> >
Paneleiros contra Bolsonaro no ES: quem são e o que pensam

Paneleiros contra Bolsonaro no ES: quem são e o que pensam

Panelaços contra o presidente ocorrem em bairros que tiveram recorde de votos para Bolsonaro em Vitória, em regiões onde as panelas foram ouvidas em 2015 e ajudaram a levar ao impeachment de Dilma Rousseff

Publicado em 12 de abril de 2020 às 16:09

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Panelaço
Moradores de Vitória contam o que os levaram a protestar de suas varandas contra ou a favor do presidente. (Reprodução)

O estridente som metálico que ecoava pelos principais bairros do país e que marcou o início do desgaste político da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2015 – culminando no impeachment da petista em 2016 –, voltou a ser ouvido no Espírito Santo. Desta vez, o ritmo das panelas tem como alvo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ora a favor, mas na maioria das vezes contra o chefe do Executivo.

Desde a segunda metade de março deste ano, quando as pessoas começaram a se isolar em casa para evitar a disseminação do coronavírus, a cada pronunciamento de Bolsonaro os paneleiros voltam às janelas e varandas para protestar. Além das batidas, também são ouvidos gritos de "Fora, Bolsonaro" e "irresponsável" – entre os que criticam o presidente – ou "mito" e "chora, petista" para os que o apoiam. A música "Admirável gado novo", de Zé Ramalho, também virou um hino do momento, já que muitos críticos do presidente acusam bolsonaristas de segui-lo de maneira cega, como um gado segue ao boiadeiro.

Data: 07/02/2020 - ES - Vitória - Lua cheia vista de Caratoíra, em Vitória - Editoria: Cidades - Foto: Fernando Madeira - GZ
Caratoíra: bairro foi um dos quatro de Vitória onde Bolsonaro não foi o mais votado em 2018. (Fernando Madeira)

PANELAÇO NA PERIFERIA

Em Caratoíra, bairro de classe média baixa de Vitória, os panelaços tocaram pela primeira vez em 2020, segundo a auxiliar administrativo Denise Santiago. Sem muitos prédios na região, onde a maior parte dos imóveis são casas, ela acredita ser mais difícil de um movimento como esse ganhar adesão suficiente.

"Foi a primeira vez que vi por aqui, são muitos morros, muitas casas distantes, mas deu para ouvir. O Morro do Quadro, também, foi só panelaço contra", diz. Em 2018, Caratoíra teve 491 votos para Fernando Haddad (PT), contra 309 para Bolsonaro. Foi um dos quatro bairros onde o atual presidente perdeu em Vitória.

O isolamento trouxe prejuízos para Denise, que está afastada do trabalho por conta de uma paralisia facial. Ela estava com uma perícia marcada no INSS para tentar conseguir o auxílio-doença, mas, com as agências fechadas, a auxiliar administrativo tem encontrado dificuldades. Eleitora de Ciro Gomes (PDT) em 2018, Denise disse ter votado em Fernando Haddad (PT) por falta de opção e não gosta de ser chamada de petista, quando critica o atual presidente.

Aspas de citação

As pessoas confundem antibolsonarismo com petismo. O que eu luto é por justiça social. Não entro nessa de ficar gritando mito ou Lula. O que eu vejo do Bolsonaro é que ele está se mostrando como sempre se mostrou: despreparado

Denise Santiago
Auxiliar administrativo, moradora de Caratoíra
Aspas de citação
Pessoas a favor e contra Bolsonaro fizeram panelaço nesta terça-feira (24)
Jardim da Penha: recordista de votos para Bolsonaro em 2018 e um dos bairros onde os panelaços têm mais força na Capital. (Internauta)

BAIRROS COM RECORDE DE VOTOS A BOLSONARO REGISTRAM PANELAÇOS CONTRÁRIOS

Jardim Camburi e Jardim da Penha, os bairros mais populosos da Capital, foram as regiões onde Jair Bolsonaro mais teve votos. Foram, respectivamente, 17.775 e 11.805 votos para o atual presidente em 2018. Em 2015, durante o mandato de Dilma, os bairros também concentraram os panelaços contra a petista, como lembra a professora Fátima Burzlaff, moradora de Jardim da Penha.

Aspas de citação

Foi uma mudança interessante. Nossos vizinhos sempre faziam panelaços contra a Dilma e agora a gente vê essas mesmas casas protestando contra Bolsonaro

Fátima Burzlaff
Professora, moradora de Jardim da Penha
Aspas de citação

Apesar de gostar do perfil de Haddad, em 2018 ela conta ter votado em Ciro Gomes no primeiro turno, em uma estratégia para derrotar Bolsonaro. "Acreditava que no segundo turno, Ciro poderia ter mais chances, por conta do antipetismo", explica.

Trabalhando em home office e com as filhas universitárias sem aulas, Fátima critica o presidente por não seguir as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e por insuflar que as pessoas não respeitem o isolamento. "A postura dele deveria ser de acalmar as pessoas, mas ele tem levado elas a acreditar que não existe essa pandemia", afirma.

De Jardim Camburi, o jornalista Luiz Otávio de Carvalho e sua família bateram panelas contra o presidente e observaram, minutos depois, apoiadores de Bolsonaro também fazerem o seu panelaço. "Foi bem menor, não teve como comparar. E foi em único dia. Nos outros pronunciamentos, foi só panelada contra", conta.

No grupo de seu condomínio no WhatsApp, Luiz Otávio diz que a grande maioria tem posição contrária à do presidente. "Há alguns que votaram a favor, mas que estão decepcionados com o governo." Mesmo sendo crítico a Bolsonaro, ele acredita que não é momento para se instaurar um impeachment contra ele, como ocorreu após os panelaços contra Dilma Rousseff. Defende, porém, que o processo seja iniciado ao fim da pandemia.

Aspas de citação

A forma como ele agiu nesta pandemia é crime contra a humanidade, como está sendo discutido internacionalmente. Crimes de responsabilidade não faltam para tocar o impeachment, mas não agora

Luiz Otávio de Carvalho
Jornalista, morador de Jardim Camburi
Aspas de citação

PARA BOLSONARISTAS, CRÍTICOS USAM PANDEMIA COMO ARMA POLÍTICA

O farmacêutico Sandro Souto, morador de Maruípe, não ouviu os panelaços, nem contra, nem a favor, mas acredita que adversários políticos do presidente tem esticado a corda para pressioná-lo em meio a pandemia. Ele defende o isolamento, mas com menos restrições, com uma parte maior das lojas funcionando para evitar um impacto financeiro ainda maior.

Em meio ao desconforto entre o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o presidente, ele defende o trabalho do ministério e diz que as divergências são normais, mas que forças políticas antagônicas tentam usar isso para derrubá-lo.

Aspas de citação

Como profissional da Saúde e com a atuação que tenho em hospitais, digo que esta é a equipe mais técnica que o Ministério da Saúde já teve. Estão sendo ágeis nesta crise. A postura ideal a se ter neste momento é um meio termo entre Mandetta e Bolsonaro. Ter cuidado, mas não parar 100%

Sandro Souto
Farmacêutico, morador de Maruípe
Aspas de citação

Da mesma forma pensa a publicitária Rosa Maioli, moradora de Campo Grande, em Cariacica. Ela viu o panelaço contra o presidente em seu condomínio, com vizinhos brigando e dizendo impropérios uns aos outros.

Aspas de citação

Falta um pouco de empatia. Votei em Bolsonaro, porque não quis dar meu voto ao PT. Agora se perdeu ou ganhou (a eleição), tem que torcer para dar certo

Rosa Maioli
Publicitária, moradora de Campo Grande, em Cariacica
Aspas de citação

Rosa também votou no governador Renato Casagrande (PSB) na eleição, que tem feito duras críticas ao presidente. O socialista defende o isolamento horizontal, em que tanto quem está no grupo de risco quanto quem não está e não trabalha em serviços essenciais fiquem em casa. Apesar disso, na última semana, ele relaxou as restrições ao comércio.

"Todos os dois (Bolsonaro e Casagrande) estão certos. É preciso se resguardar, mas temos que ter cuidado com o desemprego que isso pode causar lá na frente. É hora de ouvir os líderes e ter cuidado. Quem puder ficar em casa, fique, sem parar totalmente a economia", defende.

Este vídeo pode te interessar

Em discurso no dia 9/3, em Miami, Bolsonaro avaliou a reação à epidemia de coronavírus como "superdimensionada"(Folhapress)

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais