Dia da Consciência Negra: 10 palavras de origem africana usadas no Brasil

A riqueza cultural é evidente no Brasil desde o idioma; confira  10 palavras de matriz africana que revelam a influência ancestral no português

O Português brasileiro foi construído a partir das miscigenação de diversos outros idiomas e dialetos

O Português brasileiro foi construído a partir das miscigenação de diversos outros idiomas e dialetos. Crédito: Freepik

Considerando os mais de 300 anos de regime escravocrata no Brasil, a miscigenação, por vezes imposta, não se limitou apenas às raças, mas também abrange culturas e, sobretudo, línguas. O português brasileiro, como resultado desse processo, incorpora nuances de diversos dialetos, incluindo aqueles de origem africana.

"Essa bagagem linguística ajudou a construir a identidade brasileira, influenciando na criação e no uso de palavras relacionadas à culinária, religião, música, dança, flora e fauna. Além disso, a miscigenação entre os continentes enriqueceu a diversidade do Brasil, que é um país com uma língua única e vibrante", diz Sylvia Johnson, Diretora de Metodologia da plataforma de idiomas Preply.

Em celebração ao Dia da Consciência Negra, elaboramos - em parceria com a Preply - uma lista que destaca diversas palavras de matriz africana presentes no vocabulário diário de muitos brasileiros. Essa compilação reconhece a riqueza cultural e a influência marcante da herança africana em nossa linguagem cotidiana.

CONFIRA LISTA COM 10 PALAVRAS DE MATRIZ AFRICANA USADAS PELOS BRASILEIROS

1. CAÇAMBA

A palavra “Kisambu”, conhecida no Brasil como caçamba, tem origem na língua Quimbundo, que é originária da região Banta e dos atuais países Angola e República Democrática do Congo, na África Central, e quer dizer uma "cesta" ou um "cesto grande". Contudo, no Brasil, o temo é usado para denominar caixas para transporte de entulho e outros materiais diversos.

2. DENGO

O termo tem origem banta e da língua Quicongo - idioma africano utilizado pelo povo congo nas províncias de Cabinda, Uíge e Zaire, no norte de Angola. Além disso, é falado na região do Baixo Congo, na República Democrática do Congo, e em áreas adjacentes da República do Congo. É definido para se referir a um pedido de aconchego, um ato de afeto com aquele que gosta, assim como é utilizado no português.

3. BANGUELA 

Benguela é uma das províncias de Angola que abriga uma variedade de grupos étnicos e tribos devido à diversidade cultural do país. No local, existia uma comunidade que tinha o costume de raspar ou arrancar os dentes superiores e então surgiu, possivelmente, esse termo.

4. CAÇULA 

"Kazuli" é a palavra que deu origem ao termo utilizado no Brasil, com etimologia do Quimbundo, língua africana falada no noroeste de Angola, incluindo a capital Luanda. seu significado é o "último da família" ou "membro mais novo".

5. FUBÁ

O termo herdado dos povos africanos é de origem da língua banta Quimbundo e, no português, ela é traduzida como “farinha”, seja ela de milho ou arroz moído. Atualmente vários pratos são feitos com o grão.

6. QUITUTE 

Com influência angolana, essa expressão tem origens na língua Quimbundo, sendo originalmente registrada e pronunciada como "Kitutu". Seu significado é variado, podendo se referir a uma pequena porção de comida antes da refeição ou estar associado à sensação de indigestão. No Brasil, o temo é usado para definir um petisco.

Petisco do bar Alambique, em Vila Velha

No Brasil, normalmente, o temo quitute é usado para definir um petisco. Crédito: Bruno Gonçalves

7. MOLEQUE

Esse termo usado no Brasil também é originário do dialeto Quimbundo e da palavra "Mu'leke", que significa "filho pequeno" ou "garoto" e é um modo de se chamar os filhos ou alguém de infantil.

8. MUVUCA 

"Mvúka" é uma palavra de origem banta e da língua Quicongo, significando aglomeração de pessoas que, normalmente, fazem muito barulho.

9. COCHILAR 

Em sua origem africana, a palavra é "Koxila", cuja tradução remete a dormir de maneira leve e tranquila por um curto período. Suas raízes estão potencialmente vinculadas às línguas Quicongo ou Quimbundo.

10. RANZINZA 

O termo é utilizado para se referir a uma pessoa mal-humorada que resmunga muito, porém, em sua origem do Quicongo, a palavra "Nzizi" significa "mosca caseira". Pode-se fazer a relação com algo irritadiço, que incomoda, assim como um indivíduo ranzinza.

PALAVRAS RACISTAS

Além das palavras de origem africana, a língua portuguesa também abriga diversas expressões e termos carregados de conotações racistas. Vai além das palavras e expressões racialmente explícitas; há aquelas que, infelizmente, persistem amplamente no uso cotidiano por diversos brasileiros.

Tais expressões são frequentemente consideradas inofensivas, mas, de maneira igual ou até mais impactante, podem causar feridas, uma vez que nem sempre é imediatamente evidente que se trata de um ataque racista.

A seguir, confira 12 expressões racistas que devem ser imediatamente retiradas do seu vocabulário:

1. DENEGRIR: Este termo refere-se a "tornar algo negro", associando o negro a algo negativo, seja uma mentira ou um boato prejudicial sobre alguém, reforçando a falsa ideia de que ser negro é algo ruim. Pode ser substituído por: difamar, caluniar ou injuriar.

2. DOMÉSTICA: Esta palavra teve origem durante o período escravocrata para referir-se às mulheres escravizadas que trabalhavam na Casa Grande. Atualmente, muitos usam para se referir a faxineiras e diaristas, ainda associando mulheres negras a animais, insinuando que estão "domesticadas".

3. OVELHA NEGRA: Expressão utilizada para caracterizar alguém diferente das demais pessoas, que se destaca do "rebanho" e foge ao padrão imposto pela família e sociedade, reforçando a ideia negativa associada à cor preta. Pode ser substituída por: pessoa que se destaca da maioria.

4. MENTIRA BRANCA E INVEJA BRANCA: Termos usados para descrever comportamentos negativos, como mentir ou sentir inveja, mas que, ao adicionar a palavra "branco", buscam conferir uma conotação positiva, como se não causasse nenhum "mal". 

5. DA COR DO PECADO: Expressão usada para referir-se a mulheres negras, reforçando a ideia de que seus corpos levam os homens ao pecado. Originada no período escravagista, associava a mulher negra a uma tentação enviada pelo diabo. Pode ser substituída por: mulher de beleza irresistível.

6. MULATA: Do idioma espanhol, é o termo usado para a cria resultante do cruzamento entre uma égua e um jumento. Passou a ser utilizado para se referir às mulheres negras fruto de estupro durante o período colonial. 

7. PÉ NA SENZALA: Muito usado como justificativa para não ser racista, como o "até tenho amigos que são". Senzala é o local onde as pessoas escravizadas eram mantidas cativas. Ambas são racistas e usam a ideia de que o branco não pode ser racista por ter algum tipo de relação ou parentesco com pessoas negras.

8. PRETO DE ALMA BRANCA: Usado para se referir a uma pessoa preta educada e bem-sucedida, enfatizando a ideia de que pretos são intelectualmente inferiores aos brancos e somente aqueles com "alma branca" podem obter êxito.

9. NEGA MALUCA: Seja em uma fantasia ou no bolo de aniversário, esse termo é usado para reforçar o estereótipo da preta raivosa, que corrobora com a naturalização do silenciamento da mulher negra, a mantendo em seu lugar de "pertencimento" enquanto servente. Ele também ridiculariza características da mulher preta, como seu cabelo e seus lábios.

10. CABELO DURO, MIOJO, SARARÁ E POM POM: Nomes depreciativos dados aos cabelos crespos e cacheados, reforçando estereótipos racistas e incentivando a padronização estética que desencoraja a aceitação dos cabelos naturais.

11. SAMBA DO CRIOULO DOIDO: Era originalmente o nome de uma música, uma sátira como as escolas de samba eram censuradas durante a ditadura militar. O termo, porém, acabou sendo popularizado como forma de denominar algo bagunçado ou mal feito. A palavra coloca pessoas negras como violentas, descontroladas e inferiores aos brancos. Crioulo também era o nome dado para se referir aos filhos de escravizados.

12. NÃO SOU SUAS NEGAS: Esta frase sugere que as mulheres negras pertencem à alguém, reforçando a ideia de propriedade e permitindo tratamentos inadequados, humilhações e violências.

*Jessica Coutinho é aluna do 26º curso de residência em jornalismo da Rede Gazeta. Esse conteúdo foi supervisionado pelo repórter de HZ, Gustavo Cheluje.

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