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'Temi que morresse na minha mão', diz homem que salvou criança em Vitória

"Temi que morresse na minha mão", diz homem que salvou criança em Vitória

Um menino de seis anos ficou com a cabeça e o peito coberto por lama e escombros. Um autônomo que é vizinho da vítima e um policial conseguiram cavar um buraco para que o menino pudesse respirar

Publicado em 24 de outubro de 2020 às 23:27

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Pedro Pedroni cavou um buraco para que Mateus, de seis anos, pudesse respirar
Pedro Pedroni cavou um buraco para que Mateus, de seis anos, pudesse respirar. (Pedro Pedroni)

Morador da Rua Barão de Monjardim há 31 anos, o autônomo Pedro Henrique Pedroni foi um dos responsáveis por retirar Mateus, um menino de seis anos, debaixo de escombros após uma pedra rolar de um morro no Parque Municipal Gruta da Onça e atingir uma residência, na noite deste sábado (24), no Centro de Vitória.

Pedro estava retirando os pertences da casa onde mora, que fica quatro imóveis depois de onde a criança foi soterrada, quando conversou com a reportagem. Por precaução, ele, assim como moradores de cinco residências da rua, saíram de casa para dormir em outro lugar. Mesmo com o susto, ele contou estar feliz pela criança ter sido retirada com vida do local do acidente.

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Estava assistindo televisão quando ouvi um barulho muito forte, que parecia vidro se quebrando. Achei que algum caminhão tinha perdido o controle e batido em algum lugar. Foi quando olhei para a rua e ouvi uma mulher gritando pedindo ajuda. Era irmã de um amigo meu, crescemos juntos aqui. Fui correndo do jeito que eu estava, de calção, descalço e sem camisa

Pedro Henrique Pedroni
Vizinho que socorreu criança soterrada
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Lama que desceu do morro ficou espalhada pelo apartamento
Lama que desceu do morro ficou espalhada pelo imóvel. (Corpo de Bombeiros)

Um policial que passava pela rua também foi até a casa ajudar no resgate. Eles relatam que o imóvel já estava cheio de lama e escombros quando chegaram. A terra já tinha ocupado boa parte do cômodo em que a criança estava. Eles encontraram o menino somente com as pernas fora da lama.

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Quando eu cheguei, me deparei com uma cena horrível. Um pai pedindo ajuda porque o filho dele estava debaixo de uma pedra. Tava muito difícil de chegar, eram muitos escombros. Eu subi onde a lama o encobria. Ele só estava com a coroa da cabeça para fora. Da linha da cintura para baixo dava para ver. Ele pedia ajuda, mas estava com a cabeça dentro da lama, foi quando começamos a cavar.

Pedro Pedroni
Autônomo
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Temi que morresse na minha mão, diz homem que salvou criança em Vitória

Enquanto o policial segurava as pernas da criança e tentava aliviar o peso dos escombros sobre o corpo dela, Pedro cavava e tentava abrir um buraco para que o menino de seis anos pudesse respirar.

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Ele estava todo envergado de tanto peso em cima do corpinho dele. Cavei, cavei, cavei. Tirei pedaços de lajota e escombros. Graças a Deus ele conseguiu respirar. Ele estava de óculos, que eu tirei e dei a avó dele que estava desesperada. Continuei cavando e vi que por duas vezes ele parou de respirar. Fiquei com um medo tremendo dele morrer na minha mão

Pedro Pedroni
Autônomo
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A criança saiu debaixo da pedra desmaiada, com alguns arranhões e com o rosto inchado. Os pais o chamaram e ele acordou, chorando. O menino foi levado junto com a família e o policial para o Hospital Infantil, mas passa bem e está estável.

Deslizamento atingiu um prédio no final da rua Barão de Monjardim, em Vitória(Leitor)

DESLIZAMENTOS SÃO COMUNS NA REGIÃO

Pedro conta que ele e os outros moradores da região se acostumaram a conviver com o medo de deslizamentos. Em 2013, um restaurante foi destruído após uma outra pedra rolar sobre o imóvel. Dois prédios e duas casas da região foram interditadas, na ocasião.

Deslizamento na Barão de Monjardim, em 2013, destruiu um restaurante
Deslizamento na Barão de Monjardim, em 2013, destruiu um restaurante. (TV Gazeta)

Segundo o Pedro, uma árvore caiu no telhado de sua casa na última chuva mais forte que teve em Vitória. Ele e outros moradores relatam que já cansaram de ligar para a Defesa Civil e relatar a situação.

"Eu me sinto cansado. Já briguei tanto e não vi nada acontecer. Na última chuva um galho caiu lá de cima e quebrou meu telhado. Nem quis falar nada. Mas a gente fica triste. Eu moro lá desde pequeno, me sinto desprotegido e sem amparo. Acredito que a Defesa Civil deveria olhar as casas e checar se havia perigo ou não", desabafa.

A Defesa Civil esteve no local na noite deste sábado e interditou ao menos cinco prédios. Neste domingo (25), durante o dia, a Defesa Civil retornará ao local para uma nova avaliação sobre os riscos da área. A Guarda Municipal de Trânsito esteve no local e interditou parcialmente o trecho entre a Barão de Monjardim e a Henrique Novaes.

O prefeito Luciano Rezende (Cidadania) esteve no local para prestar apoio às vítimas e aos moradores do entorno, e também foi ao Hospital Infantil conversar e prestar apoio aos familiares do menino que foi socorrido.  "Estive agora, no Centro, no local do deslizamento e no hospital, com os pais, Felipe e Rowena e com o filho deles, Mateus, já atendido. Agradeço muito a Deus, à nossa Guarda, Defesa Civil, Bombeiros e a equipe do Hospital Infantil! Amanhã voltaremos a trabalhar no local", escreveu o prefeito nas redes sociais.

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