Busão das Artes apresenta atividades lúdicas e científicas em Vitória

Pela primeira vez no ES, ônibus terá instalações artísticas e interatividade para que os visitantes tenham uma experiência imersiva no mundo da ciência e da arte

Busão da Vale ficará no Parque Pedra da Cebola entre 6 e 31 de março

Busão da Vale ficará no Parque Pedra da Cebola entre 6 e 31 de março. Crédito: Dani Gurgel

Uma experiência interativa e imersiva no mundo da ciência e da arte, mergulhando em um universo de elementos fundamentais para a vida humana. Essa é a proposta do "Busão das Artes", que pela primeira vez desembarca no Espírito Santo através do Museu Vale.

Entre os dias 6 e 31 de março, o veículo adaptado vai ficar estacionado no Parque Pedra da Cebola, em Vitória, com atividades gratuitas para o público e para escolas com visita agendada.

A frase do pintor suíço Paul Klee, que definiu arte como uma forma de "tornar visível o invisível”, ganha outro sentido no Busão das Artes. Com conteúdo leve e bem-humorado, as experiências levam o público a um passeio por duas vertentes: uma ambiental, que trata das bactérias e seu papel no ecossistema, e outra científica, abordando temas relacionados ao organismo humano.

A ideia é ampliar a compreensão do público sobre o universo, o corpo humano, as bactérias e a relação dos indivíduos com o meio ambiente. Tudo isso com instalações artísticas e interatividade, mostrando como as manifestações da vida biológica se relacionam com tudo que há no planeta. Quem guia o visitante por esse universo tão rico e pouco explorado está invisível aos olhos: fungos, bactérias e vírus.

“A atuação educativa do Museu Vale em seu momento Extramuros, visa continuar o seu legado de promover cultura, educação e formação, sempre próximo às escolas, articulando arte, ciência e experiências sensoriais, de forma a expandir os conceitos de ensino e aprendizagem”, afirma Claudia Afonso, diretora do Museu Vale.

Novas descobertas

Quem for ao Busão vai descobrir que há mais de um quatrilhão de bactérias na Terra, dos quais 100 bilhões habitam o corpo humano, e 99,99% ainda sequer foram descobertas. Todos os seres vivos estão profundamente interligados, e suas existências se definem pelas linhas de fronteira e de intercâmbio entre cada ser. “A luta ancestral entre fungos, bactérias e vírus, que estão relacionados ao início e ao fim da vida. E é esse conceito que o Busão pretende divulgar. Não nos damos conta de que temos mais bactérias no organismo do que há estrelas no céu”, comenta o físico Luiz Alberto Rezende de Oliveira, um dos idealizadores do Busão e ex-curador do Museu do Amanhã, do Rio de Janeiro.

Com obras dos artistas Jaider Esbell, Piero Manzoni, Ricardo Carvão, Ricardo Siri, Suzana Queiroga, Vik Muniz, Vivian Caccuri e Walmor Corrêa, o projeto iniciou em 2021, no Rio de Janeiro, onde o Busão das Artes realizou cinco paradas até 2022 (Praça Santos Dumont, Parque Madureira, Praça Mauá, Cidade das Artes e Bangu Shopping).

Marcello Dantas, curador e criador interdisciplinar do projeto, destaca que, em razão da pandemia da Covid-19, as pessoas acabaram aprendendo mais sobre uma série de processos não perceptíveis a olho nu, mas que mudam o curso da história. Essa dimensão microbial, seja do fungo, da bactéria ou do vírus, está ativa e tem muito a nos dizer. "É preciso inocular na cabeça das pessoas a consciência sobre essas dinâmicas e usar a arte como plataforma para entender as forças que estão em constante relação”, afirma Dantas.

Ao falar de fungos, bactérias e vírus, o Busão traz a diversidade para o centro da discussão, partindo do próprio conceito da existência. Oliveira lembra que, até 1995, os biólogos pensavam que uma floresta era uma coleção de árvores e que os indivíduos árvores se definiam pela sua singularidade, independente de tudo que os rodeava.

Hoje, a ciência assegura que há uma rede de fungos subterrânea que conecta os vegetais e transforma essa coleção em uma sociedade, de tal maneira, que as árvores mais velhas cuidam das mais novas e as saudáveis auxiliam as doentes. E isso vale para qualquer ser vivo, de acordo com o físico.

“O Busão propõe uma experiência sensorial e cognitiva para levar informação adiante, mostrando como a diversidade integra todos os grupos. Nós tanto pertencemos a um ecossistema exterior, que fora da gente nos nutre e nos sustenta, assim como cada um de nós é em si um ecossistema. O Busão busca apresentar um conceito original do século XXI: a diversidade integra unidades. Não podemos falar apenas em seres diversos. Cada um desses seres é, em si, uma fonte de diversidade. O que estamos levando ao Espírito Santo é, para nós, uma missão de responsabilidade social”, completa Marcello Dantas.

Conheça mais sobre as experiências do Busão das Artes

Quem for ao Busão poderá conferir, por exemplo, fotos de umbigos feitas pelo artista Vik Muniz, mostrando que eles são únicos para cada indivíduo, e que assim tem um forte caráter identitário. Já o artista Jaider Esbell (1979-2021), indígena da etnia Macuxi, apresenta a obra “A vida vem da luz invisível — Os povos que moram no nosso corpo”. Produzido especialmente para o Busão, com 120x140 cm, o trabalho faz alusão à constante metamorfose que é a vida. “É um trabalho que faz pensar que, para além da nossa vida e do nosso pensamento, há uma infinidade de outras formas de vidas tão complexas e interativas no mundo, sem que nos demos conta”, refletiu Esbell em depoimento feito por ocasião da estreia no Rio de Janeiro.

Já a artista Suzana Queiroga propõe um mergulho no habitat das bactérias, com uma instalação que permitirá ao visitante interagir com uma simulação do ambiente desses seres microscópicos. Com recortes em placas de policarbonato alveolar em cores translúcidas, ela construiu uma obra que terá cerca de 270x189x210m. Suzana mesclou o conceito das placas de Petri — usadas para o cultivo e análise de microorganismos em laboratório — com a proposta de sua série “O mundo segue indiferente a nós”.

Através da superposição de layers de papéis coloridos, a artista visual carioca trabalha a ideia de redes diversas, desde os neurônios até as tramas das cidades, os fluxos dos líquidos, a diversidade dos desenhos moleculares, a microbiologia e o tecido cósmico. "Meu desejo é tornar tridimensional o universo da microbiologia, especificamente o das bactérias, e trazer para a escala urbana e para a experiência do olhar. Quero trabalhar a ideia de sermos ecossistemas ambulantes em que convivem diversos reinos em harmonia, guerra e/ou colaboração", explica a artista.

No Busão, também será possível saber quanto pesam os micróbios existentes no organismo de um indivíduo, através de uma balança que calcula o peso não-humano. Sem falar no trabalho do artista Walmor Correa, que envolve de forma bem-humorada sereias e pikaias. Pikaias? Sim uma espécie de animal marinho que viveu há cerca de 500 milhões de anos, no período Cambriano.

Deste curioso cruzamento entre lenda e ciência, surge “O beijo da pikaia”. "Idealizei o encontro, em alto mar, entre duas pikaias; imaginei o contato das antenas e das bocas; imaginei até mesmo um beijo ou, numa abordagem menos romântica, a primeira troca de bactérias. É interessante pensar que, em dez segundos de um beijo, permutamos cerca de 80 milhões de bactérias. E, de acordo com especialistas, isso quase sempre é bom, porque as bactérias da chamada microbiota garantem um funcionamento melhor do organismo", conta Corrêa.

Com tantos conceitos novos em discussão, é possível que o Busão instigue mais dúvidas do que certezas. Pensando nisso, na parte externa, haverá recipientes com perguntas, para que os visitantes possam refletir sobre o que viram e sobre a própria condição humana: “Só somos humanos, porque somos inumanos”, provoca Luiz Alberto.

Para os criadores do Busão, a ideia de circular por praças da cidade traz novos elementos de análise. Eles consideram estes espaços públicos um local de conversa em que, pela diversidade de seus frequentadores, há uma intensa troca bacteriológica. “Esta é a dimensão ética e política do Busão. Ao não colocar fronteiras entre a ciência e a arte, e criar diálogo com as pessoas, estamos também propondo uma revisão do próprio sentido de cidadania”, finaliza Oliveira.

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