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Dinheiro não vai salvar ninguém em caso de colapso do sistema

Dinheiro não vai salvar ninguém em caso de colapso do sistema

As dificuldades que pacientes graves podem encontrar, se houver aumento significativo da Covid-19, não serão apenas na rede pública

Publicado em 27 de março de 2020 às 06:00

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Coronavírus - Covid19
Coronavírus - Covid19 . (PIRO4D/Pixabay)

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já falou, e especialistas no Estado reafirmam: se o sistema entrar em colapso, não há dinheiro que garanta vaga nos hospitais para pacientes graves infectados pelo novo coronavírus (Covid-19). E é por isso que defendem o isolamento social, como medida para conter o ritmo de crescimento de casos da doença. 

 "O colapso é quando você pode ter o dinheiro, você pode ter o plano de saúde, você pode ter a ordem judicial, mas simplesmente não há o sistema pra você entrar. É o que está vivenciando a Itália", ressaltou o ministro, na última sexta-feira (20), ao diferenciar o colapso de um sistema de saúde problemático, quando há registro de macas pelos corredores e demora no atendimento. 

O infectologista Lauro Ferreira Pinto observa que o país não dispõe de leitos de UTI nem respiradores em quantidade suficiente para suportar o estresse na saúde provocado por um aumento exponencial de casos graves da Covid-19.

TESTES

"A maioria dos casos varia de leve a moderado. Mas, em torno de 20%, poderá precisar de hospitalização e 5% de UTI, porque estes pacientes desenvolvem pneumonia grave. Na Europa, o país que está lidando melhor com a situação é a Alemanha, com 0,3% de taxa de mortalidade. Lá, existem muitos leitos de UTI e uma quantidade grande de respiradores", pontua. 

Outra necessidade, segundo Lauro Ferreira Pinto, é aumentar a realização de testes para diagnosticar o vírus. "Temos muita dificuldade nas duas coisas - leitos e testes", frisa. 

O especialista diz que a rede pública adquiriu  expertise no protocolo de atendimento nos casos de síndrome respiratória aguda grave na época da pandemia da Influenza A (H1N1), e que a assistência tem sido boa. No Espírito Santo, o infectologista afirma que a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) fazia diagnóstico molecular em pequena escala, mas o momento exige que a produção seja maior. Lauro Ferreira Pinto reconhece o esforço do órgão para, agora, aumentar sua capacidade de detecção da Covid-19.

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Estão correndo contra o tempo para rapidamente aumentar a capacidade de testes e tentar localizar a epidemia para nos proteger. Também estão atrás de montar a estrutura de leitos de UTI e para adquirir respiradores. Não se faz isso de uma hora para outra, ainda mais quando o mundo inteiro está precisando desses equipamentos. Por isso, o isolamento social é fundamental. Nessa hora, medidas duras são necessárias para dar tempo para os hospitais montarem as unidades de UTI e o Estado agilizar os testes

Lauro Ferreira Pinto
Infectologista
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INTERNAÇÃO

Diante desse contexto, o infectologista ressalta, ainda, que ninguém é imune a doença e, para os pacientes que desenvolvem um quadro crítico, o tempo de internação é de duas a três semanas. Portanto, o alerta é que, se não houver respeito às medidas de restrição, o Estado e o país podem experimentar o colapso da Itália, onde já se fala sobre escolher quem vai viver, independentemente de a pessoa ter ou não recursos financeiros. "A Lombardia, uma das regiões mais ricas da Itália, vive essa tragédia."

O infectologista Carlos Urbano acrescenta que, em todos os cenários que os estudiosos traçam, existe um grande risco de colapso no sistema de saúde nas próximas semanas, não só no Brasil, mas em vários países da Europa e nos Estados Unidos. O italiano já está nessa condição. 

"Quando isso vai acontecer exatamente e o tamanho da gravidade, ainda não se tem certeza. As autoridades estão tomando providências, abrindo leitos, comprando respiradores, insumos, mas será que é o suficiente? A situação é grave, e num cenário de colapso, o sistema de saúde, tanto público quanto privado, será afetado," ressalta.

Carlos Urbano sustenta que o momento agora é atender as recomendações da autoridade sanitária (Sesa, ministério, Organização Mundial de Saúde), e não é aconselhável seguir a própria intuição sobre a necessidade de permanência em isolamento social. "Se falam para ficarmos em casa, vamos ficar!"

O especialista lembra que se trata de uma doença completamente nova, com uma disseminação e mortes que não se via há mais de um século.

"Nada na história nos últimos 100 anos. É uma situação dramática. Muitas coisas estão sendo conhecidas durante a epidemia; análises são feitas enquanto tudo isso está acontecendo. O que está sendo feito sobre fechamento de escolas, de comércio é para não acontecer no nosso país o que ocorreu em outros lugares. O isolamento é necessário para dar um fôlego ao sistema de saúde, para que os novos casos não se concentrem apenas em um período. É preciso conter a disseminação, e ter um cuidado extremo com a população idosa que é a que tem mais chance de morrer", conclui.

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