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Talentos das escolas públicas revelam expectativas e sonhos com notas do Enem

Talentos das escolas públicas revelam expectativas e sonhos com notas do Enem

Dedicação foi apenas um dos atributos usados por alunos da rede pública que alcançaram boas no Enem. Agora, eles vivem a expectativa de conquistarem uma vaga no Ensino Superior

Publicado em 20 de janeiro de 2020 às 06:01

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Wallace Alves Cearense, aluno da rede pública que fez 900 pontos na redação do Enem. (Arquivo Pessoal)

Dedicação foi apenas um dos atributos usados por alunos da rede pública que alcançaram notas de 900 pontos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Alguns venceram o cansaço de conciliar escola e trabalho, outros faziam 15 redações por mês e há até quem se divida em três bairros diferentes para atender todos os compromissos do dia. Nem assim deixaram para trás o desejo de tirar uma boa nota para conquistar um sonho: entrar na faculdade.

O estudante Wallace Alves Cearense, 21 anos, foi um desses talentos que mesmo dormindo apenas quatro horas por noite, teve nota 900 na redação. Ele trabalhava de atendente de lanchonete à noite e ia dormir 2 horas. Às 6h, ele estava de pé para ir para o cursinho do  Projeto Universidade Para Todos Mais (Putp-Mais), na Serra.

“Fazia uma redação por semana, tinha que treinar, e estuei muito sociologia e filosofia, algo que me preparou para qualquer tema. Foi assim até julho, quando completei um ano no trabalho e pude sair. Recebendo o auxílio-desemprego, consegui me manter pelos outros meses e gastar todo meu tempo com os estudos”, contou o garoto, que passou a madrugada acordando para verificar o resultado do Enem.

Apesar do resultado excelente na redação, o desejo de cursar Direito na Universidade Federal do Espírito Santo vai ser substituído pelo curso de História, pois a nota geral foi de 681 e o curso de Direito foi 688 no ano passado. “Não vou tentar fora do Estado, pois não tenho condições de me sustentar. Mas sei que são novas portas que se abrem”, observou o rapaz.

15 REDAÇÕES POR MÊS

Daiane Oliveira, 17 anos, aluna da Escola Clóves Borges, na Serra. (Arquivo pessoal)

Para a estudante do ensino médio da Escola Clóvis Borges Miguel, em Serra-Sede, Daiane Silva Oliveira, 17 anos, a nota 900 na redação do Enem é só o primeiro passo para uma grande jornada. “Quero tentar Medicina, por isso sei que ainda tenho mais um caminho a percorrer”, contou a menina, que ficou com uma nota geral de 645.

No dia da prova de reação, a estudante teve crise de enxaqueca e chegou a passar mal horas antes da prova. “Por isso foi uma surpresa muito grande tirar essa nota. Eu fazia em média 15 redações por mês, mas não fiz cursinho. Abri mão de ser menor aprendiz e ajudar nas contas de casa para estudar, meus pais me apoiavam nisso”, destalhou a menina, que chegou a comprar um cursinho online para ter um norte sobre o que estudar.

Para Daiane, a nota foi um grande incentivo. “Mesmo sendo estudante de escola pública, sei que não existe limite para sonhos. Tem que acreditar que você pode”, disse confiante.

TRÊS BAIRROS DIFERENTES

Thayná Andrade, 18 anos, na Serra, fez 900 pontos na redação do Enem. (Arquivo Pessoal)

Durante o ano letivo de 2019, a jovem Thayná Pereira Andrade, 18 anos, fazia uma única rotina, mas com três destinos diferentes. Na Serra, saía Feu Rosa, pela manhã, e seguia de carona para Colina das Laranjeiras, onde fazia o cursinho Pré-Enem.

Ao meio-dia, o trajeto agora de ônibus era para Novo Horizonte, onde a estudante trabalhava como menor aprendiz em uma empresa.  Às 18, Thayná já estava em Feu Rosa de novo, pois fazia o curso técnico de administração na Escola Marinete de Souza Lira até às 23h.

Só de ler a descrição já cansa, imagine para essa garota que mesmo com a jornada tripla, alcançou 900 pontos da redação do Enem. “Durante o ano, eu fazia uma redação por final de semana. Era o tempo que eu tinha para me dedicar. Com a nota que tirei, vou tentar Direito pelo Sisu, Prouni e Nossa Bolsa”, conta.

Além das inúmeras redações ao longo do ano, Thayná disse que estar atenta às atualidades e fazer citações ajudaram a conquistar a nota alta. “Já havia tentado duas vezes, e o máximo que tirei 720 pontos. Fique muito feliz com o resultado, foi uma vitória”, conta a estudante, que agora em janeiro está de férias do curso técnico, não tem mais cursinho e encerrou o contrato de menor aprendiz. “Um pouco de férias”, brincou.

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