Mineiro radicado no ES, Marcos Almeida está com duas faixas na trilha sonora de "Vai Na Fé". Crédito: Andrey Lucas
Músico, escritor, pensador e "ícone cristão" - pois possui o dom da palavra, sendo capaz de atrair multidões por onde passa -, Marcos Almeida conseguiu mais um feito em sua bem sucedida carreira solo, após passagem pela banda Palavra Antiga.
Dono de 68 milhões de streamings no Spotify e 62 milhões de plays no YouTube, o cantor, que é mineiro, mas reside no Espírito Santo com a família há alguns anos, emplacou duas de suas músicas mais conhecidas na trilha sonora de "Vai na Fé", novela que é sucesso de audiência nas noites da Rede Globo: "Se Valente" e "Vem me Socorrer".
As faixas foram adaptadas para o núcleo cristão da trama de Rosane Svartman e usadas para embalar momentos de louvor de Sol (Sheron Menezzes), sejam no altar da igreja ou mesmo em situações de aflição do cotidiano. Marcos Almeida chegou a comemorar a inserção das composições no folhetim global em suas redes sociais.
"Nunca sabemos o alcance de uma composição nossa sendo executada em uma novela da Rede Globo. É uma multidão assistindo na frente da TV. As inserções das músicas causaram, e continuam causando, um impacto grande em mim, quanto mais em uma história como a de 'Vai na Fé', que ressalta valores cristãos e a importância da redenção", aponta Marcos (que descreve sua obra como "música tecida na esperança"), em bate-papo por videoconferência com "HZ" de sua casa em Vila Velha.
"A Rede Globo entrou em contato fazendo a solicitação para a liberação e aceitei como prazer. Até porque, como já ressaltei, é uma história que traz um núcleo de vivência cristã, mas mostrando os problemas por que passam qualquer família, independente da religião. Mesmo quem não é evangélico sempre tem uma amiga ou alguém que faz uma oração para você. No Brasil, muita gente vai conhecer a realidade desse segmento e, com isso, preconceitos e tabus vão sendo quebrados", reflete.
Sobre "Vai na Fé", o artista faz elogios à trama de Svartman, especialmente pela capacidade de se comunicar com facilidade com o grande público. "A protagonista, por exemplo (interpretada por Sheron Menezzes), canta no coral da igreja, mas tem uma história com o funk. E são vários outros personagens com problemas relacionados à criminalidade e até pertencentes a outras religiões. Com isso, a novela pretende 'dar uma aula' de tolerância e boa convivência. Uma história assim cria vínculos capazes de promover a aceitação à religião evangélica por parte do grande público. A autora opta pela linguagem que evoca misericórdia e perdão", defende.
TOLERÂNCIA
Recentemente, a Globo cortou de "Vai na Fé" duas cenas gravadas de beijo entre as personagens Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman), alegando, inicialmente, tratar-se de questões normais de edição. Aproveitamos a polêmica que os cortes causaram nas redes sociais para questionar Marcos: os vetos seriam um aceno - ou mesmo tentativa - de não desagradar o público evangélico, considerado mais conservador e teoricamente o alvo da audiência?
Almeida responde com serenidade e censo crítico. "Acredito que a novela também aposta em outra questão: fazer o público conservador aprender a respeitar as diferenças. O evangélico não pode se isolar em seus mundos de crenças, como também do resto do mundo, pois arriscam criar uma contracultura", acredita o artista, afirmando que a questão da aceitação de outros mundos, religiões, comportamentos e culturas é um dos pontos trabalhados no livro 'Arte e Espiritualidade: O Cristão e a Cultura Brasileira', lançado por ele em parceria com Rodolfo Amorim e Davi Lago (à venda na Amazon por R$ 45,50 - COMPRE AQUI).
"Na obra, também debatemos a capacidade de os cristãos brasileiros, sobretudo os evangélicos, lidarem com as complexidades da cultura nacional, incluindo comportamentos e outras religiões, seja vindo por parte do negro, índio, judeus e população LGBTQIAP+. Criamos possibilidades para essa aceitação. Entre os modelos, um dos defendidos é o olhar sobre a demanda que vem da sociedade, procurando respostas. Como artista, por exemplo, tento contextualizar meu trabalho dentro da MPB, independente de fazer parte do movimento gospel. Acredito que o cristão precisa aprender a transitar entre os públicos e conhecer o entorno. Uma escuta generosa, com todas as crenças e condições. Assim, conhecemos mais a Deus", filosofa, sem correr da resposta em relação ao beijo entre Clara e Helena na novela das 19h.
Marco Almeida acredita que "Vai na Fé" traz uma história capaz de quebrar preconceitos. Crédito: Andrey Lucas
"O beijo vai voltar a acontecer, tenho certeza, de uma forma mais tranquila até. Volto a repetir, a trama está criando vínculos para promover essa aceitação, criando possibilidades do público mais conservador respeitar diferenças", afirma, em tom apaziguador.
TURNÊ
Marcos Almeida está rodando o Brasil com a turnê do álbum "Essa Pele Marcada" - lançado nas plataformas digitais recentemente - com sessões sempre lotadas. Por enquanto, o Espírito Santo ainda não está na rota das apresentações... Por enquanto.
Para alegria dos fãs, Marcos afirmou, em primeira mão a "HZ", que está negociando um espaço para trazer "Essa Pele Marcada" para terras capixabas. "Minha expectativa é cantar aqui no segundo semestre deste ano. Desde 2018, não faço uma grande apresentação no Estado. Tenho uma ligação muito forte com essa terra. Moro aqui, meus três filhos e minha esposa são daqui. Também foi no Espírito Santo que desenvolvi a paixão pelo mar. Faço pesca, canoagem e sempre estou em contato com ele", relata.
Por falar no mar capixaba, o oceano é a inspiração do novo disco de Marcos Almeida, em processo de produção e com previsão de lançamento entre agosto e setembro.
"O mar do ES me inspirou a compor as 12 faixas do projeto, cuja ideia nasceu durante uma viagem para pescar em 2021. Para compor o disco, também busquei nomes como Dorival Caymmi e Adriana Calcanhotto, que já homenagearam o mar", detalha o artista, explicando um pouco mais o conceito complexo (se assim podemos definir) do novo trabalho.
"Outro estímulo são as embarcações, especialmente o calado (que demarca a distância entre a quilha do navio, seu ponto mais baixo, e a linha superficial da água, cobrindo toda a parte da embarcação que está submersa). Simbolicamente falando, calado tem vários significativos. Além de um setor do barco, pode expressar silêncio e reflexão. Uma forma de busca espiritual", complementa, com o já conhecido, e bem-vindo, tom filosófico.
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