Publicado em 20 de novembro de 2023 às 11:38
Considerando os mais de 300 anos de regime escravocrata no Brasil, a miscigenação, por vezes imposta, não se limitou apenas às raças, mas também abrange culturas e, sobretudo, línguas. O português brasileiro, como resultado desse processo, incorpora nuances de diversos dialetos, incluindo aqueles de origem africana.>
"Essa bagagem linguística ajudou a construir a identidade brasileira, influenciando na criação e no uso de palavras relacionadas à culinária, religião, música, dança, flora e fauna. Além disso, a miscigenação entre os continentes enriqueceu a diversidade do Brasil, que é um país com uma língua única e vibrante", diz Sylvia Johnson, Diretora de Metodologia da plataforma de idiomas Preply.>
Em celebração ao Dia da Consciência Negra, elaboramos - em parceria com a Preply - uma lista que destaca diversas palavras de matriz africana presentes no vocabulário diário de muitos brasileiros. Essa compilação reconhece a riqueza cultural e a influência marcante da herança africana em nossa linguagem cotidiana.>
1. CAÇAMBA>
>
A palavra “Kisambu”, conhecida no Brasil como caçamba, tem origem na língua Quimbundo, que é originária da região Banta e dos atuais países Angola e República Democrática do Congo, na África Central, e quer dizer uma "cesta" ou um "cesto grande". Contudo, no Brasil, o temo é usado para denominar caixas para transporte de entulho e outros materiais diversos.>
2. DENGO>
O termo tem origem banta e da língua Quicongo - idioma africano utilizado pelo povo congo nas províncias de Cabinda, Uíge e Zaire, no norte de Angola. Além disso, é falado na região do Baixo Congo, na República Democrática do Congo, e em áreas adjacentes da República do Congo. É definido para se referir a um pedido de aconchego, um ato de afeto com aquele que gosta, assim como é utilizado no português.>
3. BANGUELA >
Benguela é uma das províncias de Angola que abriga uma variedade de grupos étnicos e tribos devido à diversidade cultural do país. No local, existia uma comunidade que tinha o costume de raspar ou arrancar os dentes superiores e então surgiu, possivelmente, esse termo.>
4. CAÇULA >
"Kazuli" é a palavra que deu origem ao termo utilizado no Brasil, com etimologia do Quimbundo, língua africana falada no noroeste de Angola, incluindo a capital Luanda. seu significado é o "último da família" ou "membro mais novo".>
5. FUBÁ>
O termo herdado dos povos africanos é de origem da língua banta Quimbundo e, no português, ela é traduzida como “farinha”, seja ela de milho ou arroz moído. Atualmente vários pratos são feitos com o grão.>
6. QUITUTE >
Com influência angolana, essa expressão tem origens na língua Quimbundo, sendo originalmente registrada e pronunciada como "Kitutu". Seu significado é variado, podendo se referir a uma pequena porção de comida antes da refeição ou estar associado à sensação de indigestão. No Brasil, o temo é usado para definir um petisco.>
7. MOLEQUE>
Esse termo usado no Brasil também é originário do dialeto Quimbundo e da palavra "Mu'leke", que significa "filho pequeno" ou "garoto" e é um modo de se chamar os filhos ou alguém de infantil.>
8. MUVUCA >
"Mvúka" é uma palavra de origem banta e da língua Quicongo, significando aglomeração de pessoas que, normalmente, fazem muito barulho.>
9. COCHILAR >
Em sua origem africana, a palavra é "Koxila", cuja tradução remete a dormir de maneira leve e tranquila por um curto período. Suas raízes estão potencialmente vinculadas às línguas Quicongo ou Quimbundo.>
10. RANZINZA >
O termo é utilizado para se referir a uma pessoa mal-humorada que resmunga muito, porém, em sua origem do Quicongo, a palavra "Nzizi" significa "mosca caseira". Pode-se fazer a relação com algo irritadiço, que incomoda, assim como um indivíduo ranzinza.>
Além das palavras de origem africana, a língua portuguesa também abriga diversas expressões e termos carregados de conotações racistas. Vai além das palavras e expressões racialmente explícitas; há aquelas que, infelizmente, persistem amplamente no uso cotidiano por diversos brasileiros. >
Tais expressões são frequentemente consideradas inofensivas, mas, de maneira igual ou até mais impactante, podem causar feridas, uma vez que nem sempre é imediatamente evidente que se trata de um ataque racista.>
A seguir, confira 12 expressões racistas que devem ser imediatamente retiradas do seu vocabulário:>
1. DENEGRIR: Este termo refere-se a "tornar algo negro", associando o negro a algo negativo, seja uma mentira ou um boato prejudicial sobre alguém, reforçando a falsa ideia de que ser negro é algo ruim. Pode ser substituído por: difamar, caluniar ou injuriar.>
2. DOMÉSTICA: Esta palavra teve origem durante o período escravocrata para referir-se às mulheres escravizadas que trabalhavam na Casa Grande. Atualmente, muitos usam para se referir a faxineiras e diaristas, ainda associando mulheres negras a animais, insinuando que estão "domesticadas". >
3. OVELHA NEGRA: Expressão utilizada para caracterizar alguém diferente das demais pessoas, que se destaca do "rebanho" e foge ao padrão imposto pela família e sociedade, reforçando a ideia negativa associada à cor preta. Pode ser substituída por: pessoa que se destaca da maioria.>
4. MENTIRA BRANCA E INVEJA BRANCA: Termos usados para descrever comportamentos negativos, como mentir ou sentir inveja, mas que, ao adicionar a palavra "branco", buscam conferir uma conotação positiva, como se não causasse nenhum "mal". >
5. DA COR DO PECADO: Expressão usada para referir-se a mulheres negras, reforçando a ideia de que seus corpos levam os homens ao pecado. Originada no período escravagista, associava a mulher negra a uma tentação enviada pelo diabo. Pode ser substituída por: mulher de beleza irresistível.>
6. MULATA: Do idioma espanhol, é o termo usado para a cria resultante do cruzamento entre uma égua e um jumento. Passou a ser utilizado para se referir às mulheres negras fruto de estupro durante o período colonial. >
7. PÉ NA SENZALA: Muito usado como justificativa para não ser racista, como o "até tenho amigos que são". Senzala é o local onde as pessoas escravizadas eram mantidas cativas. Ambas são racistas e usam a ideia de que o branco não pode ser racista por ter algum tipo de relação ou parentesco com pessoas negras.>
8. PRETO DE ALMA BRANCA: Usado para se referir a uma pessoa preta educada e bem-sucedida, enfatizando a ideia de que pretos são intelectualmente inferiores aos brancos e somente aqueles com "alma branca" podem obter êxito.>
9. NEGA MALUCA: Seja em uma fantasia ou no bolo de aniversário, esse termo é usado para reforçar o estereótipo da preta raivosa, que corrobora com a naturalização do silenciamento da mulher negra, a mantendo em seu lugar de "pertencimento" enquanto servente. Ele também ridiculariza características da mulher preta, como seu cabelo e seus lábios.>
10. CABELO DURO, MIOJO, SARARÁ E POM POM: Nomes depreciativos dados aos cabelos crespos e cacheados, reforçando estereótipos racistas e incentivando a padronização estética que desencoraja a aceitação dos cabelos naturais.>
11. SAMBA DO CRIOULO DOIDO: Era originalmente o nome de uma música, uma sátira como as escolas de samba eram censuradas durante a ditadura militar. O termo, porém, acabou sendo popularizado como forma de denominar algo bagunçado ou mal feito. A palavra coloca pessoas negras como violentas, descontroladas e inferiores aos brancos. Crioulo também era o nome dado para se referir aos filhos de escravizados.>
12. NÃO SOU SUAS NEGAS: Esta frase sugere que as mulheres negras pertencem à alguém, reforçando a ideia de propriedade e permitindo tratamentos inadequados, humilhações e violências.>
*Jessica Coutinho é aluna do 26º curso de residência em jornalismo da Rede Gazeta. Esse conteúdo foi supervisionado pelo repórter de HZ, Gustavo Cheluje.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta