Repórter do Divirta-se / [email protected]
Publicado em 29 de junho de 2022 às 10:58
Além do inegável talento, Mariana Xavier é conhecida por sua espontaneidade e bom humor, que jura não manter "intacto" todos os dias (gente como a gente, né?). >
Enquanto esperava a comida chegar em um restaurante de Manaus/AM, onde estava viajando a trabalho, a atriz conversou por telefone com "HZ". A ideia é (ou era até aquele momento) falar sobre a peça "Antes do Ano que Vem", que apresenta em Vitória neste sábado (2) e domingo (3), no Centro Cultural Sesc Glória.>
Porém (sempre tem um porém), quando soube que o repórter era do Espírito Santo, foi logo perguntando. "Cara, você sabe que passei minha adolescência quase toda em Vitória, né?", questionou, rindo. >
Surpresa com a resposta negativa do desinformado jornalista, a atriz, decidida, começou falar de sua "vida capixaba". Não preciso nem dizer que a prosa tomou outros rumos...>
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"Morei no Espírito Santo entre os anos de 1991 e 1997, em Jardim da Penha e na Praia do Canto, em Vitória, e em Vila Velha. Meu pai foi para o Estado a trabalho. Tinha 11 anos na época", relembra. "Comecei a carreira artística no teatro aos nove anos e, no início, foi difícil deixar o Rio de Janeiro e todos esses sonhos. Lembro que tive muita dificuldade de me adaptar", rememora, logo dizendo que, como boa adolescente, começou a fazer novos amigos por aqui.>
"Nossa, tem gente que está no meu coração até hoje! Tanto que faço questão de, pelo menos uma vez por ano, dar uma passada por Vitória para revê-los. Também estudei teatro no Espírito Santo, com Vera Viana (que partiu em 2020) e Cristina Valadão. Foram tempos maravilhosos", suspira... >
"Capixabices" à parte, logo partimos para "Antes do Ano Que Vem", uma comédia agridoce que debate temas como solidão, abandono, inseguranças, fracassos e a irritante necessidade de estarmos felizes em épocas comemorativas, como o Natal e o Ano Novo. "É uma peça que fala sobre escolhas, modelos de felicidade e o quanto deixamos de aproveitar as coisas simples", rebate a atriz carioca.>
Contextualizando, vamos à trama. Com texto de Gustavo Pinheiro e direção de Ana Paula Bouzas e Lázaro Ramos, a montagem conta as desventuras de Dizuite (Xavier), faxineira da Central de Apoio aos Desesperados (CAD), uma espécie de CVV (Centro de Valorização da Vida), só que numa vibe mais estilizada.>
É noite de réveillon, quando há um aumento significativo no número de ligações com pedidos de ajuda, especialmente de pessoas insatisfeitas com a vida. Como a psicóloga plantonista não aparece pra trabalhar, Dizuite, que possuiu a necessária (ou seria salvadora?) sabedoria popular, começa a atender aos telefonemas, e mostrando a sete pessoas - da adolescente traída à socialite falida - que vale a pena viver e que (sempre) dá pra ser feliz antes do ano que vem. >
"Gosto de usar a comédia como uma ferramenta de crítica e reflexão, com a capacidade de fazer as pessoas se identificarem. Estamos na Era das Redes Sociais, onde vemos um mundo que, às vezes, não condiz com a realidade. O mundo lá fora está desabando, mas as pessoas sempre dão um jeito de aparecer em fotos felizes e plenas. Isso é irreal", desabafa a atriz, que encara seu primeiro espetáculo solo. "É uma peça sensível e esperamos que o público saia do teatro leve, permeado por transformação e reflexões", endossa, afirmando que acredita no limite do humor.>
"O humor não pode machucar. Uma brincadeira só é brincadeira quando todos se divertem. A graça acaba se alguém está sentindo dor ou sofrimento", defende a atriz, dizendo que Vitória é a terceira cidade a receber a turnê de "Antes do Ano Que Vem", a segunda após a atriz contrair Covid-19, em maio, e se recuperar de uma pneumonia. >
"Estreamos em São Paulo e, depois, fizemos Manaus. Vamos passar por várias cidades ainda, como Maceió e Brasília. O Rio está nos planos, mas sem uma data específica confirmada", informa, respondendo à pergunta (clichê) clássica: o que Dizuite e Mariana têm em comum.>
"O humor e a tentativa de lidar com os desafios da vida de forma leve. Além disso, como ela, sinto a vontade de ajudar por meio da palavra, do aconchego", responde, relembrando o carinho que sente pelo "eterno" Paulo Gustavo (morto por conta da Covid-19, em 2021). Sua Marcelina, a sapeca filha de Dona Hermínia em "Minha Mãe é uma Peça", ainda paira sobre a memória dos fãs.>
"A gente (ela e Paulo Gustavo) não era tão próximo o quanto as pessoas pensavam, do tipo de falarmos todos os dias ao telefone, mas tínhamos um carinho imenso. Sou eternamente grata pela oportunidade que ele me deu, pois, quando o primeiro filme foi lançado (em 2013), era pouco conhecida e com um trabalho voltado mais para o teatro. A Marcelina me 'apresentou' ao grande público", afirma, não escondendo a tristeza com a perda do ator.>
"Às vezes, penso que estou em um pesadelo, que vou acordar, tudo isso vai passar, e o Paulo estará ali presente, fazendo o seu humor de resistência. Gosto de pensar que sou uma herança desse amor que as pessoas sentiam por ele. O Paulo sempre defendia o amor da autoaceitação, de se querer bem como você realmente é", ressalta, sem esconder a emoção.>
Com a carreira em ótima fase, Mariana Xavier comemora sua estreia como protagonista solo também no cinema, com a comédia "Doce Família". Na trama, que deve estrear no segundo semestre de 2023, a atriz encarna Tamara, uma confeiteira de sucesso que, de repente, se vê em um dilema: apesar de estar feliz com seu corpo, precisa emagrecer para realizar o sonho de casar com o mesmo vestido usado pela mãe, que é magra.>
"(O filme) Trata, também, de uma temática que sempre sofri, a gordofobia e a pressão por ter um corpo dentro dos padrões estéticos de beleza. Hoje tenho uma cabeça boa em relação a isso, mas nem sempre foi assim", responde, parando para pensar antes de continuar sua linha de raciocínio.>
Vale lembrar que Mariana faz um forte trabalho nas redes sociais sobre autoaceitação. "Tento mostrar minha vida e como sou. Desejo afastar essa coisa de glamourização e idealização que algumas pessoas possam ter em relação à vida da classe artística. Aliás, idealizar não é bom para ninguém", reitera, com sua conhecida espontaneidade.>
Quando o papo estava cada vez melhor, Mariana avisou que havia chegado a hora do almoço. Perguntei o menu do dia. "Estou em um restaurante. Acho que vou pedir picanha", brinca, soltando uma larga risada antes de desligar o telefone. >
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