Publicado em 27 de fevereiro de 2024 às 21:26
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (27) uma MP (medida provisória) que revoga a reoneração da folha de empresas de 17 setores e prefeituras. O Executivo enviará um projeto de lei tratando do tema e estuda como reduzir o risco de bloqueio na primeira avaliação do Orçamento de 2024.>
O governo vinha contando com a manutenção da MP como estratégia para evitar uma perda de até R$ 16 bilhões em receitas com a desoneração da folha na próxima revisão de receitas e despesas, a ser feita em 22 de março.>
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou nesta terça que, dos quatro pontos da MP — reoneração de empresas, reoneração de prefeituras, revogação do Perse e limitação para compensação tributária—, continuarão no texto em vigor somente os dois últimos.>
A MP restringiu o abatimento integral a créditos judiciais de até R$ 10 milhões e estabeleceu um parcelamento para valores maiores, uma forma de evitar que essas compensações acabem dilapidando a arrecadação federal.>
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Desde sua edição, a medida é considerada a "âncora fiscal" do primeiro relatório. O intuito do governo era deixar a revogação para depois dessa data, para afastar o risco de um maior contingenciamento de despesas devido à frustração na arrecadação. No entanto, a pressão de parlamentares e empresários subiu no fim de semana.>
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), havia adiantado nesta terça-feira (27) que Lula assinaria a MP antes da viagem à Guiana, programada para esta quarta (28).>
Integrantes da equipe econômica afirmam que "as negociações têm sido duras", o que colocou o governo numa posição difícil: aceitar revogar parte da MP antes mesmo de ter fechado os cálculos da fonte alternativa de arrecadação e saber se ela será suficiente para minimizar o bloqueio.>
A ideia é incluir no relatório de avaliação o ganho previsto nas receitas com a medida que limita o uso de créditos judiciais para abater tributos a pagar — expediente que rendeu descontos bilionários a empresas que foram vitoriosas na chamada tese do século, que tirou o ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins.>
A MP restringiu o abatimento integral a créditos judiciais de até R$ 10 milhões e estabeleceu um parcelamento para valores maiores, uma forma de evitar que essas compensações acabem dilapidando a arrecadação federal.>
O problema é que ainda não há uma conta precisa e fundamentada pelos técnicos para garantir a inclusão na avaliação que será apresentada em menos de um mês.>
Valores preliminares citados nos bastidores vão de R$ 20 bilhões a R$ 60 bilhões, uma dispersão grande que já dá ideia do desafio de refinar os números.>
Técnicos ouvidos reservadamente pela reportagem afirmam que não se trata de uma estimativa trivial, pois depende de uma série de regras e dados efetivos do uso desses créditos judiciais nas primeiras semanas do ano.>
Segundo esses interlocutores, a medida já surtiu efeitos sobre a utilização de créditos de ação judicial, mas ainda não foi possível avaliar em que montante, nem que tendência isso dita para o restante do ano.>
Nas notas técnicas que fundamentaram a MP, o governo informou que, até 31 de agosto de 2023, apenas 495 empresas informaram créditos judiciais acima de R$ 10 milhões, que totalizavam R$ 35,36 bilhões em compensações.>
A limitação do uso dos créditos judiciais foi prevista na mesma MP da reoneração e, pela estratégia atual, será mantida no texto. A equipe econômica também pretende manter em vigor o fim do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), mas as resistências no Congresso geram preocupação no Executivo.>
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) deve insistir na mudança do Perse e pretende anunciar números que mostram a perda de arrecadação com o programa em razão de abusos e fraudes. O TCU (Tribunal de Contas da União) deve ajudar no trabalho de validação dos números da Fazenda, como já ocorreu durante a tramitação da reforma tributária para o cálculo da alíquota dos novos impostos.>
Na semana passada, Haddad afirmou em entrevista à GloboNews que o Executivo vai enviar um projeto de lei em regime de urgência para conduzir as negociações sobre a reoneração da folha e chegou a dizer que a parte referente à desoneração "vai ser tratada exclusivamente no PL, vai ser suprimida da MP".>
Questionada na semana passada, porém, a Fazenda não respondeu ao pedido de esclarecimento se o "suprimida" significava a revogação parcial da medida.>
Na quinta-feira (22), o ministro Rui Costa (Casa Civil) disse à Folha de S.Paulo que o governo estava dialogando com o Congresso sobre o tema e citou apenas o projeto de lei como solução para o impasse.>
"O ministro Haddad teve uma reunião ontem [quarta, 21] sobre a MP 1.202, que vai ser desdobrada em projeto de lei", afirmou após a posse de Flávio Dino como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).>
O governo vai discutir a reoneração da folha por meio de um projeto de lei com urgência constitucional, rito especial que dá à Câmara e ao Senado o prazo total de 90 dias para votação.>
"Os termos do projeto de lei deverão ser ipsis literis os que estão na MP. Por óbvio, a posição é diferente no Congresso. Vamos para o debate e fazer o ajuste", afirmou Randolfe nesta terça.>
Segundo o líder do governo, o rito de tramitação do Perse ainda não está definido. Diferentemente do que anunciou na semana passada o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Randolfe disse que a situação da contribuição previdenciária paga por municípios também está em aberto.>
"Em princípio, a ideia é não tratar a questão dos municípios pelo projeto de lei. O Ministério da Fazenda se colocou à disposição para ter um debate com os 17 setores e abrir outro tipo de diálogo com os municípios", disse Randolfe.>
A desoneração da folha foi criada em 2011, no governo Dilma Rousseff (PT), e prorrogada sucessivas vezes. A medida permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência.>
A desoneração vale para 17 setores da economia.>
Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, empresas de construção e obras de infraestrutura, entre outros.>
A prorrogação do benefício até o fim de 2027 foi aprovada pelo Congresso no ano passado, mas o texto foi integralmente vetado por Lula. Em dezembro, o Legislativo decidiu derrubar o veto presidencial, restabelecendo o benefício setorial.>
Em reação, o ministro da Fazenda enviou uma MP ao Congresso, propondo a reoneração gradual da folha de pagamentos e a consequente revogação da lei promulgada após a derrubada do veto.>
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