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Governo vai atrás de apoio do centrão para mandar nova CPMF

Governo vai atrás de apoio do centrão para mandar nova CPMF

Planalto vai tentar disseminar ideia de que apenas novo imposto será capaz de permitir União de desonerar a folha de pagamento

Publicado em 23 de setembro de 2020 às 14:04

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Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro
Ministro da Economia, Paulo Guedes, critica fundo de proteção aos Estados na reforma tributária. (Marcello Casal/Agência Brasil)

BRASÍLIA- A proposta de um imposto sobre transações digitais elaborada pelo time do ministro Paulo Guedes (Economia) recebeu o aval do presidente Jair Bolsonaro. Agora, o governo busca o apoio do centrão para apresentá-la ao Congresso Nacional.

O novo tributo, nos moldes da antiga CPMF, pretende levantar R$ 120 bilhões por ano. Os recursos vão custear o programa de desoneração da folha de pagamentos.

Pessoas que participaram das discussões na semana passada afirmam que o presidente delegou ao deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, a obtenção dos votos antes de a proposta ser formalmente enviada.

Nesta terça-feira (22), Barros marcou almoço em sua casa, em Brasília. Lá marcaram presença Guedes e deputados do centrão --grupo formado por partidos como PP, PSD e Republicanos-- que estão aderindo à base do governo.

Um dos temas discutidos foi a criação do tributo.

A ideia de Guedes é estabelecer alíquota de 0,2% sobre o valor de qualquer transação digital. O montante arrecadado será usado para cobrir a desoneração da folha para quem ganha até um salário mínimo (R$ 1.045).

Acima desse patamar, haverá descontos. A contribuição previdenciária paga pelas empresas para esses funcionários, que hoje é de 20%, passaria a 10%. A diferença seria coberta pela receita gerada pelo novo tributo.

Também está na proposta a ampliação da isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física de R$ 1.900 para R$ 3.000.

No almoço, Guedes disse que enviará nos próximos dias o texto da proposta para os líderes da base do governo. Dessa forma, eles podem dar início a um processo de convencimento com os demais deputados.

A ideia, ainda segundo assessores presidenciais, é que o governo, depois disso, apresente oficialmente a proposta como contribuição à reforma tributária, que tramita na Câmara via PEC (proposta de emenda Constitucional). Outra versão diferente da reforma corre no Senado.

Outra opção é que o novo imposto seja encaminhado separadamente ao Congresso. Assim, teria uma tramitação independente e paralela.

De qualquer forma, Barros recebeu da equipe política do Planalto autorização para negociar uma validade de seis anos para a vigência do imposto. Com prazo de validade, o governo diz acreditar que será possível convencer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a encampar a proposta.

Nos bastidores, Barros repete o que já se tornou um mantra no Planalto: sem esse imposto, não será possível desonerar a folha de pagamentos.

Barros tem também outro desafio. Para conseguir levar adiante a proposta, terá de manter os vetos presidenciais à desoneração de 17 setores da economia que foram incluídos pelo Congresso na votação de uma medida provisória.

Maia já se posicionou contrariamente à criação de um imposto nos moldes da extinta CPMF. No passado, a contribuição incidiu sobre transações financeiras, com alíquota de 0,38%.

Se a articulação de Barros funcionar, o governo espera enviar a proposta do novo tributo formalmente nas próximas duas semanas para que seja possível incorporá-la ao relatório da reforma tributária, a cargo do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

A expectativa do governo é que a votação da reforma ocorra até meados de outubro.

Isolado da discussão política com o Congresso, Guedes passou a ter papel de esclarecedor da proposta. O ministro agora depende do núcleo político do governo para que uma proposta impopular, como a criação de um imposto semelhante à CPMF, tenha chance de avançar.

Na Câmara, Maia já anunciou que tratará da agenda econômica apenas com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). O deputado rompeu publicamente com Guedes.

Maia é contra uma nova CPMF e não pretende pautar a proposta. Como presidente da Câmara, ele poderia barrar a votação até o fim do mandato, que se encerra no início de 2021.

No entanto, Barros afirmou para interlocutores que a equipe econômica está concluindo um estudo "bastante amplo" para provar que "é mais justo [o novo imposto] do que a tributação sobre a folha".

O Ministério da Economia estima que as contas federais vão encerrar 2020 com um rombo de R$ 861 bilhões, o pior resultado da série histórica. A informação foi apresentada nesta terça (22) no relatório bimestral que avalia arrecadação e gastos do governo.

O relatório anterior, divulgado em julho, estimava que o déficit fiscal do governo central fecharia o ano em R$ 787 bilhões. No início deste mês, no entanto, o governo já havia informado que o rombo seria maior, de R$ 866 bilhões. Agora, essa projeção foi revisada para R$ 861 bilhões.

Em razão da conta da pandemia, o governo ampliou gastos e perdeu receitas. Com a decretação de calamidade pública e a aprovação do chamado Orçamento de guerra, porém, não há obrigação de cumprimento de regras fiscais, como a meta de resultado primário.

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Entre a avaliação de julho e a desta terça, o governo ampliou em R$ 84 bilhões os gastos relacionados com a pandemia. O maior deles, de R$ 67,6 bilhões, se destina ao pagamento das parcelas adicionais do auxílio emergencial.

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