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Mais de 12 mil pessoas participaram da primeira festa literária internacional do ES

Programação teve 32 livros lançados e contou com convidados como Padre Júlio Lancellotti e Pepetela

Ana Muniz

Residente em Jornalismo / [email protected]

Samara Ramos

Residente em Jornalismo / [email protected]

Publicado em 15 de outubro de 2025 às 16:51

Autores durante um dos bate-papos na Flinc
Autores durante um dos bate-papos na Flinc Crédito: Ana Muniz

No último fim de semana, o Espírito Santo recebeu a sua primeira feira internacional de literatura. A Festa Literária Internacional Capixaba (Flinc) reuniu nomes como Padre Júlio Lancellotti, Pepetela e Suely Bispo no Parque Cultural Casa do Governador, em Vila Velha. O evento durou três dias, de 10 a 12 de outubro, e registrou mais de 12 mil participantes.

Na Flinc, foram lançados 32 livros e estiveram presentes mais de 70 convidados, entre autores, editores, ilustradores e profissionais do mercado editorial. Ao longo dos três dias de evento, o público pode circular por uma programação diversa, com contações de histórias, oficinas, bate-papos e apresentações musicais.

Além da literatura, as atrações integraram teatro, artes visuais e música, com destaque para o show do cantor e compositor Nei Lopes na noite de sábado. Outro ponto alto foi a apresentação da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses) no domingo com trilhas sonoras de clássicos da animação como “Branca de Neve” e “Pinóquio”.

No último dia de evento, no Dia das Crianças, a programação do evento incluiu também a “Flinquinha”, com atividades organizadas para os baixinhos e de de incentivo à leitura desde a primeira infância.

Literatura como meio de reflexão e união

Pepetela durante o bate-papo “Tudo está ligado: Literatura, Memória e História”
Pepetela durante o bate-papo “Tudo está ligado: Literatura, Memória e História” Crédito: Ana Muniz

Mais do que uma celebração, a Flinc apresentou reflexões sobre o papel dos livros na sociedade. Durante o bate-papo “Tudo está ligado: Literatura, Memória e História”, Pepetela, autor angolano e ganhador do Prêmio Camões, destacou a importância de dar uma função social à escrita.

“O que eu pensava em 1975, no ano da independência [de Angola], não é o mesmo que penso hoje. As pessoas mudam, o mundo muda, às vezes avança, às vezes recua. E a literatura acompanha esse movimento. Nos meus livros, procuro contar histórias que façam as pessoas pensar. Assim como eu descubro coisas ao escrever, o leitor também descobre ao ler. É esse o papel social da literatura”, defendeu o escritor. Pepetela, que fez sua primeira visita ao Espírito Santo com o convite da Flinc, revelou sua curiosidade de interagir com os leitores capixabas e sentir o público durante o bate-papo.

A escritora e atriz Suely Bispo relata que o evento propiciou um local para interações entre amantes da literatura no Espírito Santo. 

Que bom que Vila Velha pode ter esse espaço de festa literária. É um momento de encontro, de troca muito intensa. Você encontra seus amigos, outros escritores e também o leitor, isso é muito importante

Festa deu destaque a editoras e autores independentes

A Flinc contou com estandes de 13 editoras independentes e um da Domus livraria, com catálogos de grandes grupos editoriais, como Companhia das Letras, Todavia, Globo Livros e Intrínseca.

De origem capixaba, a Nsoromma foi uma das editoras independentes que marcaram presença. Para Noélia Miranda, uma das fundadoras, a experiência de participar da festa foi emocionante. “Ter um evento neste suporte e com este público é de uma relevância que não dá para mensurar”, diz. Voltada ao público infantojuvenil, a Nsoromma é a primeira editora antirracista do Espírito Santo, com obras que retratam à ancestralidade africana e indígena.

Lorraine Paixão, uma autora independente
Lorraine Paixão, autora independente Crédito: Ana Muniz

Autores e ilustradores independentes tiveram os holofotes na Feira Gráfica da Flinc, com estandes em que artistas e artesãos venderam suas obras. Lorraine Paixão, poeta e jornalista, levou exemplares de seu primeiro livro publicado em uma editora. “É um espaço único para compartilhar nosso trabalho e conhecer a produção de outros escritores do nosso estado”, relata.

Vera Viana, figura relevante para a cultura capixaba, foi homenageada

A primeira edição da Flinc presta homenagem à memória de Vera Viana, atriz e dramaturga que movimentou a cultura capixaba. Mineira que cresceu no Espírito Santo, a artista foi Secretária Municipal de Cultura de Vitória entre 1990 e 1992, assim como uma das incentivadoras da Lei Rubem Braga, lançada em 1991. É reconhecida pela versatilidade de sua obra, que inclui as peças “Mulher, mulher” e “As mortas de nossa ilha”.

Suely Bispo destaca o pioneirismo de Vera e a importância desse tributo. “É uma grande honra receber um convite para participar de uma festa que presta homenagem à Vera Viana, que é uma das pioneiras entre mulheres negras que escrevem”, exalta.

Evento fortaleceu relação entre capixabas e a literatura

Encerrando sua primeira edição, a Flinc deixou no público a sensação de descoberta e pertencimento. Para muitos, foi uma oportunidade inédita de se aproximar de autores admirados e conhecer novas vozes da literatura contemporânea. O psicólogo Yuri Ferreira, que participou do festival para assistir ao bate-papo com a psicanalista Vera Iaconelli, destacou o impacto da iniciativa. “Acredito que esse movimento proporciona uma abertura maior para literatura, escrita e apresentações”, disse.

A curadora do evento, Isabella Baltazar reconheceu o entusiasmo dos participantes. “Sinto-me pronta, animada, estimulada e, principalmente, encorajada por esse público maravilhoso. Tenho certeza de que nos encontraremos novamente em breve para muitas outras edições, tecendo juntos essa rede cultural que tanto nos fortalece", afirma.

* Este conteúdo é uma produção do 28º Curso de Residência em Jornalismo. A reportagem teve orientação e edição do editora Marcella Scaramella.

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