Publicado em 21 de maio de 2020 às 10:06
Ao anunciar o afastamento da atriz Regina Duarte do comando da Secretaria Especial de Cultura nesta quarta-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que ela iria para a Cinemateca Brasileira, responsável pela preservação e difusão do patrimônio audiovisual brasileiro. >
Questões jurídicas podem dificultar a ida da atriz para a instituição, no entanto. Isso porque a Cinemateca Brasileira deixou de ser administrada diretamente pelo governo federal há quatro anos, quando teve sua gestão transferida para uma Organização Social (OS), a Acerp, Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto. O modelo usa características de administração privadas em entidades públicas.>
A advogada Marcela Arruda, sócia do escritório Rubens Santos Naves Jr. e especialista em direito administrativo, afirma que, para Regina assumir alguma função relacionada à Cinemateca, haveria três alternativas.>
A primeira seria a sua contratação pelo próprio governo federal para a coordenação-geral da Cinemateca, um cargo de confiança. Nele, Regina atuaria como representante da Secretaria do Audiovisual e supervisionaria as ações do equipamento.>
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Nada impede também que a própria Acerp contrate diretamente Regina. Mas, lembra a advogada, uma das principais características do modelo das organizações sociais é a autonomia de gestão.>
Internamente, o principal cargo existente que poderia ser ocupado pela atriz é o de superintendente da Cinemateca, hoje ocupado por Roberto Barbeiro, indicado pelo Republicanos e que conta com a benção do Bispo Edir Macedo, da Igreja Universal.>
Uma terceira possibilidade seria a ruptura com o modelo de OSs e o retorno da Cinemateca à administração federal, em que os funcionários são alocados diretamente pelo governo.>
Seja qual dos meios for escolhido, no entanto, antes de tudo o governo federal precisaria resolver a situação da Cinemateca, hoje ameaçada por falta de recursos.>
O contrato governamental com a Acerp foi assinado em 2018. Desde então, o governo faz um repasse anual à Roquette Pinto para gerir o espaço.>
No ano passado, a previsão era de entrada de R$ 13 milhões, mas apenas R$ 7 milhões foram transferidos até dezembro. A demora, dizem pessoas ligadas ao tema, está relacionada à desestruturação da Secretaria de Cultura, que tem parte de suas funções na Cidadania e parte no Turismo.>
Com 64 funcionários, tem previsão de receitas de R$ 11 milhões para 2020, queda de 14,7% com relação ao ano passado, em termos nominais.>
Pessoas do meio veem risco de prejuízo ao acervo, já que são exigidas salas climatizadas e processos químicos para o correto acondicionamento.>
No Congresso, parlamentares relatam dificuldades para transferir, por exemplo, recursos de emendas para a Cinemateca por impedimento por parte do governo federal em empenhá-las.>
Responsável por costurar a saída de Regina Duarte da Secretaria Especial da Cultura, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) disse nesta quarta no Palácio do Planalto que a formalização da ida da atriz para a Cinemateca de São Paulo ainda está pendente.>
Segundo a deputada, a nomeação da agora ex-secretária depende de questões burocráticas que não têm prazo para serem resolvidas.>
Depois de passar por semanas de fritura, Regina foi destituída do cargo de secretária especial de Cultura, no qual permaneceu por menos de três meses.>
Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo nesta quarta (20), a atriz costurou uma "saída honrosa" do governo Bolsonaro com a ajuda de Zambelli e de militares auxiliares do presidente.>
"A secretária [Regina] não saiu ainda [do cargo]. Ela vai fazer a transição", disse Zambelli no Palácio do Planalto.>
"Vai primeiro ter um decreto, tem uma organização que precisa ser feita para ela poder ir para a cinemateca", acrescentou. "A formalização da ida [para a Cinemateca] dela [Regina] precisa resolver essa questão burocrática. E aí vincular como um cargo do governo em São Paulo.">
Os detalhes do que seriam essa transição não foram esclarecidos nem pela parlamentar, nem pelo Planalto e nem pela atriz.>
Após café da manhã no Palácio da Alvorada pela manhã, a ex-atriz global se deixou filmar com Bolsonaro para dar uma versão mais leve para sua saída, de que estaria com saudades de seus familiares, que moram em São Paulo, e que por isso deixaria o governo para assumir a Cinemateca, que fica na capital paulista.>
Aliados de Regina, que viam com ceticismo essa costura de acordo com Zambelli, também são reticentes sobre essa indicação para a Cinemateca e veem grandes chances de isso não ser cumprido.>
Segundo Zambelli, a nomeação de Regina depende da edição de um decreto que reestrutura a Secretaria Especial de Cultura. Essa mudança está pendente desde janeiro deste ano, quando Roberto Alvim foi demitido do cargo após parafrasear um ministro da Alemanha nazista.>
Reduzida de ministério a secretaria na gestão Bolsonaro, a Cultura era subordinada ao Ministério da Cidadania e foi transferida para o Turismo no fim de 2019. Como a mudança não foi feita completamente, a estrutura está na prática dividida entre as duas pastas.>
A edição do decreto foi mais uma das derrotas de Regina em sua rápida passagem pelo governo. Ela tentou, sem sucesso, modificar a estrutura da Secretaria, o que poderia lhe garantir mais autonomia para trabalho.>
Zambelli afirmou ainda que a ex-secretária da Cultura deve preparar uma série de vídeos com divulgações sobre o trabalho da atriz à frente da estrutura.>
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