryce e Cavill, o longa estaria totalmente perdido.>
Nossa atenção nessa comédia de ação é desviada o tempo todo para outros assuntos e, principalmente, para cenas impressionantes - há uma sequência de luta de Rockwell e Bryce, já no final, que tem um visual realmente surpreendente, com uma fumaça rosa tomando conta de tudo. Mas, novamente: será que podemos acreditar no que estamos vendo? Será que Fuchs, em alguns minutos, não vai pôr outra reviravolta engraçadinha por aqui?>
Isso sem falar na falta de originalidade: a premissa do filme, sobre a escritora que se depara com suas criações, lembra muito a aventura Cidade Perdida, com Sandra Bullock. Só que Argylle, mesmo com esses problemas, agrada por ser, acima de tudo, ingênuo.>
Se no fim você estiver frustrado porque parece que há mais fragilidades no longa do que pontos fortes, principalmente por ser Vaughn, o segredo é deixar-se levar pelo absurdo e encontrar graça não apenas na paródia de espionagem, mas na forma como o cinema está se enxergando, ao inserir cada vez mais acontecimentos por minuto para evitar que o público dê aquela espiada no celular.>
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