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Encontro de pipas movimenta Camburi, mas preocupa quem anda no calçadão

Encontro de pipas movimenta Camburi, mas preocupa quem anda no calçadão

Centenas de crianças, jovens e adultos se reúnem às terças-feiras para empinar pipa na praia; alguns frequentadores da orla, porém, temem risco de acidentes com linhas de cerol

Publicado em 29 de julho de 2022 às 15:12

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura
Soltadores de pipa se reúnem na Praia de Camburi. Alexandre Silva, 19 - barbeiro
Empinar pipa virou diversão na Praia de Camburi às terças-feiras. (Vitor Jubini)
Felipe Sena
Estagiário / [email protected]

A geração dos tablets, celulares e jogos realistas de videogame tem se encantado com uma brincadeira que resiste ao passar anos: empinar pipa. Todas as terças-feiras, centenas de crianças, jovens e adultos vêm se reunindo nas areias da Praia de Camburi, próximo ao segundo píer, para se divertir à beira-mar. Alguns até tiram o sustento deste lazer. 

A brincadeira, porém, incomodou alguns frequentadores da praia, que reclamaram do risco de acidentes em função da invasão de alguns pipeiros ao calçadão, utilizado por corredores e ciclistas para a prática de esportes ou mesmo para um passeio noturno.

Na terça-feira (26), a reportagem de A Gazeta foi até Camburi para acompanhar o encontro dos pipeiros, que já acontece no local há mais de três meses. Nem a luz do poste apagada na região impediu a diversão dos frequentadores. 

Em meio às centenas de pipas no céu de Camburi estava a do auxiliar de produção Anderson Nascimento, 31 anos. “Tem 3 meses que eu frequento aqui. Venho de Jardim Carapina, na Serra, porque o tempo que tenho para soltar pipa é à noite. Só hoje já cortei 5 (pipas). A gente puxa, desbica, descarrega e sai puxando a linha deles”, disse Anderson.

Quem também aproveitou para se divertir foi Davi Andrade, 19 anos, que trabalha com estética automotiva. “É a segunda vez que eu venho. É uma brincadeira tranquila. Hoje estou sentindo o vento mais forte, em direção à pista. Então, tem que ter um pouco mais de cuidado. A gente costuma ficar mais afastado, mas hoje, por causa da iluminação, não foi possível”, contou.

Com tantas pessoas reunidas, surgem também oportunidades de negócios. Ambulantes vão até Camburi para vender comida, além daqueles que vendem pipa e linha.

O eletricista Gledes Mião, 42 anos, fabrica pipas há cerca de 20 anos e tem planos de largar o emprego formal para se dedicar apenas ao brinquedo. “Pipa boa é aquela que é feita com carinho. Tem o prazer de colar a pipa, fazer os cortes e recortes”, conta.

Leonardo Santana, o Léo Pipa, 39, tem seu sustento exclusivamente da fabricação e venda das pipas. “Tem público de todas as idades. Tenho conseguido muitos clientes”, afirma.

RISCO DE CEROL PREOCUPA

Mas, para alguns frequentadores de Camburi, a brincadeira com pipas no local gera transtornos e até risco de acidentes para quem passa por ali. A preocupação é com o uso de cerol e de linha chilena por alguns pipeiros, na busca por "cortar" os brinquedos no momento em que estão no ar. O uso dessas linhas cortantes que utilizam vidro moído são proibidas no Espírito Santo, devido ao perigo que oferecem.

“As pessoas ficam impossibilitadas de caminhar ou andar de bicicleta no calçadão. Eles soltam pipa ali perto. Pode ter linha com cerol, com linha chilena”, reclama um frequentador de Camburi, que não quis ser identificado.

Segundo ele, também é comum ver crianças na Avenida Dante Michelini, correndo em meio aos carros, no momento em que estão soltando pipa. “As crianças vão para o meio da avenida e correm risco de serem atropeladas”, relata. Outras indignações são em relação ao som alto e ao uso de drogas no local.

Para o pipeiro Gledes Mião, o valor à vida deve ser prioridade durante a diversão. “Os principais cuidados que a gente toma são: respeitar as pessoas que caminham na orla, os ciclistas e a via pública. É preciso evitar acidentes com a linha. Para mim, a vida vem em primeiro lugar. Quando as pessoas soltam pipa conscientemente, não atrapalham ninguém”, disse.

Mião também destaca que é preciso analisar as condições do tempo para saber como conduzir o divertimento. “Quando o vento está muito forte, não dá pra colocar uma pipa grande, de 70 centímetros, por exemplo, no alto. A linha não aguenta e arrebenta”.

Léo Pipa também ressalta a importância da segurança. “A melhor coisa que tem é soltar pipa com segurança, na linha pura. Tem uns e outros e insistem em infringir a lei, mas a maioria das pessoas aqui brinca com responsabilidade”.

Nossa reportagem apurou que alguns dos frequentadores estavam usando cerol. Um deles disse: “O cerol está fininho. É feito com vidro e mais um monte de coisa”. Questionado sobre o fato de que o uso é ilegal, respondeu: “É ilegal, mas aqui, por enquanto, está legal para a rapaziada”.

Soltadores de pipa se reúnem na Praia de Camburi(Vitor Jubini)

O QUE DIZ A PREFEITURA DE VITÓRIA?

Por meio de nota, a  Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), da Prefeitura de Vitória,  informou que, por se tratar de uma reunião de pessoas ao ar livre, não há necessidade de alvará de eventos para quem estiver soltando pipas em Camburi às terças-feiras.

“Para organizar a atividade e garantir o bem-estar e a segurança dos presentes, a Sedec e a Guarda Municipal já realizaram ação integrada orientativa em relação à proibição de utilização e venda de materiais cortantes", destacou a nota.

Além disso, o grupamento de Trânsito da Guarda Municipal disse que monitora e orienta motoristas para não estacionarem em locais proibidos durante esses encontros.

Em relação à falta de iluminação na areia da praia, a Secretaria de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana (Setran) afirmou que estava com equipe em campo para verificar a situação e adotar as providências para restabelecer a iluminação nesse trecho da orla.

Soltadores de pipa se reúnem na Praia de Camburi. Gledes Mião, 42 - eletricista/fabrica e vende pipas
O eletricista Gledes Mião pretende largar o emprego formal para se dedicar à fabricação de pipas. (Vitor Jubini)

SOLTAR PIPA EXIGE CUIDADOS COM A REDE ELÉTRICA

O gestor da companhia de energia elétrica EDP, Marcio Costalonga, frisou que, caso aconteçam incidentes envolvendo a rede elétrica, a empresa trabalha para que o fornecimento seja restabelecido o mais rápido possível, mas que essa não é a principal preocupação. “Nossa preocupação maior é com a segurança. O contato das pipas com a rede elétrica pode causar acidentes graves. As pessoas devem buscar espaços abertos, como parques e campos onde não exista o risco de contato com os fios de energia”, destacou.

“Um curto-circuito ocasionado por pipas na rede elétrica pode provocar desde danos materiais até queimaduras, amputação de membros ou levar ao óbito. As pessoas nunca devem intervir na rede elétrica. A EDP deve ser acionada e equipes técnicas são deslocadas para fazer a limpeza da fiação e restabelecer o fornecimento de energia” acrescentou Costalonga.

Um levantamento realizado pela EDP constatou que foram registradas, entre janeiro a junho de 2022, 427 ocorrências envolvendo pipas que interromperam o fornecimento de energia para mais de 102 mil clientes em toda área de concessão da empresa.

A companhia listou dicas de segurança para os pipeiros.

  • Alguns materiais utilizados na confecção de pipas são condutores de energia e aumentam o perigo quando estão em contato com a rede elétrica. Rabiola feita de fios metálicos é um exemplo;
  • O uso de cerol é proibido. O cerol é um risco para motociclistas e pedestres e, também, oferece perigo no contato com a rede de energia. Ao cortar a camada protetora da fiação, a linha interrompe a transferência de corrente elétrica, podendo provocar curto-circuito;
  • Arremessar objetos na rede elétrica para o resgate da pipa pode causar graves acidentes. O “lança-gato” ou “marimba” (pedras presas a uma linha) ou qualquer outro item condutor de energia não devem ser lançados sobre a rede;
  • Empinar pipas em locais como lajes e muros deve ser evitado. A proximidade com a rede elétrica aumenta o risco de acidentes;
  • É expressamente proibido invadir as subestações da EDP para recuperar pipas e balões. Esses locais são energizados e somente pessoas autorizadas podem entrar nas estações;
  • Um acidente causado por descarga elétrica pode deixar sequelas como queimaduras e até causar a morte.

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