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Publicado em 30 de setembro de 2025 às 15:06
O colatinense Ygor Gambarini, de 25 anos, encontrou uma forma inusitada de unir suas duas grandes paixões: o samba e o idioma francês. Criador do projeto TraduSamba, ele se dedica a traduzir sambas-enredo para o francês, construindo um glossário cultural e explicando expressões que não têm tradução exata em outros idiomas. Mais que um exercício linguístico, seu trabalho é um ato de resistência cultural. >
“Minha missão é expandir e atrair os olhos do mundo para nossa cultura e nossas raízes”, afirma Ygor, estudante de Letras.>
O amor de Ygor pelo carnaval nasceu desde pequeno, assistindo aos desfiles de escolas de samba pela TV, ao lado da mãe. “Era nosso ritual sagrado. Eu me fascinava pelas alegorias, fantasias e pela batucada que mandava a tristeza embora”, relembra. >
Hoje, mesmo sem nunca ter pisado na Marquês de Sapucaí, ele acompanha os sambas-enredo diariamente e sonha com o dia em que poderá viver a emoção de um desfile ao vivo. >
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A relação com o francês começou em 2014, quando ouviu uma música da cantora francesa Carla Bruni em uma novela. “Foi uma conexão instantânea com a sonoridade do idioma”, conta. Autodidata, Ygor aprendeu o idioma por meio de aplicativos, vídeos e conversas online com nativos. >
O TraduSamba nasceu anos depois, quando ele já cursava Letras e decidiu transformar sua paixão em um projeto acadêmico e cultural. O trabalho inclusive inspirou o tema de seu TCC: “Um estudo sobre a intraduzibilidade e a resistência cultural na tradução de sambas-enredo”.>
Traduzir um samba não é apenas verter versos para outra língua. Muitas expressões carregam significados profundos que não cabem em tradução literal. “Traduzir ‘axé’ como ‘énergie’ (energia), por exemplo, seria reduzir um conceito sagrado. Prefiro manter a palavra original e explicar seu significado em um glossário em francês”, explica. >
Entre os maiores desafios, Ygor cita o samba-enredo “Mangangá” (Império Serrano, 2022), repleto de referências religiosas e culturais. “Foi como decifrar um código cultural. Precisei ser historiador, sociólogo, teólogo e poeta ao mesmo tempo. Mas foi também minha obra-prima”, afirma.>
No Instagram, onde o projeto ganhou força, Ygor organiza o feed como se fosse um desfile. “Os posts fixados são a comissão de frente. Depois, cada bloco de três ou seis publicações forma uma ala, com cores e narrativas próprias”, detalha. O resultado é uma verdadeira avenida virtual, que atrai falantes de francês curiosos, sambistas e apaixonados pela cultura brasileira. >
“Tenho muito respeito pelo samba e pelo francês. Se eu conseguir emocionar alguém em outro continente com a poesia de um samba-enredo, vou sentir que cumpri minha missão”, diz o capixaba, que sonha em ver seu trabalho ganhar espaço acadêmico e cultural também fora do Brasil.>
Enquanto o dia de pisar na Sapucaí não chega, Ygor segue transformando seu feed em passarela. Atualmente, o TraduSamba está disponível no Instagram, onde Ygor publica as traduções acompanhadas de glossários e curiosidades sobre cada samba-enredo. >
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