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Redutos bolsonaristas na Grande Vitória registram maior contágio por Covid-19

Redutos bolsonaristas na Grande Vitória registram maior contágio por Covid-19

Bairros onde Bolsonaro foi mais votado em 2018 também registram mais casos de coronavírus em cidades da Grande Vitória. Para especialistas, discurso do presidente minimizando medidas de isolamento tem maior adesão nestes locais

Publicado em 11 de junho de 2020 às 15:44

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Manifestação pró-governo Bolsonaro em 2019, na Terceira Ponte
Manifestação pró-governo Bolsonaro em 2019: bairros com mais eleitores do presidente tem registrado mais casos de coronavírus. (Marcelo Prest)

Os bairros da Grande Vitória onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve maior percentual de votos nas eleições de 2018 são, também, os locais onde foram registrados mais casos de Covid-19. Para especialistas, o discurso e as ações do presidente, ao minimizar medidas de isolamento social e negar a gravidade do vírus, tem maior aceitação onde ele teve mais eleitores, o que pode explicar o número mais alto de contaminações.

Dos 20 bairros onde há mais casos confirmados, segundo os dados divulgados pela Secretaria de Saúde na última segunda-feira (8), em apenas dois deles – Jardim Carapina e Vila Nova de Colares, na Serra – Bolsonaro não foi o mais votado no segundo turno de 2018.

Em Vila Velha, a Praia da Costa, considerado o primeiro epicentro da doença, Bolsonaro recebeu 80% dos votos válidos. Atualmente, o bairro é o segundo com mais casos do novo coronavírus do Estado, com 425 infectados. O primeiro lugar no ranking de casos é Jardim Camburi, em Vitória, com 459 pessoas que testaram positivo para a doença. Por lá, Jair Bolsonaro foi a escolha de 68% dos eleitores.

Do mesmo modo, nos 20 bairros onde houve maior rejeição a Bolsonaro nas eleições, o número de casos, nominal e proporcionalmente, também foi menor. Em Tucum, em Cariacica, onde ele teve apenas 11% dos votos no segundo turno, foram registrados 30 infectados pela Covid-19, o que representa 0,8% da população do bairro no último censo demográfico. Na Praia da Costa, o percentual de moradores contaminados é de 1,18%, taxa que chega a 1,7% na Praia de Itaparica, onde o presidente teve 78% dos votos.

Para o cientista político Fernando Pignaton há uma correlação estatística evidente entre o apoio a Bolsonaro e a incidência de casos de coronavírus. Ele explica que, mesmo que este percentual de apoio durante as eleições possa ter oscilado, ainda mostra que o presidente possuía maior prestígio nessas regiões e que seu discurso "negacionista" em relação aos efeitos da pandemia tende a ter maior adesão.

"Ele tem contestado o isolamento social, mesmo agora com os números de casos cada vez maiores. É claro que isso influencia e provoca um relaxamento nas pessoas. Este levantamento mostra o risco que um discurso inadequado pode provocar na segurança sanitária do país", afirma.

No último final de semana, as praias da Grande Vitória estavam cheias novamente, mesmo após o Estado ter batido recordes de mortes e casos na sexta-feira (5), com 1.586 novos infectados e 53 óbitos em 24 horas. Cientistas apontam que a taxa de isolamento ideal, para diminuir a curva de contágio, deveria atingir 70% da população. A meta de isolamento do governo estadual é de 55%, mesmo assim, a média da última semana ficou em 48%.

ADESÃO AO BOLSONARISMO NÃO É A MESMA DE 2018

O cientista político João Gualberto Vasconcellos afirma que, de uma maneira geral, a massa de apoio ao presidente Jair Bolsonaro já não é a mesma que o elegeu em 2018. Além disso, ele ressalta que, apesar da tendência dos apoiadores do presidente repetirem o seu comportamento em relação ao isolamento social, nem todo eleitor bolsonarista segue seu pensamento sobre a pandemia.

"Não é um casamento mecânico, em que a pessoa apoia o presidente, logo vai descumprir o isolamento, mas é evidente que nos bairros da Grande Vitória mais ligados à diretriz do presidente, que não é o isolamento, é de se imaginar que o número de casos fosse maior. No entanto, muitos que votaram nele mais como alternativa ao PT do que por se identificar com suas propostas estão adotando as medidas", explica.

Para Pignaton, a forma como o vírus tem se espalhado com mais força onde o discurso de Bolsonaro tem maior adesão demonstra a urgência para que o presidente mude sua postura.

"É preciso estabelecer um comando sério no Ministério da Saúde, que seja técnico, com diretrizes científicas e que o presidente dê condições a ele de combater efetivamente a pandemia. Não temos ainda uma vacina, é preciso que o presidente tenha um comportamento mais colaborativo, se não continuaremos a ver os casos aumentando", analisa.

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