Seis meses após o primeiro registro de infecção por Covid-19 no Espírito Santo, o Estado bateu a marca de 100.859 contaminados pelo novo coronavírus, na tarde desta segunda-feira (17). Para se ter uma ideia, esse quantitativo de pessoas que testaram positivo para a nova doença lotaria pelo menos cinco estádios como o Kleber Andrade, em Cariacica, que tem 19.600 lugares.
Mas, considerando o período de disseminação do vírus e a população capixaba, próxima de 4 milhões de habitantes, o total de infectados pode ser considerado alto ou baixo?
Na avaliação de profissionais da saúde, agentes públicos e técnicos que acompanham o comportamento do coronavírus no Espírito Santo, ouvidos por A Gazeta, o alcance da doença no Estado foi expressivo, mas poderia ter sido ainda maior, caso medidas restritivas não tivessem sido adotadas ou se o número de testagem fosse ampliado.
De acordo com o Painel Covid-19, ferramenta da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), as mulheres são alvos principais da doença e totalizam 53.312 infectadas. Do total de diagnósticos positivos, a maioria dos contaminados tem idade entre 40 a 49 anos. Já as comorbidades mais recorrentes são cardiopatia e diabetes.
O histórico da doença no Espírito Santo começa antes do carnaval. A Secretaria de Estado da Saúde informou que identificou anticorpos para a Covid-19 na amostra de uma paciente no dia 11 de fevereiro. Antes desse teste ser detectado, a confirmação oficial do primeiro caso do novo coronavírus no Estado era de 26 de fevereiro.
A primeira amostra que atesta o coronavírus no Espírito Santo foi coletada em uma paciente que fez doação de sangue no Hemoes do município de Guarapari. De acordo com o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, a paciente não viajou para o exterior e apresentou sintomas respiratórios um mês antes da doação de sangue, estando assintomática nos últimos 14 dias anteriores à doação.
Com a chegada da pandemia no Espírito Santo, o coronavírus se espalhou da região metropolitana para o interior do Estado, observa o presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira. Ele destaca que, entre março e abril, a doença ficou concentrada em Vitória e nos municípios vizinhos que têm um alto nível de integração com a Capital: Serra, Cariacica e Vila Velha. Os primeiros bairros com mais registros foram Jardim da Penha, Praia do Canto, Jardim Camburi, Mata da Praia, em Vitória, e Itapoã e Praia da Costa, em Vila Velha.
No terceiro estágio, por conta da dinâmica da circulação de pessoas no Estado, a doença se alastrou para os municípios do Sul, Norte e Noroeste do Espírito Santo, atingindo todas as regiões, contaminando 100.859 pessoas e 2.907 óbitos, segundo informações divulgadas nesta segunda-feira (17), no Painel Covid-19, do governo estadual.
Na avaliação da doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, a marca de mais de 100 mil contaminados no Espírito Santo é "muito expressiva". Além dos testes positivos, ela chama a atenção para os números obtidos no inquérito sorológico, realizado pelo governo, que apontou que mais de 262 mil capixabas e domiciliados no Estado já podem ter tido contato com o coronavírus.
A doutora em Epidemiologia mostra preocupação com a capacidade de testagem, principalmente, no momento em que há discussão sobre o retorno das atividades presenciais nas escolas. No último dia 8, o governo do Estado divulgou portaria que trata das regras que devem ser seguidas quando a aulas forem autorizadas. A expectativa é de que o retorno seja em setembro.
O sistema de saúde tem que ser capaz, de no momento que se identifica pessoas positivas em um setor ou numa escola, fazer todos os exames dos contatos daquela pessoa e isolar aquele local. Temos muitas pessoas protegidas atualmente. Se começar a flexibilizar, essas pessoas podem ficar vulneráveis e podemos ter mais casos do que a capacidade do sistema de saúde atual, pondera.
Professor do Departamento de Matemática da Ufes e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), Etereldes Gonçalves Junior explica que, neste momento em que bateu mais de 100 mil infectados, o Estado alcançou um estágio de descida da curva epidemiológica, que indica os casos de contágio e morte por Covid-19.
A gente já passou pela fase mais aguda e já está descendo. Aqui no Estado, se for olhar a região metropolitana e o interior, eles têm realidades diferentes. A gente nem pode dizer que a reabertura das atividades impactou de algum jeito, porque logo depois que atingimos o pico, a curva começou a descer e na descida a melhor estratégia é reabrir. Essa reabertura gradual impacta pouco. A dinâmica da epidemia é essa. Estamos em queda em todas regiões do Estado, informou.
O presidente do IJSN destaca que, embora o total de 100.859 contaminados seja alto, as medidas restritivas adotadas pelos gestores públicos contribuíram para o controle de casos. São números elevados, mas vale destacar que poderiam ser muito maiores ao ponto que, se a gente olhar as taxas de transmissão no início da pandemia no Espírito Santo, tínhamos um patamar de 3,5 no início de abril. Ou seja, a cada 10 pessoas, a gente tinha contaminação de outras 35. Imagina o impacto no número de casos se a taxa de transmissão permanecesse nesse nível, sugeriu.
Além de reconhecer o impacto da Covid-19 nos sistema de saúde e na rotina da população capixaba, Pablo afirma que o uso de máscaras, o distanciamento social e a conscientização das pessoas que cumpriram o isolamento social contribuíram para que o Estado alcançasse o estágio de estabilização da doença nos meses de julho e agosto.
Dados apresentados pelo Instituto Jones dos Santos Neves, a partir de análises da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam que o Espírito Santo é o oitavo estado brasileiro no ranking de casos confirmados e óbitos no cálculo realizado numa taxa de 100 mil habitantes. Os dados foram coletados entre os dia 11 e 12 de agosto. A gente conseguiu desacelerar o crescimento da curva epidemiológica por conta da ação rápida do Estado", aponta Lira.
Ele cita outro dado comparativo para demonstrar o bom desempenho do Estado no controle da doença. Observando o painel da Universidade John Hopkins, até o mês de junho, o Espírito Santo era o oitavo estado com maior número de casos confirmados no Brasil. Agora, o dado mais atual é de que o ocupamos o décimo terceiro lugar. Ficamos com o número de casos confirmados abaixo de estados que têm população semelhante a nossa, ponderou.
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