Publicado em 28 de agosto de 2020 às 05:00
A crise econômica provocada pelo novo coronavírus impactou em cheio o setor do comércio do Espírito Santo. Mais de 3,2 mil lojas fecharam as portas definitivamente apenas entre os meses de abril e junho no Estado, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Fecomércio do Estado. Por determinação do governo, como medida para conter a disseminação do vírus, o comércio de rua teve que fechar as portas por quase dois meses. O período foi ainda maior para os estabelecimentos que funcionam em shoppings.
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O número divulgado pela CNC representa um encolhimento de 6% em relação à quantidade de estabelecimentos comerciais registrados antes da pandemia. >
Para o presidente da Fecomércio, José Lino Sepulcri, a queda pode ter sido ainda maior. "A meu ver, a quantidade de estabelecimentos fechados é bem superior. Esse levantamento foi feito em cima de informações oficiais, mas é comum que o micro e pequeno empresário feche seu negócio, mas mantenha o registro ativo na Junta Comercial ou na Fazenda", aponta.
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Como o comércio (junto com o serviço) é o setor que mais emprega no Estado, a redução no número de estabelecimentos também se traduziu em demissões. No mesmo período (abril a junho), cerca de 7 mil postos de trabalho no setor foram fechados. O número de pessoas que ficaram sem trabalho, contudo, deve ser ainda maior, já que esses dados só consideram os empregos formais, ou seja, aqueles com carteira assinada. >
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"A maior parcela de oportunidades de emprego no Espírito Santo está nos setores de comércio e serviços. Hoje temos em torno de 110 mil estabelecimentos. É um grande pilar da economia capixaba", diz José Lino.
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Em comparação, o número de lojas fechadas em três meses deste ano é quase igual ao registrado em 2016, auge da crise econômica no Brasil, quando o comércio capixaba fechou 3.005 unidades. Em 2015, a perda anual foi de 3.265 estabelecimentos comerciais.>
Em todo o país, foram fechados 135 mil estabelecimentos em 2020. Os segmentos mais atingidos, ainda segundo a CNC, foram as lojas de utilidades domésticas, vestuário e calçados e comércio automotivo. >
O presidente da Fecomércio acredita que os dados devem ser mais positivos nos meses de julho e agosto. "Existe uma euforia bastante significativa do empresário capixaba. Tão logo o governo autorizou a abrir o comércio, já melhorou bastante o faturamento. Não vamos pensar com relação ao ano passado, mas se seguirmos nesse ritmo de agora em diante teremos um fim de ano menos melancólico", avalia.
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Quando os casos de Covid-19 começaram a ser registrados no Estado, em março deste ano, uma das primeiras medidas para reduzir a circulação de pessoas e a propagação do vírus foi o fechamento do comércio considerado não essencial. O decreto do governador Renato Casagrande que determinou a restrição foi publicado em 20 de março. >
Inicialmente, a medida teria validade por 15 dias, mas foi sendo prorrogada em decretos posteriores e o primeiro sinal de flexibilização aconteceu só um mês depois. Em 20 de abril, o comércio de rua da maior parte das cidades do interior do Estado foi autorizado a reabrir em horários escalonados. Isso porque essas cidades haviam sido classificadas como de risco baixo ou médio, segundo a Matriz de Risco do Estado. Não era o caso da Grande Vitória, que concentra a maior parte do comércio e ainda permaneceu com as atividades paralisadas, pois estava em risco alto.
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Com o avanço da pandemia, mais municípios foram classificados como de risco alto, o que levou a uma nova onda de fechamentos.>
Foi só em 11 de maio, quase dois meses depois do primeiro decreto, que o comércio não essencial da Grande Vitória foi autorizado a reabrir as portas. Como as cidades ainda apresentavam risco alto para contágio do coronavírus, foi determinada uma abertura em dias alternados de acordo com os produtos que cada loja comercializava. >
Os representantes do setor comemoraram a primeira flexibilização, mas afirmaram, na ocasião, que as vendas só representavam 30% do esperado para o período.
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Em 1º de junho, uma regra similar foi aplicada aos shoppings. À medida que as cidades da Grande Vitória foram sendo classificadas como risco moderado, os horários de funcionamento foram ampliados e o sistema de alternância de dias foi interrompido. >
Uma pesquisa encomendada pelo Sindicato das Empresas Atacadistas e Distribuidoras do Espírito Santo (Sincades) mostrou que a crise econômica gerada pela pandemia impactou a capacidade das empresas de investir, mas mais da metade delas não registrou perda no faturamento e não fez demissões.
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Segundo o levantamento, realizado entre os meses de junho e julho, quase todo o setor cerca de 90% das empresas respondentes havia feito planos para investir durante o ano de 2020, mas, como grande parte dos outros setores, esses planos tiveram que ser adiados, ao menos temporariamente. Ainda assim, desses 90%, 62% realizaram os investimentos de forma total ou parcial.>
Mais da metade (51%) dos pesquisados informaram que tiveram aumento ou se mantiveram estáveis. Entre as empresas que tiveram queda na receita, 63% relataram perdas entre 10% e 30%.>
A maioria (55%) também informou que não houve alteração no quadro de colaboradores em decorrência da pandemia. Entre as empresas que tiveram redução no quadro de colaboradores, 54% informaram que a redução foi inferior a 10%.>
O setor atacadista é uma atividade necessária para que serviços essenciais, como supermercados e farmácias, continuem a funcionar. Funcionamos como um elo entre a indústria e o varejo, portanto, antes de chegarem às prateleiras, os produtos passam obrigatoriamente por uma empresa do setor, explica o presidente do Sincades, Idalberto Moro.
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