Inflação corrói a renda e interrompe a curta era da taxa de juros baixíssima

Uma péssima notícia para o ministro Paulo Guedes, que tinha na derrubada da taxa de juros, iniciada no governo Temer e mantida na gestão Bolsonaro, como um de seus feitos

Publicado em 06/08/2021 às 02h00
Selic
Copom elevou a Selic a 5,25% nesta quarta-feira (4). Crédito: Reprodução/Internet

taxa básica de juros, a Selic, chegou a 5,25% nesta quarta-feira (4), em decisão do Comitê de Política Monetária (Copom),  como parte da estratégia do Banco Central para frear o consumo e reduzir a demanda, controlando assim a inflação, que não tem dado trégua. A calibragem é decorrente da persistente escalada dos preços e das expectativas de alta da inflação pelo mercado.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 8,35%, bem acima do teto da meta (5,25%), no acumulado dos 12 meses. Em junho, sob pressão do aumento da energia elétrica, a inflação teve um acréscimo de 0,53%. E o mercado financeiro tem com recorrência aumentado a projeção para a inflação de 2021. A previsão no mais recente relatório Focus, do Banco Central, é de que o IPCA registre alta de 6,79% no ano.

Nesse cenário pessimista, o Copom se viu obrigado a tomar a dura decisão de imprimir o aumento de 1 ponto percentual na Selic, o que representa a maior alta na taxa em 18 anos. Desde março, quando, após sete meses na mínima histórica de 2%, a Selic foi elevada a 2,75%, o mercado tem aguardado essas elevações progressivas. Com a marca desta quarta-feira, a expectativa é de que até o fim do ano a taxa de juros chegue a 8%.

Uma péssima notícia para o ministro Paulo Guedes, que tinha na derrubada da taxa de juros, iniciada no governo Temer e mantida na gestão Bolsonaro, como um de seus feitos, ao lado da reforma da Previdência. A questão é que não é somente o potencial inflacionário que motiva o aumento da Selic, o quadro fiscal preocupante do país também tem impacto na decisão.

E não há outro responsável pela falta de perspectiva de equilíbrio nas contas públicas do que o próprio governo, ainda incapaz de tocar as reformas estruturantes. Até mesmo na relação com o Congresso, a política que tem sido desenhada enfoca outras ditas prioridades, enquanto as reformas ficam para trás.

O processo inflacionário até certo ponto escapa aos atos da administração pública, por envolver uma série de fatores, como câmbio, flutuação das commodities e aumento da exportação. A pandemia acentuou o problema com as restrições que afetaram a atividade econômica. Agora, o Banco Central prevê que deve haver novas pressões sobre a inflação com a possível elevação do adicional da bandeira tarifária de energia e novos aumentos nos preços de alimentos, em decorrência de adversidades climáticas. A decisão de aumentar a taxa de juros é uma reação a esse choque inflacionário inevitável.

De um lado, a população sofre com o desemprego e com reajustes salariais que não acompanham a inflação, ao mesmo tempo que sofre o impacto da carestia nas compras do supermercado ou nas contas essenciais. Para conter esse processo, a elevação da taxa de juros pode ajudar no cumprimento de metas de inflação. Por outro lado, reduz o estímulo à atividade econômica. Há um impacto, portanto, sobre o emprego e a renda, afetando diretamente o cidadão. A interrupção da era dos juros baixíssimos é mais um sinal de que o país precisa começar a dar respostas estruturais para conseguir um crescimento econômico sustentável.

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