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Médicos investigam se Covid provocou síndrome de Kawasaki em criança

Médicos investigam se Covid provocou síndrome de Kawasaki em criança

A pequena Beatriz Dutra Amado, 3 anos, está internada no Hospital Infantil de Vila Velha. Ela foi diagnosticada com síndrome rara

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 18:32

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Médicos investigam se coronavírus provocou síndrome rara em criança no ES. (Gleyciane Dutra)

Febre alta e manchas avermelhadas pelo corpo. Esses foram os primeiros sintomas percebidos na pequena Beatriz Dutra Amado, de 3 anos. De acordo com os familiares dela, a menina foi diagnosticada com a síndrome de Kawasaki, doença rara que pode estar associada ao novo coronavírus.

Médicos investigam se Covid provocou síndrome de Kawasaki em criança

A enfermidade provoca uma inflamação no corpo que acomete principalmente os vasos coronarianos. Quando evolui de forma grave, pode resultar na formação de aneurisma nas artérias, arritmia e infarto agudo do miocárdio. Na maioria dos casos, atinge crianças de até 10 anos de idade, sendo mais comum entre os 2 e 5 anos.

A tia de Beatriz, a auxiliar administrativo Gleyciane Dutra, de 26 anos, disse que a menina está internada no Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, há 11 dias. Por causa da suspeita de infecção do novo coronavírus, ela está isolada em um quarto do hospital.

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Não tem um exame específico que fala que ela está com a síndrome de Kawasaki. Foi uma junção de sintomas e mais exames no coração que deram comprovação de que ela está com essa síndrome. Essa doença atingiu o coração dela. Afetou e dilatou uma artéria, por isso que o caso dela é um pouco mais delicado

Gleyciane Dutra
Tia da menina
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Médicos investigam se coronavírus provocou síndrome rara em criança no ES
A menina apresentou manchas vermelhas pelo corpo. (Gleyciane Dutra)

SINTOMAS

Beatriz mora em Vila Velha com a tia Gleyciane. A auxiliar contou que no último dia 20 a sobrinha estava febril. A medição de temperatura variava entre 37.2 ºC e 37.5 ºC. Mesmo preocupada, a tia decidiu não aplicar nenhum tipo de medicamento e acompanhou o estado de saúde da menina ao longo da segunda-feira.

No dia seguinte, a febre passou para 38 ºC e então Gleyciane deu um remédio de febre à criança. Já na quarta-feira (22), a temperatura foi para 39 ºC. Beatriz então foi levada a um hospital particular e foi diagnosticada com sinusite. No mesmo atendimento, os médicos localizaram uma mancha vermelha na coxa esquerda dela.

A paciente foi submetida a exame do tórax, mas nada anormal foi localizado. Para tratar a sinusite, foi receitado um antibiótico e um remédio para cortar a febre. Já medicada, e em casa, a febre de Beatriz aumentou para 40,3 ºC. Então ela foi levada para o Hospital Infantil, em Vitória, e recebeu alta no mesmo dia.

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Febre alta e constante é um dos principais sintomas da síndrome. (Gleyciane Dutra)

Na quinta-feira (23), Beatriz continuou com febre alta e intermitente. Na sexta-feira (24), a menina começou a chorar por causa dos sintomas e foi levada para o Hospital Infantil de Vila Velha, o Himaba. No local ela fez exames, mas nenhum deles apontou o que o organismo dela estava enfrentando.

“Na segunda-feira, pelo resultado dos exames e a junção dos sintomas, concluíram que era a síndrome. Da quarta passada em diante, ela só tinha piorado: inchaço nos olhos, lábios ressecados, língua inchada e avermelhada e manchas pelo corpo. Enquanto não descobriram o que era, o caso ia ficando mais grave, iam aparecendo mais sintomas”, relembrou.

CORONAVÍRUS

Há cerca de 45 dias, Gleyciane e o marido apresentaram sintomas da Covid-19 como perda de olfato, paladar, dor de cabeça, febre e indisposição. A Beatriz, que mora com o casal, não apresentou nenhum sintoma. Nenhum deles passou pelo o exame que indicava a infecção pelo vírus. Por causa desse episódio, a menina fez o teste sorológico. O resultado deve sair nesta semana.

Na tarde desta segunda-feira (3), os familiares da menina informaram que a paciente está sendo medicada e que desde domingo (2) não apresenta febre. A tia tem esperança que a menina seja curada e receba alta o quanto antes.

“Toda a minha família ficou muito abalada quando a Bia ficou doente. Fiquei dois dias chorando sem parar. Pra mim foi muito assustador e dei graças a Deus que descobriram alguma coisa. Cremos que ela vai se curar logo. A Bia é uma menina rodeada de carinho e muito querida por todos”, declara.

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Beatriz está internada desde o dia 24 de julho no Himaba, em Vila Velha . (Gleyciane Dutra)

INFLAMAÇÃO

A reumatologista pediátrica Aline Coelho Moreira da Fraga atua no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ela explicou que a doença é uma vasculite, inflamação dos vasos sanguíneos. Geralmente, acomete crianças de até 10 anos de idade.

Como sintomas ela destaca que o paciente apresenta mais de cinco dias de febre, manchas no corpo, inchaço nas mãos, nos pés, irritação, olhos vermelhos, conjuntivite, diarréia e vômito. O quadro mais temido, segundo ela, é quando o vaso sanguíneo do coração fica inflamado. O caso pode evoluir para um aneurisma.

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Para evitar que isso aconteça, a gente faz uma medicação chamada imunoglobulina. Só que essa doença é muito parecida com várias outras. Então, às vezes, demora mesmo o diagnóstico porque você nunca vai imaginar que uma febre com mancha no corpo é um Kawasaki, porque é raro. Você pensa primeiro numa dengue ou em outras viroses comuns da infância

Aline Coelho Moreira da Fraga
Reumatologista pediátrica
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Considerada uma doença já conhecida e tratada desde antes da chegada do coronavírus, a reumatologista explicou que a Síndrome de Kawasaki pode estar relacionada à qualquer infecção, inclusive à Covid-19. No entanto, os casos registrados na Europa e nos Estados Unidos mostram que ela tem acometido crianças infectadas ou já curadas da infecção pelo vírus Sars-Cov-2.

“Já os casos graves estão aparecendo nas crianças com coronavírus e são diagnosticados com a Síndrome Multissistêmica Inflamatória, que é muito parecida com o Kawasaki. A gente acha até que essa síndrome inflamatória seja um Kawasaki grave, que também é tratado com imunoglobulina. Os sintomas da síndrome são mais potencializados que os da Kawasaki. A criança fica mais grave e começa a evoluir com falência dos órgãos como pulmão e coração”, explica.

A pneumologista infantil Laís Fraga ressalta que os casos confirmados de Síndrome de Kawasaki aumentaram, sobretudo na Europa, após a chegada do novo coronavírus. Ela informa que a doença é identificada, geralmente, quatro semanas após a criança ter tido contato com o vírus que causa a Covid-19.

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O que estamos vendo é que os casos se assemelham àqueles casos dos adultos que tem sido muito grave. Acredita-se que seja uma resposta exagerada do organismo após a infecção do Covid ou daquelas crianças que tiveram contato com algum parente que foi positivo para Covid

Laís Fraga
Pneumologista infantil
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