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Promotor rebate críticas da CNBB sobre aborto de menina estuprada no ES

Promotor rebate críticas da CNBB sobre aborto de menina estuprada no ES

Em mensagem publicada no último dia 17, o presidente da CNBB disse que 'a violência do aborto não se explica'. Em resposta, promotor disse que 'ficaria imensamente agradecido se uma mensagem de conforto e acolhimento fosse enviada à vítima'

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 18:06

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Suspeito de estuprar menina de 10 anos chegando ao Dml, em Vitória. O suspeito foi preso na cidade de Betim/MG e encaminhado para o Dml.
Acusado de estuprar a sobrinha de 10 anos em São Mateus foi preso. (Vitor Jubini)

O promotor da Infância e Juventude de São Mateus, no Espírito Santo, Fagner Cristian Andrade Rodrigues, respondeu, nesta quinta-feira (27), as críticas feitas pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em relação à atuação de autoridades capixabas no aborto legal de uma criança de dez anos estuprada pelo tio.

Promotor rebate críticas da CNBB sobre aborto de menina estuprada no ES

Em uma declaração publicada no último dia 19, o presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, condenou a interrupção da gravidez e disse que é "lamentável presenciar aqueles que representam a Lei e o Estado com a missão de defender a vida, decidirem pela morte de uma criança de apenas cinco meses, cuja mãe é uma menina de dez anos. Dois crimes hediondos. A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se explica, diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças”.

Na resposta enviada ao presidente da CNBB, o promotor capixaba demonstra preocupação com a mensagem do religioso e diz que "muito nos preocupa Vossa sentença na medida em que a criança vitimada, daqui a anos, possa se interessar por pesquisar na internet sobre a violência que sofrera e se deparar, além do ódio habitual que nos aflige enquanto sociedade nesses tempos sombrios, com a mais alta autoridade eclesiástica de conferência episcopal do Brasil a revitimizando pelo uso da palavra".

O promotor acrescenta, ainda, que "ficaria imensamente agradecido se uma mensagem de conforto e acolhimento fosse enviada à vítima" e finaliza o ofício com uma frase dita no último dia 22 de agosto pelo Papa Francisco.

"Deus não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas. Peço a todos que parem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego".

VEJA OFÍCIO NA ÍNTEGRA

"São Mateus, 27 de agosto de 2020.

Resposta ao ofício de 19 de agosto de 2020.

A Sua Excelência Reverendíssima O Presidente da CNBB

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Excelência Reverendíssima,

Muito gratos pelas bençãos de Deus suplicadas em favor dos servidores desta promotoria, respondemos à caridosa carta de Vossa Excelência Reverendíssima para informar que ela será repassada com satisfação ao programa de Direitos Humanos que hoje acolhe a família da pobre criança violada.

Pedimos licença, Reverendíssimo, para adentrar respeitosamente na avaliação que Vossa Excelência fizera na imprensa, no dia anterior ao envio da carta, ao comentar a violência sofrida pela criança dizendo ser “lamentável presenciar aqueles que representam a Lei e o Estado com a missão de defender a vida, decidirem pela morte de uma criança de apenas cinco meses, cuja mãe é uma menina de dez anos. Dois crimes hediondos A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se explica, diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças”.

Reverendíssimo, como órgão que zela pela Infância e Juventude muito nos preocupa Vossa sentença na medida em que a criança vitimada, um dia, daqui a anos, possa se interessar por pesquisar na internet sobre a violência que sofrera e se deparar, além do ódio habitual que nos aflige enquanto sociedade nesses tempos sombrios, embora disso não seja exemplo a manifestação aqui tratada, com a mais alta autoridade eclesiástica de conferência episcopal do Brasil a revitimizando pelo uso da palavra. É certo não fora esta a Vossa intenção. Ficaríamos imensamente agradecidos se uma mensagem de conforto e acolhimento fosse enviada à vítima.

No último 22 de agosto o Santo Padre dissera algo que nos tocou profundamente e consolou na mesma medida, “Deus não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas. Peço a todos que parem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego”. Ousamos dizer, Reverendíssimo, que a pena do Santo Padre confortava nossa menina, sentimos isso.

Protestamos elevada estima por Vossa Excelência Reverendíssima e rogamos que Vossa qualificada súplica pelas bençãos de Deus continue nos alcançando hoje e sempre.

Respeitosamente,

Fagner Cristian Andrade Rodrigues - Promotor de Justiça da Infância e da Juventude".

O CASO

A gravidez foi revelada no dia 7 de agosto, quando a menina foi a um hospital na cidade de São Mateus, onde morava com os avós, se queixando de dores abominais. A criança contou que era estuprada pelo próprio tio desde que tinha 6 anos.

O juiz Antônio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do Espírito Santo, autorizou a interrupção da gestação, que, no caso da menina, é legal no Brasil.

Após a equipe médica do Hospital Universitário Antônio Cassiano Moraes (Hucam) se recusar a fazer o aborto alegando incapacidade técnica, a menina interrompeu a gestação em Recife, no Pernambuco.

A família dela aceitou participar do Programa de Apoio e Proteção às Testemunhas, Vítimas e Familiares de Vítimas da Violência (Provita), oferecido pelo Governo do Espírito Santo e que prevê apoio como mudança de identidade e de endereço.

O suspeito do crime tem 33 anos e foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça. Ele foi preso no dia 18 de agosto, em Betim, no estado de Minas Gerais.

O teor do depoimento oficial não foi divulgado, mas, "informalmente", ele teria confessado os abusos aos policiais que fizeram a prisão. Depois de depor, foi encaminhado para a Penitenciária Estadual de Vila Velha 5, no Complexo de Xuri, em Vila Velha.

O homem foi denunciado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) no dia em que foi preso.

A Justiça do Espírito Santo aceitou denúncia e ele se tornou réu por estupro de vulnerável. Se condenado, pode pegar até 15 anos de prisão. A Polícia Civil do Espírito Santo vai comparar os perfis genéticos do feto, da menina e do tio.

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Com informações do G1 ES e da TV Gazeta

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