Publicado em 3 de março de 2023 às 10:56
SÃO PAULO, SP - Em carta aberta para a sociedade brasileira, a direção da vinícola Aurora afirmou nesta quinta-feira (2) que está envergonhada com os acontecimentos recentes envolvendo sua relação com a Fênix Prestação de Serviços, uma das duas empresas investigadas por manter trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.>
"Aprendemos com aqueles que vieram antes que, sem trabalho, nada seríamos. O trabalho é sagrado. Trair esse princípio seria trair a nossa história e trair a nós mesmos. Entretanto, ainda que de forma involuntária, sentimos como se fora isso que fizemos", diz trecho da carta, publicada no site da vinícola.>
Os trabalhadores, que prestavam serviços para as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi, estavam em um alojamento onde viviam sob ameaças e vigilância armada e de onde só podiam sair para trabalhar, segundo disseram ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério do Trabalho e Emprego, que investigam o caso.>
Na carta, a Aurora pede desculpa aos trabalhadores, afirma repudiar a situação e diz que a exploração é intolerável.>
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"A testa daqueles que fazem o Brasil acontecer, todos os dias, às custas do seu suor honesto, deveria estar sempre erguida, orgulhosa, e nunca subjugada pela ganância de uns poucos", diz o texto.>
A vinícola pediu desculpa também ao "povo brasileiro" e prometeu rever práticas e adotar medidas para que o episódio investigado não volte a acontecer.>
Segundo a carta aberta, a empresa está trabalhando em um programa de mudanças para qualificar a relação com os parceiros e assumir o controle de todos os processos de produção que a envolvem.>
"Estamos aqui, com a mente e o coração abertos, a começar tudo de novo, se for preciso, como fizeram nossos antepassados ao aqui desembarcarem", afirmou a empresa, criada por imigrantes italianos no início do século passado.>
As três vinícolas já haviam divulgado nota dizendo que repudiam violações de direitos humanos e que não tinham conhecimento da situação.>
Os trabalhadores foram resgatados na quarta-feira (22) e relataram ter sido enganados pela promessa de emprego temporário, salário de R$ 4.000, alojamento e refeições pagas.>
Segundo o Ministério Público do Trabalho, representantes legais das empresas investigadas apresentaram nesta quinta documentação comprovando o pagamento das verbas rescisórias dos trabalhadores resgatados, a maioria da Bahia, para onde voltaram. Os valores foram determinados em um termo de ajustamento de conduta emergencial.>
A ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) decidiu suspender a participação das vinícolas em feiras, missões comerciais e eventos promocionais até que as investigações que apuram trabalho escravo sejam concluídas.>
O vereador Sandro Fantinel (sem partido), que em discurso na Câmara de Caxias do Sul (RS) aconselhou empresários e produtores rurais gaúchos a contratarem "funcionários limpos", "não aquela gente lá de cima" em referência a baianos, agora é alvo de um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar. A decisão, unânime, foi tomada pelo Legislativo nesta quinta.>
"Depois de um turbilhão nacional, afundando o nome de uma pessoa que nunca matou ninguém, e simplesmente proferiu algumas palavras indevidas e pediu desculpas, meus colegas vereadores não tinham como não aprovar", reagiu Fantinel.>
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o vereador pediu desculpa e afirmou ter tido um lapso mental ao proferir palavras que não representam o que pensa e sente.>
"Registro que tenho muito apreço ao povo baiano e a todos do Norte e Nordeste do país", disse. "Somos todos iguais e estou profundamente arrependido".>
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