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100 mil infectados com coronavírus em seis meses no ES é muito ou pouco?

100 mil infectados com coronavírus em seis meses no ES é muito ou pouco?

A Gazeta conversou com profissionais da saúde, agentes públicos e técnicos que acompanham o comportamento do coronavírus no Espírito Santo para analisar ao alcance da doença

Publicado em 17 de agosto de 2020 às 19:00

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Seis meses após o primeiro registro de infecção por Covid-19 no Espírito Santo, o Estado bateu a marca de 100.859 contaminados pelo novo coronavírus, na tarde desta segunda-feira (17). Para se ter uma ideia, esse quantitativo de pessoas que testaram positivo para a nova doença lotaria pelo menos cinco estádios como o Kleber Andrade, em Cariacica, que tem 19.600 lugares. 

Mas, considerando o período de disseminação do vírus e a população capixaba, próxima de 4 milhões de habitantes, o total de infectados pode ser considerado alto ou baixo?

Na avaliação de profissionais da saúde, agentes públicos e técnicos que acompanham o comportamento do coronavírus no Espírito Santo, ouvidos por A Gazeta, o alcance da doença no Estado foi expressivo, mas poderia ter sido ainda maior, caso medidas restritivas não tivessem sido adotadas ou se o número de testagem fosse ampliado. 

De acordo com o Painel Covid-19, ferramenta da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), as mulheres são alvos principais da doença e totalizam 53.312 infectadas. Do total de diagnósticos positivos, a maioria dos contaminados tem idade entre 40 a 49 anos. Já as comorbidades mais recorrentes são cardiopatia e diabetes.   

O histórico da doença no Espírito Santo começa antes do carnaval. A Secretaria de Estado da Saúde informou que identificou anticorpos para a Covid-19 na amostra de uma paciente no dia 11 de fevereiro. Antes desse teste ser detectado, a confirmação oficial do primeiro caso do novo coronavírus no Estado era de 26 de fevereiro.

A primeira amostra que atesta o coronavírus no Espírito Santo foi coletada em uma paciente que fez doação de sangue no Hemoes do município de Guarapari. De acordo com o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, a paciente não viajou para o exterior e apresentou sintomas respiratórios um mês antes da doação de sangue, estando assintomática nos últimos 14 dias anteriores à doação.

COMPORTAMENTO DA COVID

Com a chegada da pandemia no Espírito Santo, o coronavírus se espalhou da região metropolitana para o interior do Estado, observa o presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira. Ele destaca que, entre março e abril, a doença ficou concentrada em Vitória e nos municípios vizinhos que têm um alto nível de integração com a Capital: SerraCariacica e Vila Velha. Os primeiros bairros com mais registros foram Jardim da Penha, Praia do Canto, Jardim Camburi, Mata da Praia, em Vitória, e Itapoã e Praia da Costa, em Vila Velha.

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São os bairros que têm a maior parte da população que usa o transporte aeroviário e, portanto, pessoas que viajaram para fora do país quando a disseminação da doença não era classificada como pandemia. Num segundo momento, a geografia constatou o registro de casos nas periferias da região metropolitana

Pablo Lira
Presidente do Instituto Jones dos Santos Neves
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No terceiro estágio, por conta da dinâmica da circulação de pessoas no Estado, a doença se alastrou para os municípios do Sul, Norte e Noroeste do Espírito Santo, atingindo todas as regiões, contaminando 100.859 pessoas e  2.907 óbitos,  segundo informações divulgadas nesta segunda-feira (17), no Painel Covid-19, do governo estadual.  

TESTES 

Na avaliação da doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, a marca de mais de 100 mil contaminados no Espírito Santo é "muito expressiva". Além dos testes positivos, ela chama a atenção para os números obtidos no inquérito sorológico, realizado pelo governo, que apontou que mais de 262 mil capixabas e domiciliados no Estado já podem ter tido contato com o coronavírus.

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O número só é menor porque não fizemos testes suficientes. Se tivéssemos feitos mais testes, a quantidade seria ainda maior. O teste sempre foi muito importante para  conseguirmos as melhores estratégias de isolamento

Ethel Maciel
Doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia
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A doutora em Epidemiologia mostra preocupação com a capacidade de testagem, principalmente, no momento em que há discussão sobre o retorno das atividades presenciais nas escolas. No último dia 8, o governo do Estado divulgou portaria que trata das regras que devem ser seguidas quando a aulas forem autorizadas. A expectativa é de que o retorno seja em setembro.

“O sistema de saúde tem que ser capaz, de no momento que se identifica pessoas positivas em um setor ou numa escola, fazer todos os exames dos contatos daquela pessoa e isolar aquele local. Temos muitas pessoas protegidas atualmente. Se começar a flexibilizar, essas pessoas podem ficar vulneráveis e podemos ter mais casos do que a capacidade do sistema de saúde atual”, pondera. 

CURVA

Professor do Departamento de Matemática da Ufes e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), Etereldes Gonçalves Junior explica que, neste momento em que bateu mais de 100 mil infectados, o Estado alcançou um estágio de descida da curva epidemiológica, que indica os casos de contágio e morte por Covid-19.

“A gente já passou pela fase mais aguda e já está descendo. Aqui no Estado, se for olhar a região metropolitana e o interior, eles têm realidades diferentes. A gente nem pode dizer que a reabertura das atividades impactou de algum jeito, porque logo depois que atingimos o pico, a curva começou a descer e na descida a melhor estratégia é reabrir. Essa reabertura gradual impacta pouco. A dinâmica da epidemia é essa. Estamos em queda em todas regiões do Estado”, informou.

O presidente do IJSN destaca que, embora o total de 100.859 contaminados seja alto, as medidas restritivas adotadas pelos gestores públicos contribuíram para o controle de casos. “São números elevados, mas vale destacar que poderiam ser muito maiores ao ponto que, se a gente olhar as taxas de transmissão no início da pandemia no Espírito Santo, tínhamos um patamar de 3,5 no início de abril. Ou seja, a cada 10 pessoas, a gente tinha contaminação de outras 35. Imagina o impacto no número de casos se a taxa de transmissão permanecesse nesse nível”, sugeriu.

Além de reconhecer o impacto da Covid-19 nos sistema de saúde e na rotina da população capixaba, Pablo afirma que o uso de máscaras, o distanciamento social e a conscientização das pessoas que cumpriram o isolamento social contribuíram para que o Estado alcançasse o estágio de estabilização da doença nos meses de julho e agosto.

Dados apresentados pelo Instituto Jones dos Santos Neves, a partir de análises da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam que o Espírito Santo é o oitavo estado brasileiro no ranking de casos confirmados e óbitos no cálculo realizado numa taxa de 100 mil habitantes. Os dados foram coletados entre os dia 11 e 12 de agosto. “A gente conseguiu desacelerar o crescimento da curva epidemiológica por conta da ação rápida do Estado", aponta Lira.

Ele cita outro dado comparativo para demonstrar o bom desempenho do Estado no controle da doença. “Observando o painel da Universidade John Hopkins, até o mês de junho, o Espírito Santo era o oitavo estado com maior número de casos confirmados no Brasil. Agora, o dado mais atual é de que o ocupamos o décimo terceiro lugar. Ficamos com o número de casos confirmados abaixo de estados que têm população semelhante a nossa”, ponderou.

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