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Caos em Vila Velha: entenda ação que motivou tiros, morte e fogo em ônibus

Caos em Vila Velha: entenda ação que motivou tiros, morte e fogo em ônibus

O bairro Cobi de Cima foi palco de um confronto entre a Guarda Municipal e suspeitos nesta quarta (29) que terminou com morte, tiros e coletivos incendiados

Publicado em 30 de junho de 2022 às 13:26

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De acordo com a guarda, Eduardo possuía quatro passagens pela polícia, por tráfico de drogas e roubo.  Mas a família nega que ele estivesse armado
De acordo com a guarda, Eduardo possuía quatro passagens pela polícia, por tráfico de drogas e roubo. Mas a família nega que ele estivesse armado. (Montagem | A Gazeta)

Vila Velha se transformou em um cenário de guerra nesta quarta-feira (29). Depois de um confronto entre suspeitos armados e agentes da Guarda Municipal no bairro Cobi de Cima, que resultou na morte de Eduardo Pereira Martins, de 18 anos, moradores protestaram por conta da ação e três ônibus do Sistema Transcol foram queimados. De acordo com a guarda, Eduardo possuía quatro passagens pela polícia, por tráfico de drogas e roubo.  Já a família nega que ele estivesse armado.

A confusão começou quando Eduardo foi baleado e morto em uma escadaria que liga a Avenida Carlos Lindenberg à parte alta do bairro Cobi de Cima durante uma ação da Guarda Municipal. O corpo do jovem ficou caído no local. A partir daí, o clima ficou tenso.

O trânsito chegou a ser desviado e motoristas não estavam conseguindo acessar o bairro pelo lado direito da Segunda Ponte. Segundo apurações da repórter Tarciane Vasconcelos, da TV Gazeta, um suspeito chegou a ser detido por atear fogo em objetos.

Questionada pela reportagem de A Gazeta, a Guarda de Vila Velha informou que três ônibus foram incendiados após o ocorrido e disse que o Corpo de Bombeiros foi acionado para a ocorrência. O Corpo de Bombeiros informou que atendeu a três ocorrências de incêndio em coletivo, na noite dessa quinta-feira (29), em bairros nas proximidades da Segunda Ponte, em Vila Velha e Cariacica.

Vídeos enviados à reportagem de A Gazeta mostram coletivos em chamas. Também houve registros de protestos da população e tiros disparados nas ruas de Cobi de Cima e Cobilândia, também em Vila Velha.

GUARDA ALEGA QUE SUSPEITO ESTAVA ARMADO

O Secretário Municipal de Defesa Social e Trânsito de Vila Velha, tenente-coronel Geovanio Silva Ribeiro, explicou que uma equipe da Guarda Municipal estava fazendo patrulhamento no bairro quando os agentes viram um homem correndo. Eles acharam que se tratava de uma tentativa de fuga e alertaram outras equipes.

"Uma guarnição visualiza um indivíduo correndo, imagina que poderia ser uma fuga, informa as características desse indivíduo para conseguirem localizá-lo e começam a fazer uma varredura. Como é uma área com escadas, eles fazem isso a pé e conseguem visualizar o indivíduo. Esse indivíduo estaria mexendo, de cabeça baixa, no celular dele. Quando eles vão se aproximando, há um terceiro indivíduo que, esse sim, estaria armado e aproximando na direção desse mexendo no celular", detalhou.

Esse rapaz, que estaria armado, segundo a Guarda, era Eduardo Pereira Martins. O secretário relatou que, a partir disso, os agentes deram voz de abordagem a ele, que teria apontado uma arma contra a equipe da guarda. Por isso, eles dispararam contra o rapaz, que ficou caído na escadaria. Ainda segundo Geovanio, um outro homem pegou a arma que estaria com Eduardo e fugiu.

"Há a voz de abordagem e esse indivíduo armado aponta a arma para os agentes e faz menção de fazer esse disparo. Nesse momento, as equipes conseguem fazer esses disparos. Esse indivíduo corre, mas cai na escada. Eles aguardam com esse abordado (rapaz que estava com celular na mão), parte da equipe vai ver o que aconteceu. Na percepção deles, a arma teria caído escada abaixo. Um terceiro apanha essa arma e empreende fuga", narrou.

Depois disso, conforme o secretário, muitas pessoas chegaram à escadaria e passaram a protestar por conta da ação da Guarda Municipal. Ele contou que houve ameças contra agentes da corporação.

"Tivemos aglomeração de pessoas e a guarda teve que lidar com isso. Algumas pessoas incitando, dizendo que a ação foi inadequada, incorreta e que um desses indivíduos teria dado a ordem para as pessoas saírem daquele local porque eles disparariam até contra a guarda, é o relato deles. E há realmente alguns disparos, ai começam a tocar fogo. A guarda não revida nesse primeiro momento, porque havia outras pessoas no ambiente. foi feito o controle desse ambiente", argumentou.

"VÁRIOS AGENTES SOFREM AMEAÇAS"

Segundo o secretário Geovanio Silva Ribeiro, a região onde aconteceu o confronto possui altos índices de homicídios e de tráfico de drogas. Além disso, há o registro de ameaças contra agentes da Guarda Municipal. Segundo ele, porém, a corporação é vítima de ameaças constantemente, por conta das ações de combate ao crime.

FAMÍLIA NEGA QUE EDUARDO ESTIVESSE ARMADO

A família de Eduardo Pereira Martins deu uma outra versão para a história. Segundo a mãe dele, que não quis ser identificada, o rapaz tinha saído para cortar o cabelo e não estava armado, tendo sido baleado depois de abaixar para pegar o celular durante a abordagem.

"Meu filho tinha ido cortar o cabelo e, quando ele estava voltando, os policiais da guarda municipal mandaram ele parar. Ele levantou a mão, o celular dele caiu e quando ele foi abaixar, ele tomou um tiro", disse a mulher.

Aspas de citação

Eles tiraram a vida do meu filho. Meu filho não estava com arma, não estava com nada

Mãe de Eduardo Pereira Martins
Mãe do rapaz negou que ele estivesse armado
Aspas de citação

A irmã de Eduardo, que também preferiu não ser identificada, reclamou da truculência na abordagem dos agentes da Guarda Municipal. Ela contou que estava tentando ir em direção ao irmão e que os guardas usaram spray de pimenta contra a população.

"Tacaram spray na minha cara, na da minha mãe, na do meu irmão mais novo. A população toda tentando deixar a gente passar para ver meu irmão, porque ele estava jogado na escada. Foi uma cena muito horrível e eles riam a todo o momento", disse.

Uma outra moradora da região também relatou violência na abordagem de agentes da Guarda Municipal, inclusive contra crianças. Segundo a mulher, os agentes abordam meninos e meninas com menos de dez anos procurando por drogas.

Aspas de citação

Como que uma criança de oito anos vai ter droga? Criança saindo da escola, uniformizada. Eles botam o fuzil na cara

Moradora de Vila Velha
Ela reclamou da ação de guardas municipais
Aspas de citação

"A gente mora em morro, mas a gente também é morador de bem. Todo dia eles estão aqui e é assim, botando criança de oito, nove, dez anos na parede, como se fosse vagabundo e pedindo 'cadê as drogas?'. É isso que a gente quer, que eles venham para cá, mas para proteger, não para amedrontar a gente igual eles estão fazendo", protestou a mulher.

O QUE DIZ A GUARDA MUNICIPAL

Em nota, a Guarda Municipal de Vila Velha informou que é treinada para fazer abordagens sempre que necessário e houver fundada suspeita e, que no confronto desta quarta-feira (29), agiu para controlar a situação. A corporação também afirmou que Eduardo tinha quatro mandados de prisão em aberto por roubo e tráfico de drogas.

O QUE DIZ A CETURB

Em nota enviada à reportagem, a Ceturb-ES confirmou o que foi visto no local: um ônibus incendiado em meio ao confronto na região de Cobi, em Vila Velha. Ninguém ficou ferido na ocorrência. A companhia ainda informou que, por conta do incêndio no veículo, as linhas 633 e 627 foram suspensas até que a situação no local seja normalizada.

De acordo com a Ceturb, as outras linhas que circulam nas imediações estão sendo desviadas de forma a oferecer o melhor atendimento possível aos usuários. Após a primeira demanda, a reportagem de A Gazeta recebeu novos vídeos informando sobre outros dois ônibus incendiados em regiões entre Cariacica e Vila Velha e voltou a demandar Ceturb-ES. Assim que houver novo retorno, este texto será atualizado.

O QUE DIZ O CORPO DE BOMBEIROS

O Corpo de Bombeiros informou que atendeu a três ocorrências de incêndio em coletivo, na noite dessa quinta-feira (29), em bairros nas proximidades da Segunda Ponte, em Vila Velha e Cariacica.

"O primeiro acionamento ocorreu por volta das 19h, na Rua Cesar Alcure, bairro São Torquato, Vila Velha. Populares informaram que indivíduos haviam ateado fogo em um ônibus do sistema Transcol. A equipe foi encaminhada e realizou o combate às chamas. Na sequência, os militares foram informados sobre outro ônibus em chamas, na Segunda Ponte. A mesma equipe se dirigiu até este segundo local, com auxílio da Polícia Militar, e realizou o combate. Por volta de 19h10, ocorreu um novo acionamento para a Rua Fernando Antonio, bairro Vasco da Gama, Cariacica. O solicitante informou que havia um ônibus em chamas na via. A equipe de combate foi deslocada e realizou o combate, extinguindo as chamas. Não houve necessidade de atendimento a nenhuma vítima e, até o momento, não há solicitação de perícia", afirmou a corporação, por meio de nota.

O QUE DIZ A POLÍCIA CIVIL

Polícia Civil informou que a perícia foi acionada para recolher o corpo de uma ocorrência de morte em confronto com agentes da Guarda Municipal, no bairro Cobi de Cima, em Vila Velha. "O corpo do suspeito será recolhido e encaminhado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, para ser necropsiado e, posteriormente, liberado para os familiares. Não temos outros detalhes, no momento, pois a ocorrência está em andamento", disse a corporação.

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