Publicado em 7 de agosto de 2020 às 16:02
Mais de 150 cidades e 23 mil km rodados por 11 Estados brasileiros. Esses seriam os números que poderiam traduzir a vida de uma família que decidiu abandonar uma casa de quatro quartos para viver na estrada, em um ônibus adaptado de somente 25 m². No entanto, para contar essa história é preciso muito mais que isso.>
Tudo começou como um plano há cinco anos. De lá para cá, depois de centenas de dias viajando, a aventura ganhou maior proporção e os caminhos cruzaram de vez com o Espírito Santo, onde um caminhão dos bombeiros está sendo adaptado para ser um motorhome capaz de dar a volta ao mundo.>
Idealizadora da viagem sem fim, a paulista Guacira é casada com o italiano Gianluca, com quem tem dois filhos: Gregory Arthur e Gabriella Catherina. Desde o início de julho, os quatro estão vivendo em Vila Velha, antes de caírem na estrada novamente. No Estado, eles já conhecem diversos municípios e afirmaram ter feito um dos passeios mais bonitos da viagem.>
O começo dela tem data: 8 de janeiro de 2015. Na época, Guacira Newman Rugai trabalhava quase 20 horas por dia como tradutora. Muito tempo dedicado ao serviço e quase nenhum a boas noites de sono ou aos filhos. O dinheiro no final do mês dava para pagar as contas. Nada mais.>
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A única exceção ficava pelas viagens à Itália, terra natal do marido Gianluca Mario Ghisleni, para visitar a sogra a cada dois anos. Escape que ela própria prefere classificar apenas como a mesma vida em outra casa, já que a rotina continuava a mesma e os passeios eram quase inexistentes. >
Naquele dia, Guacira assistiu a um programa de viagens na televisão e decidiu que cair na estrada era o que ela queria. Com os meus filhos foi fácil. Eles tinham sete e dez anos de idade, criança adora aventura. Já meu marido ficou assustado. Ele tinha maior apego material e medo da instabilidade financeira, contou.>
Guacira Newman Rugai
Profissional de marketing, matriarca da família e idealizadora da viagemEnquanto ele aceitava a ideia, ela já estava atrás da materialização do sonho. Deu início às pesquisas na internet e via maneiras de adaptar a educação escolar dos filhos. Depois, a casa foi colocada à venda, junto com a maioria dos pertences da família. O dinheiro para o início da aventura veio de um terreno vendido na Itália. >
O planejamento durou cerca de três anos. O motorhome comprado pronto custou em torno de R$ 200 mil. Em março de 2018, a viagem começou. Saindo da cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, o roteiro era aproximado. Passaríamos o inverno no Sul do país e depois subiríamos até onde desse, resumiu Guacira. >
Preparados para o itinerário? Foz do Iguaçu (PR), Santa Catarina e Rio Grande do Sul, até o Chuí ponto mais austral do país. Seguidos pelas cidades históricas de Minas Gerais. Ainda teve Goiás, Brasília (DF) e uma travessia pela Chapada Diamantina (BA). A descida aconteceu pelo litoral baiano, capixaba e fluminense. Nada mal.>
Família já visitou mais de 150 cidades no Brasil
Em novembro, oito meses depois de caírem na estrada, eles precisavam estar em Novo Hamburgo (RS) para uma palestra sobre o novo estilo de vida. De lá, foram explorar as cidades do interior paulista, onde uma pequena pausa precisou ser feita, a fim de dar suporte à mãe de Guacira, que passaria por uma cirurgia. >
Guacira Newman Rugai
Profissional de marketing, matriarca da família e idealizadora da viagemCom o dinheiro da residência, compraram um caminhão de uma pessoa de Brasília. Antigamente usado pelo Corpo de Bombeiros, o veículo precisou ser completamente reformado. O processo perdura desde junho de 2019 e é a partir daí que a história da família cruza, de vez, com o Espírito Santo. >
É verdade que em agosto de 2018 os quatro conheceram parte do território capixaba, ficando em municípios como Guarapari, Conceição da Barra, Anchieta, Vitória e Domingos Martins. Em todos, eles têm amigos com vidas semelhantes à deles. Dentre os locais visitados, dois foram destacados na entrevista.>
Além de terem gostado muito da queridinha da Região Serrana, foi em Domingos Martins que o filho Gregory Arthur e a filha Gabriella Catherina comemoraram os aniversários de 12 e 15 anos, respectivamente. Já em Itaúnas, Guacira garantiu ter feito um dos passeios mais lindos da viagem.>
Família viajante aproveita o Espírito Santo
Agora, um ano depois, a família está de volta ao Estado. Desta vez, por causa do novo motorhome. Com placa do Espírito Santo, o caminhão teve a cabine reformada na cidade de Viana, onde eles ficaram por quatro meses passando boa parte do dia na sala dos motoristas da empresa responsável pela reformulação. >
Após idas para os Estados de São Paulo e Minas Gerais para transformar o baú do veículo em uma casa móvel, o caminhão voltou ao Espírito Santo para os últimos detalhes e os trâmites burocráticos. Desde o último dia 6 de julho, a família está ficando a 50 metros da praia de Vila Velha, no bairro Morada do Sol.>
A expectativa é que a vistoria seja feita na primeira semana de agosto para que as viagens sejam retomadas. Já são muitos meses sem viajar. Depois que o bichinho da estrada morde, você não quer mais ficar parado. Vamos ver se conseguimos conhecer o resto do Espírito Santo, comentou Guacira. >
Se o ônibus já parecia pequeno para morar, o caminhão é ainda menor: tem apenas 17 m². No entanto, a líder garante que a vantagem é que ele é mais apropriado para dar a volta ao mundo que é o plano ambicioso e prestes a ser realizado pela família. Ela também afirma que não vê pontos negativos nessa mudança.>
Guacira Newman Rugai
Profissional de marketing, matriarca da família e idealizadora da viagemQuando o novo motorhome ficar pronto, a ideia é terminar de explorar o Brasil: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; e o Norte e o Nordeste do país. Depois, quando as fronteiras estiverem abertas, ir para o exterior. Primeiro o Paraguai, depois ir subindo por toda a América até o Alasca (EUA) e, enfim, partir para a Europa. >
O novo coronavírus chegou ao Brasil na época em que o caminhão estava sendo reformado na cidade mineira de São João Del Rey. Por mais surreal que possa parecer, Guacira garante que a pandemia não afetou quase nada a rotina deles. Já vivíamos 24 horas por dia juntos, brincou. >
Segundo ela, as principais mudanças se resumem às restrições de circulação e ao uso obrigatório de máscara. Sob a perspectiva da viajante, a Covid-19 mostrou que as pessoas não devem ficar esperando o momento certo para tirar os planos do papel, porque o futuro é incerto demais.>
Guacira Newman Rugai
Profissional de marketing, matriarca da família e idealizadora da viagemPara quem tem vontade de seguir o mesmo caminho, mas ainda possui um pé atrás, ela disse palavras potentes: Foque no que é bom e realize o seu projeto. Viva. Pare de acumular coisas, porque, de uma hora para a outra, você vai embora e não usufrui de nada". Então, se for para ir a algum lugar, que seja aquele que você quiser.>
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