Dois novos casos de uso de fios elétricos irregulares, que podem causar incêndio, foram confirmados no Espírito Santo: um em residências que estavam sendo construídas no município de Laranja da Terra, no Noroeste do Estado, e outro em um prédio de 12 andares em Cariacica — cujos moradores já haviam denunciado problemas, como o derretimento de tomadas.
Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), o deputado Vandinho Leite informou que o edifício se chama Ilha de Vera Cruz, que tem 67 apartamentos e está localizado no bairro Vera Cruz. A empresa responsável já teria recebido diversos acionamentos dos proprietários.
Ainda segundo o deputado, um dos moradores viu as reportagens a respeito das investigações no âmbito da Operação Elétron e procurou a comissão. "Os fios irregulares, que eram da Luzzano, foram analisados e ficaram comprovados o risco de incêndio e o aumento do consumo", revelou Vandinho.
Diante da irregularidade, ele garantiu que a Kemp Engenharia, responsável pelo empreendimento, será notificada nos próximos dias para fazer a troca da fiação elétrica do edifício. "É o que está previsto no Código do Consumidor. Se não tivemos sucesso, vamos acionar a Justiça", afirmou.
Além do edifício em Cariacica, o outro caso confirmado durante a quarta fase da Operação Elétron — deflagrada na última semana e cujos resultados foram divulgados nesta terça-feira (16) — ocorreu em residências que estavam sendo construídas em Laranja da Terra, no Noroeste do Espírito Santo.
"Um empreendedor que constrói casas e outros empreendimentos comprou 157 mil metros de cabos da Luzzano. Quando ele viu o caso na imprensa, ele paralisou as obras e enviou o produto para ser analisado. Infelizmente, todo o material está comprometido", comentou o deputado Vandinho Leite.
À frente da Delegacia Especializada de Direito do Consumidor (Decon), o delegado Eduardo Passamani afirmou que "não tem como mensurar a quantidade de vítimas" em decorrência da produção e venda dos fios irregulares. Investigações apontam que há lotes de fiações irregulares desde 2016.
Em setembro deste ano, a Luzzano afirmou à TV Gazeta que as acusações são graves, que precisam de comprovação e que não condizem com os padrões de qualidade da empresa. A fábrica também informou que está tomando as providências para comprovar a eficácia do produto. Nesta terça-feira (12), a empresa foi novamente acionada, mas não atendeu às ligações.
A reportagem de A Gazeta entrou em contato com a Kemp Engenharia devido à situação irregular encontrada no prédio Ilha de Vera Cruz, em Cariacica. Assim que houver retorno, este texto será atualizado.
A Operação Eletron é consequência de uma investigação feita diante de uma "avalanche" de denúncias de superaquecimento de fios e aumento injustificado do consumo de energia elétrica. A primeira fase foi deflagrada no dia 10 de agosto deste ano, em duas cidades da Grande Vitória.
Na ocasião, um empresário de Vitória foi preso. Ele é o dono de uma fábrica de fios e condutores elétricos que apresentavam irregularidades capazes de causar curto-circuitos e incêndios. Em 2019, o suspeito já havia sido preso por produção irregular, mas pagou a fiança de R$ 100 mil e acabou solto.
A Fábrica Luzzano que ele possuía também foi interditada. Ela fica localizada no bairro Boa Vista II, na Serra. O produto irregular chegou a ser vendido para hospitais, escolas e centenas de lojas e revendedoras. Além de ter sido comercializado em dez estados, incluindo o Espírito Santo.
Nove dias depois, cerca de 40 mil metros de fios elétricos irregulares foram apreendidos em lojas de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, durante a segunda fase da Operação Eletron. A princípio, não havia indícios de que tais estabelecimentos estariam cientes do problema.
Após o recolhimento da mercadoria, ficou constatado que as embalagens possuíam, de forma indevida, o selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – que deveria assegurar a qualidade, mas que, nesse caso, se referia a outros produtos feitos pela empresa.
Deflagrada no dia 26 de outubro, a etapa cumpriu mandados de busca e apreensão no escritório da fábrica investigada e na residência do proprietário. Documentos e um celular foram apreendidos. Nesta fase, a Justiça também autorizou o bloqueio dos bens do dono, avaliados em R$ 10 milhões.
A terceira fase da Operação Eletron ainda trouxe à tona que os fios irregulares foram usados em duas creches de Vila Velha e em 17 unidades de saúde de Cariacica. Além de cinco escolas e 30 condomínios no Estado. O prejuízo gerado ao mercado foi estimado em R$ 75 milhões.
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