Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 10:55
- Atualizado há 5 anos
Após um dia de pânico na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, o Ibovespa opera em alta na manhã desta terça-feira (23), em menos de uma hora após a abertura do pregão. O índice sobe 1,54%, aos 114.406 pontos, após ter fechado em queda de 4,87% na segunda-feira (22).>
A Petrobras que viu o preço de seus papéis derreter mais de 20% na data anterior, tem avançado nesta manhã, com alta acima de 7% nas ações ordinárias, chegando a R$ 23,04, e com expansão acima de 8% nas preferenciais, com valor acima de R$ 23,15. >
Mas o cenário para o investidor ainda pode ser volátil, já que neste dia o conselho de administração da companhia define o futuro do comando da empresa, dizendo se vai acatar ou não a demissão do presidente Roberto Castello Branco, ordenada por Jair Bolsonaro na última sexta-feira (18).>
Além disso, o BNDES vende nesta terça as ações da Vale, confirmando não ter mais participação na mineradora.>
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A intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras, com o anúncio, na sexta-feira (19), de que iria trocar o presidente da estatal, trouxe forte impacto para o mercado financeiro nesta segunda-feira (22). A repercussão negativa levou à venda das ações da Petrobras, fazendo o preço do papel mergulhar e contaminar negativamente ações de empresas brasileiras de modo geral, mas especialmente as de estatais.>
O cenário foi de pânico, com os investidores e agentes financeiros enxergando aumento relevante do risco de ingerência governamental. As ações da petroleira, claro, foram as mais afetadas. >
As ações ordinárias da Petrobras (PETR3), que são as mais negociadas, despencaram 20,48%, a R$ 21,55. Já os papeis preferenciais (PETR4) sofreram uma baixa ainda maior, de 21,51%, a R$ 21,45. >
Como a Petrobras tem peso de 10,27% no Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores do Brasil também sofreu um tombo. O Ibovespa caiu 4,87%, a 112.667 pontos. Na mínima do dia, o índice foi a 111.650 pontos. >
Os papéis de outras estatais também tiveram forte retração: as ações do Banco do Brasil caíram 11,06%, e as da Eletrobrás, cerca de 0,69%, após cair mais de 7% no começo do pregão. >
O câmbio também foi afetado pela pressão interna causada pela interferência na Petrobrás. O dólar fechou hoje em alta de 1,27%, cotado a R$ 5,4539, em resposta ao leilão de US$ 1 bilhão de dólares feito pelo Banco Central, após bater em R$ 5,53 na máxima do dia. >
Na Bolsa de Nova York, as ADRs (certificados de ações negociados nos Estados Unidos) da Petrobras fecharam em queda de 21%, fechando a US$ 7,94. >
Com a reação do mercado nesta segunda, perdeu R$ 74,246 bilhões em valor de mercado. Somado aos cerca de R$ 28,209 bilhões de desvalorização na última sexta (19), a queda da estatal com a intervenção de Bolsonaro já soma R$ 102,5 bilhões.>
Com a desvalorização, a capitalização da estatal foi de R$ 354,79 bilhões na sexta para R$ 280,55 bilhões nesta segunda.>
"A interferência política na empresa terá efeitos de longo prazo na percepção do investidor estrangeiro em relação ao ambiente de negócios do país", afirma Erminio Lucci, presidente da corretora BGC Liquidez.>
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), anunciou que abriu um processo para investigar a troca no comando da estatal. Alguns escritórios também já preparam ações coletivas contra a Petrobras nos Estados Unidos após o anúncio. >
Pelo menos seis bancos e casas de investimento cortaram a recomendação dos papéis da Petrobrás - XP, Guide, Safra, BTG Pactual, Credit Suisse e Bradesco BBI -, apontando os riscos à política de preços da empresa pode com a mudança na presidência e também a nebulosidade que isso traz para outras iniciativas da empresa, como a venda de ativos.>
O imbróglio do governo com a Petrobras teve início na noite de quinta (18), quando Bolsonaro afirmou que a fala do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, de que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da empresa, teria consequências.>
Naquela semana, a companhia anunciou nova alta no preço do diesel e da gasolina, para acompanhar a valorização do petróleo. Bolsonaro disse que "não tem quem não ficou chateado com o reajuste". As falas de Bolsonaro incomodaram o mercado, que viu uma iminente interferência na empresa.>
Na sexta (19), Bolsonaro indicou o general Joaquim Silva e Luna como novo presidente da petroleira. Se confirmado pelo conselho de administração da companhia, ele substituirá Roberto Castello Branco, alvo de críticas do presidente.>
No sábado (20), Bolsonaro disse que vai "meter o dedo na energia elétrica", e que, "se a imprensa está preocupada com a troca de ontem, na semana que vem teremos mais". >
"A expectativa é de ingerência em outras estatais. A expectativa do mercado é que André Brandão [presidente do Banco do Brasil] seja demitido", diz André Machado, sócio-fundador da escola de traders Projeto os 10%.>
Assim como Castello Branco, Brandão também foi alvo de críticas do presidente. Em janeiro deste ano, ele foi ameaçado de demissão por Bolsonaro após atritos com relação à reestruturação do banco.>
AÇÕES DE OUTRAS ESTATAIS >
As afirmações do governo de que haverá intervenções em mais áreas e empresas também derrubou as ações de outras estatais, como Eletrobras e Banco do Brasil. A primeira perdeu seu presidente recentemente, diante dos entraves à sua privatização. O BB também já foi alvo de críticas de Bolsonaro. >
QUEDA DO IBOVESPA >
Como essas ações têm participação significativa no índice Ibovespa, que reúne o conjunto de ações mais negociadas, contribuiu para a queda do principal indicador do mercado acionário brasileiro. >
DÓLAR E RISCO-PAÍS >
A percepção de que o governo poderá manipular outros preços de mercado ou adotar soluções que gerem prejuízos para o Tesouro Nacional também ajudam a contaminar outros indicadores, como dólar e risco-país. >
IMPACTO NA INFLAÇÃO E NOVOS JUROS >
As altas do dólar e do risco Brasil, por sua vez, também ajudam a alimentar as expectativas de inflação e de necessidade de altas maiores de juros no futuro para conter os índices de preços e a fuga de recursos do país. >
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