Publicado em 16 de junho de 2021 às 14:06
"Você tem um nome a zelar? Pois eu tenho um nome a lazer", gostava de repetir o humorista Bussunda, mesmo antes do sucesso nacional que alcançou com o programa "Casseta & Planeta Urgente". >
Ele curtia mesmo era não fazer nada, mas seu sucesso o impediu de levar a vida na gaita. Morreu, inclusive, quando estava a trabalho, gravando esquetes na Copa do Mundo da Alemanha. A data, 17 de junho de 2006, faz 15 anos agora, e não passará despercebida. >
O Globoplay põe no ar a série inédita "Meu Amigo Bussunda", feita sob medida para homenagear Cláudio Besserman Vianna --seu nome verdadeiro-- e divertir e emocionar seus inúmeros fãs pelo país. >
É um documentário em quatro partes, muito fáceis de assistir, pela leveza do assunto, qualidade da edição e duração não maior que 45 minutos por capítulo. A direção geral é de Cláudio Manoel, amigo, colega e parceiro da quadrilha Casseta. >
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Mas comecemos pelo final, pois o último episódio chama a atenção. Ali, há a filha de Bussunda, Júlia Besserman, nos dois lados da câmera, assinando o roteiro e a direção ao lado de Micael Langer. >
É de longe o capítulo mais impactante, já que reconstrói o dia anterior à morte de Bussunda, detalhando, por exemplo, que após gravar alguns esquetes, ele se empanturrou de cerveja com eisben ou salsichas, dependendo do entrevistado. >
Ao chegar ao hotel, foi jogar bola com Cláudio Manoel e outros no campinho do hotel. Correu, passou mal e não se recuperou mais. Depois de uma noite sem sossego, morreu na manhã seguinte. >
Na segunda parte desse último capítulo, a filha, hoje com 27 anos, vai para a frente das câmeras e começa uma investigação para tentar entender um pouco mais de seu pai. Ela tinha 12 anos em 2006. Assim, entrevista amigos do pai, atores, tios, primos, a própria mãe. E também humoristas da atualidade em busca de um conceito caro para sua geração --o politicamente correto. >
Quem se lembra daqueles programas semanais do "Casseta & Planeta" na Globo --ou, se nunca viu, basta assistir aos três outros episódios de "Meu Amigo Bussunda"--, sabe que a absoluta maioria das piadas de Bussunda e sua turma eram sexistas para caceta. >
Havia anões fazendo figuração em seus quadros. Montes de modelos de biquíni que não diziam uma sílaba. Muita piada terminava com a ameaça de passar a mão na bunda de alguém. O próprio Hélio de La Peña foi criticado por fazer graça com sua negritude e comenta o assunto na série. >
Fábio Porchat traz tranquilidade à filha do artista, e aos fãs, ao sugerir que não há nada mais injusto com o humor do que o analisar descolado de seu tempo. Ele tem razão, e não só a respeito do humor, como sobre qualquer outra coisa também. >
Portanto, é possível assistir aos três primeiros episódios e dar gargalhadas com a consciência limpa. E lá vamos nós. >
O primeiro capítulo traz a infância, adolescência e o início da carreira de Bussunda. Seu brilho dá mostras desde cedo e ele já se destaca como o cara mais engraçado, inteligente, que tem as melhores tiradas e, mais, um rapaz que encanta a todos, de quem todo mundo quer ficar perto. >
Mas ser legal assim não enche barriga e seus pais e irmãos o tentavam pôr nos trilhos. De classe média em Copacabana, ele diria depois que foi "fazer comunicação apenas porque não precisava estudar nada". >
Seu status de jornalista, no entanto, foi o que o aproximou de Hélio, Beto Silva, Marcelo Madureira e Cláudio Manoel para compor a Redação do fanzine, e depois revista, Casseta Popular. Na concorrência, havia o jornal Planeta Diário, de Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva. >
Em comum, a tiração de sarro geral e irrestrita, politicamente incorreta. As duas gangues foram se encontrar na redação da "TV Pirata", programa que reformulou totalmente o humor televisivo no final dos anos 1980. >
E viraram uma quadrilha só ao criarem um show musical humorístico que foi o bafon da noite carioca em 1988. O projeto virou o LP de sucesso "Preto com um Buraco no Meio", que trazia entre seus hits o refrão, escrito por Bussunda para sua futura mulher, "mãe é mãe/ paca é paca/ mulher é tudo vaca". >
Em 1992, estrearam o "Casseta & Planeta Urgente" na Globo e estouraram no Brasil inteiro. O programa ficaria no ar por 18 anos consecutivos e a turma ainda faria dois longas-metragens e lançaria 11 livros. Nada mal para quem tinha só um nome a lazer. >
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