Publicado em 23 de julho de 2020 às 13:28
A crise causada pelo novo coronavírus tem afetado de forma mais dramática a vida das mulheres. Elas estão mais sujeitas à redução da atividade econômica, à sobrecarga de trabalho doméstico e, no caso das que são mães, ao encargo adicional do cuidado dos filhos. Para além dos efeitos econômicos e sociais, a pandemia também pode prejudicar a presença feminina nas eleições municipais em novembro deste ano. Para mulheres que já atuam no campo político, há um temor que o número de candidatas diminua neste pleito. >
A presença da mulher na política é historicamente e significativamente mais baixa em relação à do homem. No Espírito Santo, na última eleição municipal em 2016, apenas quatro dos 78 municípios elegeram prefeitas. Nas Câmaras Municipais, o cenário não é diferente. É só observar nos Legislativos das quatro maiores cidades da Região Metropolitana de Vitória. Hoje, Serra, Vitória, Vila Velha e Cariacica possuem 74 vereadores, mas apenas sete são mulheres. >
Segundo a especialista em Direito Eleitoral, Gabriela Rollemberg, a baixa representatividade pode ser explicada por uma série de fatores, desde culturais, que reforçam a ideia de que mulheres não se interessam por política, até econômicos e sociais.>
"A política é uma arena que não é conhecida pelas mulheres no geral, elas não são incentivadas a participar. Isso passa muito pelos conceitos de patriarcado e pelo estereótipo de gêneros. Muitas mulheres não se veem como capazes de assumir a política. Para aquelas que conseguem fazer parte desse espaço, a gente vê tanto uma dificuldade de vencer as barreiras dentro dos partidos quanto de abrir mão da profissão para se dedicar a uma eleição. É um desafio para nós trazer mulheres para a política, principalmente aquelas de baixa renda, e eu acredito que isso pode ser ainda mais complicado na situação atual, já que muitas perderam seus empregos", disse.>
>
Gabriela é co-fundadora do grupo Elas Pedem Vista, que tem como objetivo auxiliar juridicamente mulheres. Nesta quinta-feira (23), ela comandará a live "Participação feminina na política em tempos de pandemia", promovida pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). O debate contará com a participação da vice-governadora do Espírito Santo, Jaqueline Moraes (PSB), e de outras mulheres que atuam na política do país. >
No Espírito Santo, Jaqueline tem conduzido um trabalho, desde o ano passado, para o fortalecimento de candidaturas femininas por meio de capacitações para mulheres que têm interesse em participar da política. >
"Vejo que tenho muita responsabilidade nisso, por ser uma mulher que chegou ao cargo de vice-governadora. A construção de políticas afirmativas começa assim, passa pela representatividade. As meninas negras, da periferia, as mulheres pobres precisam ver uma mulher atuar, porque isso incentiva e faz diferença na vida delas", afirmou.>
Com a pandemia, as atividades foram paralisadas e estão sendo adaptadas para o ambiente virtual. Com isso, grupos de mulheres têm se mobilizado nas redes sociais para auxiliar pré-candidatas a se prepararem. Jaqueline teme, contudo, que a crise atual acabe prejudicando o número de mulheres candidatas e até mesmo a preparação delas.>
"A gente sabe que há uma série de impactos acontecendo na vida das mulheres durante a pandemia, o aumento da violência, do desemprego, a sobrecarga mental e física dentro de casa com trabalhos domésticos e filhos. Elas já estão extremamente sobrecarregadas e atuar na política seria mais uma responsabilidade.">
Jaqueline Moraes
Vice-governadora do Espírito SantoUm dos vieses que a vice-governadora tem atuado no Estado é no combate a candidaturas laranjas para compor a cota de gênero dos partidos. A legislação eleitoral exige que os partidos respeitem o percentual mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. A divisão de dinheiro do Fundo Eleitoral acessado pelos partidos, composto por dinheiro público, deve seguir a mesma proporção.>
Em geral, às vésperas do pleito, muitos partidos saem à cata de mulheres para fazer figuração na cota mínima. Em 2018, conforme revelado por reportagem de A Gazeta, muitas candidatas disseram ter sido usadas pelas legendas para compor a porcentagem de 30%. Nas urnas, elas tiveram pouco ou nenhum voto.>
Jaqueline Moraes
Vice-governadora do Espírito SantoPara Gabriela Rollemberg, o uso de candidatas laranjas nas eleições agrava a baixa representatividade que a mulher tem na política e prejudica a formação de líderes mulheres. Ela acredita que, nos últimos anos, a fiscalização tem sido maior, mas teme que a pandemia também interfira nessa questão. >
"Com menos mulheres interessadas em participar ativamente das eleições, seja porque perderam o emprego ou porque já estão muito sobrecarregadas, pode haver uma possível queda de candidaturas femininas. E ao ter que cumprir esse mínimo de 30%, os partidos podem buscar ainda mais essas candidatas laranjas. É importante que a gente cobre fiscalização e não permita que esse direito seja usado para uma fraude. Nenhuma conquista será obtida dessa forma", finalizou. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta