Publicado em 11 de junho de 2020 às 15:44
Os bairros da Grande Vitória onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve maior percentual de votos nas eleições de 2018 são, também, os locais onde foram registrados mais casos de Covid-19. Para especialistas, o discurso e as ações do presidente, ao minimizar medidas de isolamento social e negar a gravidade do vírus, tem maior aceitação onde ele teve mais eleitores, o que pode explicar o número mais alto de contaminações. >
Dos 20 bairros onde há mais casos confirmados, segundo os dados divulgados pela Secretaria de Saúde na última segunda-feira (8), em apenas dois deles Jardim Carapina e Vila Nova de Colares, na Serra Bolsonaro não foi o mais votado no segundo turno de 2018.>
Em Vila Velha, a Praia da Costa, considerado o primeiro epicentro da doença, Bolsonaro recebeu 80% dos votos válidos. Atualmente, o bairro é o segundo com mais casos do novo coronavírus do Estado, com 425 infectados. O primeiro lugar no ranking de casos é Jardim Camburi, em Vitória, com 459 pessoas que testaram positivo para a doença. Por lá, Jair Bolsonaro foi a escolha de 68% dos eleitores.>
Do mesmo modo, nos 20 bairros onde houve maior rejeição a Bolsonaro nas eleições, o número de casos, nominal e proporcionalmente, também foi menor. Em Tucum, em Cariacica, onde ele teve apenas 11% dos votos no segundo turno, foram registrados 30 infectados pela Covid-19, o que representa 0,8% da população do bairro no último censo demográfico. Na Praia da Costa, o percentual de moradores contaminados é de 1,18%, taxa que chega a 1,7% na Praia de Itaparica, onde o presidente teve 78% dos votos.>
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Para o cientista político Fernando Pignaton há uma correlação estatística evidente entre o apoio a Bolsonaro e a incidência de casos de coronavírus. Ele explica que, mesmo que este percentual de apoio durante as eleições possa ter oscilado, ainda mostra que o presidente possuía maior prestígio nessas regiões e que seu discurso "negacionista" em relação aos efeitos da pandemia tende a ter maior adesão.>
"Ele tem contestado o isolamento social, mesmo agora com os números de casos cada vez maiores. É claro que isso influencia e provoca um relaxamento nas pessoas. Este levantamento mostra o risco que um discurso inadequado pode provocar na segurança sanitária do país", afirma.>
No último final de semana, as praias da Grande Vitória estavam cheias novamente, mesmo após o Estado ter batido recordes de mortes e casos na sexta-feira (5), com 1.586 novos infectados e 53 óbitos em 24 horas. Cientistas apontam que a taxa de isolamento ideal, para diminuir a curva de contágio, deveria atingir 70% da população. A meta de isolamento do governo estadual é de 55%, mesmo assim, a média da última semana ficou em 48%. >
O cientista político João Gualberto Vasconcellos afirma que, de uma maneira geral, a massa de apoio ao presidente Jair Bolsonaro já não é a mesma que o elegeu em 2018. Além disso, ele ressalta que, apesar da tendência dos apoiadores do presidente repetirem o seu comportamento em relação ao isolamento social, nem todo eleitor bolsonarista segue seu pensamento sobre a pandemia.>
"Não é um casamento mecânico, em que a pessoa apoia o presidente, logo vai descumprir o isolamento, mas é evidente que nos bairros da Grande Vitória mais ligados à diretriz do presidente, que não é o isolamento, é de se imaginar que o número de casos fosse maior. No entanto, muitos que votaram nele mais como alternativa ao PT do que por se identificar com suas propostas estão adotando as medidas", explica.>
Para Pignaton, a forma como o vírus tem se espalhado com mais força onde o discurso de Bolsonaro tem maior adesão demonstra a urgência para que o presidente mude sua postura.>
"É preciso estabelecer um comando sério no Ministério da Saúde, que seja técnico, com diretrizes científicas e que o presidente dê condições a ele de combater efetivamente a pandemia. Não temos ainda uma vacina, é preciso que o presidente tenha um comportamento mais colaborativo, se não continuaremos a ver os casos aumentando", analisa.>
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