> >
Mais um caso: frentista denuncia agressão de PM em posto de Vitória

Mais um caso: frentista denuncia agressão de PM em posto de Vitória

Confusão terminou com o trabalhador autuado por posse de drogas e liberado. Já o PM foi colocado à disposição da Corregedoria, que abrirá Inquérito Policial Militar

Publicado em 1 de setembro de 2021 às 12:38

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Funcionário de posto de combustíveis no ES denunciou agressão de PM
Funcionário de posto de combustíveis no ES denunciou agressão de PM. (Oliveira Alves)

Um frentista de 23 anos denunciou um policial militar de 36 que o teria agredido com coronhadas no bairro Jardim Camburi, na Capital, na manhã desta quarta-feira (1º). Na Delegacia Regional de Vitória, ele disse que a agressão aconteceu no início da manhã no posto de combustíveis onde trabalha, na Avenida Norte-Sul. Já o PM, que não estava trabalhando no momento do ocorrido, informou que fez a abordagem ao jovem por achar que ele estaria traficando e apresentou ao delegado de plantão uma pequena quantidade de maconha, que o militar afirma ter apreendido com o trabalhador. 

O frentista relatou que havia acabado de chegar para trabalhar quando teria sido agredido pelo militar, sem nenhuma explicação. Disse ainda que foi revistado pelo policial e se sentiu humilhado porque estava em seu local de trabalho.

"Ele chegou sem falar nada. Já me deu uma coronhada na cara, me jogou no chão e disse que eu era traficante e vagabundo e que ele era policial. Ele disse: 'Você vai ver, você vai ver'. Eu todo uniformizado, ele jogou meu colete na água, me fez tirar a botina, me humilhou no serviço. Eu vim trabalhar para levar o pão de cada dia para os meus meninos e o cara faz isso comigo?", lamentou.

Na Delegacia Regional de Vitória, o policial militar apresentou uma pequena quantidade de maconha que teria sido apreendida com o jovem de 23 anos. Por isso, o trabalhador acabou autuado por posse de drogas, mas foi liberado após assinar um termo circunstanciado (TC). Já o PM deixou a unidade da Polícia Civil pela porta da frente no final da tarde e foi levado por policiais em uma viatura para a Corregedoria da Polícia Militar.

Um vídeo obtido pela reportagem mostra parte da abordagem do policial militar ao frentista no posto de combustíveis localizado na Avenida Norte-Sul, em Jardim Camburi. Nas imagens, o frentista já aparece com o ferimento na testa. Veja o vídeo:

PM TERIA BEBIDO NO POSTO, DIZEM FUNCIONÁRIOS

Segundo apuração da TV Gazeta, funcionários do posto relataram que o PM teria bebido no local com um amigo por volta das 5h, mas eles teriam se desentendido e o amigo do militar foi embora.

Funcionário de posto de combustíveis no ES denunciou agressão de PM
Funcionários do posto relataram que o policial bebeu durante a madrugada. (Oliveira Alves)

Eles também disseram que foi neste momento que o policial saiu e começou a agredir o frentista. O veículo que seria do policial foi deixado no posto de gasolina e, dentro do carro, havia várias latas de cerveja.

Veículo que seria de policial com latas de cerveja dentro
Veículo que seria de policial estava com latas de cerveja dentro. (Oliveira Alves)

O QUE DIZ A POLÍCIA CIVIL

Demandada pela reportagem, a Polícia Civil informou, por nota, que um policial militar de 36 anos e um homem de 23  foram encaminhados à Delegacia Regional de Vitória e, no local, o jovem assinou um termo circunstanciado por posse de drogas para consumo próprio e foi liberado após assumir o compromisso de comparecer em juízo.

"Já contra o policial militar, diante da possibilidade de um crime militar, em razão da função, a Autoridade Policial entregou cópia dos autos à Corregedoria de Polícia Militar para que tomassem as medidas que entendessem cabíveis, tendo o mesmo sido entregue à Corregedoria da Polícia Militar", finalizou a PC.

O QUE DIZ A DEFESA DO FRENTISTA

Representando a defesa do frentista de 23 anos, o advogado Vítor de Oliveira reforça que o rapaz afirma que não estava traficando e nem usando ou portando nenhum tipo de entorpecente. "Pelo policial ter fé pública, até então, o delegado de plantão não pode desconstituir a versão do policial, mesmo com a possibilidade dele estar embriagado no local. Meu cliente foi autuado pelo artigo 28, como usuário de drogas, mas será objeto de análise pela Justiça e Corregedoria", disse.

O QUE DIZ A DEFESA DO POLICIAL

Responsável pela defesa do militar de 36 anos, o advogado Maxson Luiz disse que seu cliente estava de folga e abordou o frentista porque suspeitou que ele estivesse traficando.

"Ao verificar a atitude suspeita de um dos frentistas, ele decidiu por abordar ele e outro indivíduo. Após abordagem, foi encontrada substância semelhante à maconha com o frentista. O policial solicitou aos populares que acionassem o 190 e solicitassem uma viatura para que o frentista pudesse ser encaminhado a delegacia", detalhou o advogado.

Em relação à agressão, Maxson admitiu que existem relatos de uma suposta coronhada, o que, segundo ele, não foi confirmado. "Pode ser que, devido à abordagem que ocorreu próxima à parede, o individuo pode ter se chocado contra a parede", reiterou. 

O QUE DIZ A PM

Polícia Militar informou, por nota, que uma equipe foi acionada para atender uma ocorrência de lesão corporal no bairro Jardim Camburi, em Vitória, na manhã desta quarta-feira, entre um membro da corporação e o frentista de um posto de gasolina. "No local, o frentista relatou que tinha acabado de chegar para trabalhar quando foi abordado e agredido pelo policial usando uma arma que lesionou seu rosto. Já o militar disse que deu voz de prisão ao frentista, pois havia a suspeita de que ele estivesse comercializando entorpecentes no local. O militar entregou uma bucha de maconha e dez reais, que seriam de propriedade do frentista, aos militares que estavam atendendo a ocorrência. Ambos foram encaminhados para a 1ª Delegacia Regional de Vitória".

Ainda na nota, a PM disse que está acompanhado o caso através da Corregedoria da instituição, que abrirá um Inquérito Policial Militar para apurar o ocorrido. "Cabe ressaltar que o PM segue exercendo suas atividades normalmente até a devida apuração dos fatos, que possui mais de uma versão".

Errata Atualização
1 de setembro de 2021 às 20:36

Após a publicação desta reportagem, a Polícia Civil, a Polícia Militar e os advogados que fazem a defesa do frentista de 23 anos e do policial militar de 36 se manifestaram. O texto foi atualizado com as informações.

VILA VELHA TEVE CASO PARECIDO EM JANEIRO DE 2020 

Em 23 de janeiro de 2020, o frentista Joelcio Rodrigues dos Santos chegou de manhã para trabalhar em um posto de combustível localizado da Praia de Itaparica, em Vila Velha, e foi surpreendido pela presença do policial Clemilson Silva de Freitas – que o esperava e teria voltado ao estabelecimento para tirar satisfações por causa de um atendimento "ruim" prestado na noite anterior.

Policial deu tapa na cara do frentista e apontou a arma para ele — Foto: Reprodução/ TV Gazeta
Policial deu tapa na cara do frentista e apontou a arma para ele — Foto: Reprodução/ TV Gazeta. (Reprodução)

Segundo a vítima, os xingamentos e as ameaças do sargento começaram depois do pedido para que ele e a mulher descessem da moto para que o abastecimento fosse feito. Ato que é de praxe do local, por motivos de segurança. “No outro dia, assim que bati o ponto, ele veio atrás, perguntou se eu lembrava dele e começou a me bater”, contou Joelcio, na época.

Na mesma semana, o sargento recebeu a primeira de cinco licenças médicas consecutivas. Ao todo, foram praticamente 12 meses de afastamento do trabalho, período no qual recebeu o salário de R$ 6.400 normalmente, conforme previsto em lei. As informações estão disponíveis no Portal da Transparência do Governo do Estado.

Do outro lado da história, o frentista Joelcio Rodrigues da Silva – que é a vítima – precisou mudar de emprego e de casa por medo, em busca de mais segurança. Devido à transferência de posto de trabalho, ele também passou a receber um salário menor. Ele é casado e mora com a mulher e duas filhas pequenas.

Clemilson foi condenado a um ano e cinco meses de prisão. A sentença é do juiz Getulio Marcos Pereira Neves, da vara de auditoria militar de Vitória. O acusado foi condenado por três crimes: lesão corporal leve (Artigo 209), injúria real (Artigo 217) e ameaça (Artigo 223), todos do Código Penal Militar. Foram seis meses de prisão para cada um dos dois primeiros, e mais cinco pelo último.

Para chegar à decisão, o magistrado destacou o laudo do exame de lesão corporal, que constatou ferimentos arroxeados e avermelhados na face da vítima. Além do depoimento de outro funcionário do posto, que presenciou as agressões e ameaças praticadas pelo policial militar.

Apesar da sentença, o juiz Getulio Marcos Pereira Neves concedeu um "benefício de suspensão". Na prática, o policial não precisará ir para um presídio se cumprir as três medidas previstas, que incluem, por exemplo, a proibição de frequentar bares. Desta forma, o militar continua trabalhando normalmente.

Além da Justiça, o PM também foi condenado pela Corregedoria da Polícia Militar do Espírito Santo e recebeu uma sanção disciplinar interna.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais