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Publicado em 5 de novembro de 2025 às 11:50
Quando o capixaba Manoel Mattos, de 23 anos, subiu ao palco do The Voice Portugal 2025 para cantar “Glimpse of Us”, de Joji, não imaginava que sua apresentação faria não só a técnica Sónia Tavares - e boa parte dos jurados - chorar, mas todos que puderam conhecer parte de sua história. E olha... bota superação nisso.>
Sim, a cadeira virou, a emoção tomou conta, e do outro lado do oceano, a família de Manoel assistia tudo em vídeo, em silêncio, orgulhosa. O que o público português viu foi o talento de um jovem cantor brasileiro. Mas o que Manoel trazia dentro de si era muito mais: uma história de dor, fé e recomeço.>
Nascido e criado em Barramares, Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, Manoel teve uma infância marcada por perdas e dificuldades. “Perdi uma irmã por causa do tráfico, outra quando tinha só seis meses de vida. Meus pais se separaram quando eu tinha uns dez anos, e foi um período muito complicado. Passamos muita dificuldade financeira”, lembra.>
Entre idas e vindas, morou com o pai, depois com a mãe, e chegou a viver na roça, em Santa Leopoldina. “Passei fome, morei de favor na casa de uma amiga da igreja. Minha única refeição, muitas vezes, era na escola. Os professores foram incríveis comigo, entenderam minha realidade”. >
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Foi também na escola que Manoel descobriu que a música e um violão mudaria seu destino. Segundo o capixaba, o instrumento não apenas foi seu melhor amigo em diversos momentos, mas também a chave para sair de uma depressão.>
Aos 13 anos, Manoel conseguiu seu primeiro emprego em uma padaria, ajudando no sustento da família em meio às dificuldades. Na juventude, passou a dar aulas de violão, unindo o sonho de viver da música com a necessidade de garantir uma renda extra.>
O professor de história da escola Mário Gurgel, Victor Brito Pessotti, já notava o dom especial de Manoel. "Não demorou muito para todos vermos como o Manoel é talentoso, sempre voluntarioso, alegre, simpático e dedicado; era comum entrar em sala e o ver com o violão em mãos. Em todos os eventos culturais e oficiais da escola ele se voluntariava para tocar e era sempre uma festa. O Manoel sempre brilhou, era fácil ver isso".>
Em meio às dificuldades, Manoel sempre foi um aluno dedicado. Estudou na Escola Estadual Mário Gurgel e chegou a ser aprovado em primeiro lugar em Engenharia Civil na Ufes. E mesmo com o destino traçado, percebeu que ainda não era o que ele amava fazer na vida. Mais uma vez a música falou mais alto.>
Decidido a seguir outro caminho, trancou o curso e começou a trabalhar como garçom em eventos no Espírito Santo. Desde aquela época, já namorava Ketuly Oliveira de Andrade, sua atual noiva e parceira de todas as viradas de vida.>
“A gente se conheceu ainda no Ensino Médio e depois que saímos da escola, começamos a juntar dinheiro para tentar a vida em Portugal. Ela trabalhava comigo no restaurante, e fomos com a cara e a coragem”, conta Manoel.>
Morando há pouco mais de dois anos em Torres Vedras, distrito de Lisboa, Manoel passou a viver exclusivamente de música, tocando em praças públicas, bares e casamentos. Foi então que, em um belo dia, Ketuly incentivou o noivo a se inscrever no The Voice Portugal.>
“Eu já queria participar desde o Brasil, mas não tinha tempo pra focar nisso. Aqui consegui viver só de música. Minha noiva insistiu para eu me inscrever, e um amigo também estava tentando. Aí resolvi mandar o vídeo.”>
Depois de passar pelos testes e ter aulas com um vocal coach, Manoel foi confirmado no programa. Mas o que parecia ter dado tudo certo virou mais uma provação: uma gripe inesperada às vésperas do programa que quase comprometeu sua voz.>
O que ele não sabia é que a produção havia combinado com sua família, em terras capixabas, para assistir à apresentação de forma online “Achei que eles não sabiam. Quando descobri, chorei muito. Meu irmão ficou tão emocionado que até perdeu o emprego para poder me ver”.>
Hoje Manoel encara a visibilidade do programa com gratidão e serenidade. “Eu estou mais tranquilo agora. Muita gente me mandando mensagem, minha família muito feliz. O sofrimento da minha infância passo. Hoje eu me emociono por orgulho”.>
O capixaba que um dia deu aulas sem violão, passou fome e enfrentou o luto hoje representa o Espírito Santo em um dos maiores palcos musicais de Portugal. E se tivesse que resumir a própria história em uma frase, ele não hesita:>
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