Publicado em 28 de abril de 2020 às 22:10
Senadores tentam incorporar ao projeto de socorro a Estados e municípios a possibilidade de que entes da federação possam ampliar o endividamento com garantias da União.>
O Senado está prestes a votar a proposta de ajuda financeira a Estados e municípios durante a crise do coronavírus.>
O Ministério da Economia é contra a proposta. Segundo técnicos da pasta, ela poderia estender o efeito da crise nas contas públicas para os próximos anos.>
O tema estava previsto na primeira versão do plano de socorro finalizado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Porém, foi retirado. O texto chegou ao Senado sem a medida.>
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Agora, os senadores tentam incluir a garantia na proposta. O projeto deverá ser votado no próximo sábado (2).>
"As regras de financiamento precisam ser flexibilizadas. Vamos propor que isso esteja garantido no projeto que será votado", afirmou o senador Esperidião Amin (PP-SC).>
Amin foi responsável pela decisão da Mesa Diretora do Senado que anexou o texto da Câmara a um que já estava na Casa.>
O novo projeto está sendo construído diretamente pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ele é o relator da proposta. A negociação é feita com a equipe de Paulo Guedes (Economia).>
No texto, contudo, não há ainda previsão para que o endividamento de governadores e prefeitos possa ser ampliado.>
Inicialmente, Maia defendeu que Estados possam contratar empréstimos e financiamentos. O limite seria 8% da receita corrente líquida do ano passado (cerca de R$ 50 bilhões).>
O reforço no caixa seria usado para custear medidas de enfrentamento ao novo coronavírus e para estabilizar a arrecadação em 2020.>
Sob duras críticas da equipe de Guedes, o presidente da Câmara retirou essa medida do pacote de socorro aprovado pelos deputados.>
Técnicos dizem acreditar que a ampliação da margem de endividamento não se restringiria ao combate à pandemia. O dinheiro poderia ser usado inclusive nos próximos anos. Quando o Tesouro dá a garantia para a operação financeira, o prejuízo será dos cofres públicos em caso de calote.>
Medida semelhante estava prevista no plano Mansueto, em referência ao secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.>
Só que para ter acesso aos recursos, Estados e municípios teriam de adotar medidas de contrapartida. Entre elas, estavam reduzir benefícios tributários e privatizar empresas.>
A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça do Senado), Simone Tebet (MDB-MS), defende que, caso a permissão de os estados contraírem o financiamento não esteja no texto, o tema possa ser analisado em outro projeto de lei.>
A medida seria votada então após o plano de socorro.>
"Tudo que o Davi puder fazer para ajudar Estados e municípios, ele vai fazer. Não adianta colocarmos no projeto e o presidente [Jair Bolsonaro] vetar. Por isso, eu defendo que seja feito um novo projeto de lei, se for preciso", disse Tebet.>
O pacote que vem sendo costurado entre Guedes e Alcolumbre prevê uma ajuda direta aos Estados e municípios.>
Governadores e prefeitos pedem ao Palácio do Planalto mais dinheiro para enfrentar a Covid-19. Os recursos, dizem, manterão a máquina pública e pagarão salários.>
Essa transferência tem efeito no Orçamento federal. O dinheiro sai do caixa do Tesouro e vai para os governos regionais. Por isso, Guedes quer evitar uma soma vultuosa.>
O Ministério da Economia avalia a possibilidade de aumentar o total repassado diretamente para estados e municípios durante a pandemia. Por enquanto, o valor pode ficar entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões.>
Há duas semanas, Guedes propôs um valor fixo, de R$ 40 bilhões, divididos em três meses, para repasse direto. Esse valor, porém, é considerado insuficiente por senadores e governadores.>
"O governo fez uma média das perdas financeiras dos Estados e municípios entre os meses de março, abril e maio, e se chegou ao número de 30% de perdas. Segundo a equipe econômica, está se colocando em torno de R$ 50 bilhões, que é exatamente o valor que estados e municípios estão perdendo na pandemia", afirmou Tebet.>
Mais amplo do que deseja a equipe econômica, o pacote de socorro articulado por Maia prevê que toda a perda de arrecadação de ICMS (imposto estadual) e de ISS (municipal), em relação ao ano passado, seja compensada.>
Essa conta seria paga pelo governo federal. A equipe de Guedes contesta esse modelo pela falta de previsibilidade da despesa.>
Alguns estados registram uma queda de 30% na receita de ICMS taxa usada pela Câmara para estimar o custo do pacote dos deputados aos cofres públicos neste ano (R$ 89,6 bilhões).>
O governo calcula que, a cada 10% de desfalque nas contas regionais, a União terá de pagar R$ 28 bilhões aos entes.>
O custo total da proposta ficaria em R$ 149 bilhões em caso de perdas de 50% na arrecadação. Se o patamar for de 70%, o impacto seria de R$ 205 bilhões.>
Ainda nesta terça-feira (28), o presidente do Senado anunciou aos senadores que conseguiu a garantia do governo de incorporar à medida a garantia de que estados e municípios possam suspender, também pelo mesmo período, o pagamento das dívidas com organismos internacionais. >
Segundo Alcolumbre, essa medida também irá aliviar os cofres locais.>
"O projeto não terá apenas a suspensão de dívidas com instituições públicas brasileiras. A gente conseguiu estender a todos os organismos internacionais e isso vai se espraiar para vários estados e municípios. Apresentamos como uma alternativa ao texto do governo e o governo sinalizou que vai aceitar como uma gestão. Só isso vai aliviar o caixa de muitos estados com os organismos internacionais que terão o aval da União.">
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