Marisa Orth retrata o alcoolismo no palco da Ufes com "Bárbara"

"É a história bem-sucedida de uma mulher que vence sua dependência", diz a atriz sobre a peça, que fica em cartaz no sábado (20) e domingo (21), em Vitória

Marisa Orth durante peça

Marisa Orth durante peça "Bárbara". Crédito: Galeria Marcos Mequita

Dependência, empatia, esperança, superação. São esses alguns pontos que Marisa Orth aborda em cena durante o espetáculo "Bárbara", em cartaz no Teatro Universitário da Ufes, neste final de semana em três sessões - sendo a de sábado (20) já esgotada. Inspirada no livro "A Saideira", da jornalista e escritora Barbara Gancia, a atriz mescla humor, emoção e momentos de interação para fazer a plateia refletir sobre um assunto importante: o alcoolismo.

A atuação marcante no espetáculo rendeu a Marisa o prêmio Bibi Ferreira de Melhor Atriz de Teatro no ano passado. "É tocante. Tem gente que sai gargalhando, tem gente que sai mexido. A peça fala claramente de dependência. Dependência alcóolica, no caso, mas vai acabar tocando em outros assuntos, como dependência de substâncias, de situações, de compulsão. Essa dificuldade que a gente tem de dosar a vida sem ter nenhum 'hábitozinho' mais forte", contou à equipe de HZ.

As montagens, no sábado (20) e no domingo (21), marcam o retorno da atriz ao Espírito Santo, após oito anos desde seu último espetáculo encenado no Estado, "Romance Vol. II". Sobre as três apresentações aqui, incluindo uma sessão extra para o segundo dia, Marisa revela estar animada em se reencontrar com o público capixaba.

"Do Espírito Santo, só penso coisa boa, só penso na comida (risos). Eu sempre me surpreendi com o Espírito Santo. Eu acho que o brasileiro sempre se surpreende com o Espírito Santo. Eu não sei o que acontece com Vitória, que o povo não lembra sempre de mencionar. É uma delícia ir para aí porque você descobre uma cidade deliciosa, um povo super atento, que curte cultura, que te recebe bem, que não é aquela tietagem louca. É uma capital muito surpreendente em muitos aspectos e sempre positivos", disse.

Iniciando uma turnê pelo Brasil, a atriz apresenta seu primeiro monólogo em 40 anos de carreira. Feliz com o retorno aos palcos, a novata em apresentações solos compartilha o frio na barriga em conduzir o público sozinha.

"É difícil para caramba. Ainda bem que esperei tantos anos para fazer (risos) porque agora eu tenho recursos, firmeza, prática para poder segurar qualquer desespero. E dá muito desespero porque você é responsável pelo ritmo todo. É uma experiência maravilhosa, uma aula, uma escola. Em cada espetáculo, eu aprendo. É exigente, uma aventura, exige concentração. E nem que seja só por isso, vão assistir (risos)", disse.

"ME SINTO NOVATA"

As décadas de carreira, porém, não significam que Marisa já tenha esgotado suas atividades artísticas. Com participações em novelas, programas de humor, filmes e até um álbum musical lançado, a atriz ainda deseja mais participações no cinema e papéis em personagens características ou vilãs.

"Eu me sinto novata. Eu tenho tanto para aprender. Arranjei uma profissão bem legal, em que você não fica velho, você não se sente velho. Tem sempre muita coisa para fazer", disse.

Intérprete de personagens marcantes da televisão brasileira, como a Magda, de "Sai de Baixo", e a Rita, de "Toma Lá Dá Cá", Marisa Orth revisita sua trajetória e compartilha seu maior orgulho: "ter conseguido viver de arte nesse país. Ter conseguido realizar meu sonho de infância. Desde que eu nasci, eu queria ser atriz e consegui. Vocês acreditaram que eu era".

Tem muito mais gente que tem que ver teatro, ainda vivemos em um país em que a maioria das pessoas nunca pisou no teatro. Enquanto estiver público precisando, eu tenho que fazer. O Brasil precisa de mais teatro e cultura. A distribuição de renda e a distribuição cultural estão muito erradas. Então, é claro que eu tenho muito o que fazer

Marisa Orth durante peça

Marisa Orth durante peça "Bárbara". Crédito: Galeria Marcos Mequita

INSPIRAÇÕES DENTRO E FORA DO PALCO

Marisa Orth chega para a apresentação em Vitória após perder uma grande amiga, Rita Lee. A cantora, que faleceu no dia 8 de maio, apresentou o programa "Saia Justa", em 2002 e 2003, ao lado da atriz. Assim como na peça "Bárbara", em que se inspira na história de Barbara Gancia para construir a peça, Marisa diz ter Rita como uma inspiração para a vida.

A atriz não pôde estar presente no velório da cantora, no dia 9, por estar infectada com Covid-19, mas compareceu à missa de sétimo dia, na quarta passada (16). Hoje, alguns dias depois do ocorrido e prestes a continuar uma turnê pelo Brasil, Marisa compartilha como tem se sentido.

"Estou triste para caramba. Eu estava aqui pensando que tive uma enorme sorte dela ser uma amiga. Mas eu acho que, no Brasil, nós mulheres somos meio feitas de Rita Lee. A Rita Lee está dentro da gente. Ela é estrutural. As mulheres pós-Rita são todas um pouco feitas dela, têm ela dentro. O brasileiro tem. Acho que só estamos nos dando conta do tamanho, da importância e da genialidade da Rita Lee agora", comentou.

Ainda em conversa com HZ, Marisa Orth compartilhou mais informações sobre a peça "Bárbara". Confira, abaixo, as perguntas e respostas na íntegra.

Marisa, se alguém que não conhece a história te pedisse para descrever a peça, o que você diria?

É a história bem-sucedida de uma mulher que vence sua dependência. É uma peça que fala de assuntos difíceis mas, já aviso, que tem final feliz. Tudo com muita graça, porque a personagem retratada é uma mulher engraçada - e eu, modéstia parte, também sou. Com uma dramaturgia a partir do livro, é uma peça muito rápida, muito porrada, muito forte. A gente fez de tudo para que o monólogo não parecesse tedioso

Qual a maior lição que o público pode tirar desse espetáculo?

Que a gente compreenda a dependência como uma doença e não como falta de vergonha na cara ou mau-caratismo

Você está atuando em uma obra que fala sobre a luta da jornalista Barbara Gancia contra a dependência química. Como está sendo para você encenar uma peça com um tema que é tabu para tantas pessoas, o alcoolismo?

É uma briga que a gente compra e percebe que é um assunto, um problema seríssimo que a gente tem no Brasil. Não tem uma pessoa, pela minha experiência até agora, que não venha me contar um caso dentro da própria família ou no primeiro círculo de relação dessa família. É muito perto da gente, é um assunto muito presente, muito difícil e que se fala muito pouco

Acredito que falar sobre esse tema também é falar sobre superação. Você chegou a trocar com a Bárbara para saber como "levá-la" ao palco da melhor maneira?

O dia mais difícil da peça foi quando ela (a Bárbara) foi assistir ao ensaio. Foi bem difícil, mas ela gostou muito e nos assiste em todas as sessões que pode. Ela nos ajudou na escolha de termos melhores, mais de acordo, como nunca usar a palavra vício por conta da conotação negativa. É dependência. Ensinou a não brincar com expressões como 'Nossa, bebi tanto que fiquei vendo bichos na parede', porque alucinações podem ser um estágio avançado do alcoolismo. Deu uma bela orientada

SERVIÇO

  • ESPETÁCULO "BÁRBARA" COM MARISA ORTH
  • QUANDO: Sábado (20), às 20h (esgotado). Domingo (21), às 17h e às 19h30
  • ONDE: Teatro Universitário da Ufes, na Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória
  • CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
  • DURAÇÃO: 80 minutos
  • INGRESSOS: Térreo e Mezanino por R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia), disponíveis no site da Le Billet | Pontos de venda físicos: Óticas Diniz Shopping Vitória, Óticas Diniz Shopping Vila Velha, Óticas Diniz Shopping Praia da Costa, Loja Origens Shopping Vitória, Loja Origens Shopping Praia da Costa, Loja Origens Shopping Vila Velha, Loja Origens Praia do Canto e Loja Origens Praia de Camburi. As entradas também estarão à venda na bilheteria do teatro, de terça a sexta das 14h às 17h e no dia do evento a partir das 15h.

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