Publicado em 8 de março de 2021 às 11:58
- Atualizado há 5 anos
Uma pesquisa inédita do Ecad -Escritório Central de Arrecadação e Distribuição- revela que o número de mulheres brasileiras compositoras aumentou bastante na última década. A maior parte do valores distribuídos de direitos autorais de música, no entanto, ainda é destinada aos homens. >
Esta é a primeira vez que o grupo, responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais do setor, divulga dados comparativos dos gêneros feminino e masculino.>
O estudo usou como base a quantidade ativa de titulares de pessoa física cadastrada na gestão coletiva -composta por sete associações-, apta a receber rendimentos por execução pública de obras musicais.>
Nos casos de titulares sem gênero identificado -a informação é opcional-, o Ecad fez um cruzamento de dados com o Ibge, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.>
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Em 2010, o Brasil tinha cerca de 23 mil mulheres compositoras. Já em 2020, o país registrou mais de 365 mil autorias femininas, o que representa um aumento de 1.474% na década. Além disso, a quantidade de artistas mulheres também teve um aumento expressivo, de 275%, como mostra o relatório.>
"Isso tudo é um reflexo de termos cada vez mais mulheres no mercado de trabalho, o que é ótimo", disse Isabel Amorim, superintendente executiva do Ecad, à Folha. "Mas também é importante ter em mente que o cadastro [no Ecad] não significa, necessariamente, um faturamento maior. Tudo depende da execução pública da obra.">
Se por um lado as mulheres estão ganhando mais espaço no cenário musical brasileiro, por outro a mudança caminha a passos lentos.>
No ano passado, por exemplo, o Ecad distribuiu cerca de R$ 947,9 milhões para 263 mil titulares --autores, intérpretes, músicos acompanhantes, produtores fonográficos e/ou editores-- e associações. Das pessoas físicas que receberam o rendimento, apenas 7,1% são mulheres, enquanto 92,6% são homens.>
Entre os cem compositores com maior arrecadação em direitos autorais em 2020, há apenas duas mulheres. Os nomes dos artistas não são revelados por medidas de sigilo.>
Quando olhamos para este mesmo ranking nos últimos cinco anos, vemos ainda que a média de participação feminina foi de apenas 4%, de acordo com a pesquisa.>
Somente 14% das 300 mil músicas mais tocadas nos últimos anos têm mulheres entre os autores. O dado também considera os maiores lucros por execução em rádio, casas de show, apresentações ao vivo, festas populares e sonorização ambientada.>
Entre as músicas, o gênero musical de maior destaque é o sertanejo, o que não surpreende tendo em vista sua expansão nos últimos anos.>
A artista Waleria Leão aparece na oitava posição, por "50 Reais", ao lado de outros quatro autores, dos quais três são masculinos. O hit foi lançado em 2016 pela cantora Naiara Azevedo.>
Assim como Leão, outras mulheres aparecem no ranking com parcerias masculinas. Os homens são a grande maioria dos autores da lista, até mesmo quando as letras são mais volatadas ao público feminino.>
Em entrevista à Folha, em 2019, Leão disse que desde a composição de "50 Reais" passou a fazer "música feminina", apesar de seus maiores sucessos serem cantados por homens. "Agrado a mulher, só que na voz do homem. Tipo assim [canta 'Delicinha', que ela fez para Gabriel Gava]: 'Delicinha, volta para a vida minha'.">
Grandes hits feministas, aliás, têm composições inteiramente masculinas, como é o caso de "Deus Há de Ser", cantada por Elza Soares, "Mina", da Negra Li, e "Não Sou Obrigada", da Pocah.>
Já em uma amostra com mais de 12 milhões de obras registradas até 2020, é possível notar na pesquisa do Ecad que a participação feminina representa pouco mais de 10%, o que revela uma queda de 8% em relação à última década. O motivo é, provavelmente, o crescimento do número geral de cadastros neste período, que também teria aumentado a participação masculina, de acordo com estimativas da assessoria do Ecad.>
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