Publicado em 1 de abril de 2020 às 18:36
Com receio de investidores aos efeitos econômicos do coronavírus, a cotação do dólar comercial subiu 1,23% nesta quarta-feira (1º) e foi a R$ 5,2630, novo recorde nominal (sem contar a inflação).>
A máxima anterior era de 18 de março, quando a moeda superou os R$ 5,20. O turismo é vendido a R$ 5,410 e, em algumas casas de câmbio, ultrapassa os R$ 5,50.>
"Não é de se estranhar o R$ 5,26, pessoas já falam de dólar a R$ 5,40. Ninguém sabe onde vamos parar com o coronavírus e isso causa muito medo no mercado", diz Rodrigo Esper, chefe da mesa de câmbio da Vero Investimentos.>
Em termos reais (corrigidos pela inflação), a moeda americana ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.>
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No ano, a divisa acumula alta de 31%, ficando R$ 1,25 mais cara. O dólar é um dos ativos que mais se valoriza em meio à pandemia de Covid-19. Assim como o ouro, a moeda americana é tida como um dos investimentos mais seguros do mundo, sendo buscada por investidores em momentos de incerteza.>
O movimento faz a maior parte das moedas globais a se desvalorizarem ante o dólar, incluindo o euro e a libra. O real, porém, é a moeda que mais perde valor no ano.>
Segundo analistas, o movimento é fruto de uma expectativa de maior dano econômico da pandemia no Brasil, que deve ter contração do PIB (Produto Interno Bruto), e impacto fiscal das medidas de incentivo do governo.>
Ainda pesa a discussão entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno da liberação do auxílio a trabalhadores informais e os mais pobres, de R$ 600. Ambos são vistos pelo mercado como fiadores das reformas tributária e administrativa.>
Também contribui para a alta do dólar um cenário de juro baixo. Com a Selic na mínima histórica de 3,75% ao ano, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país.>
Nesta prática de investimento, chamada carry trade, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os Estados Unidos, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil.>
Além da saída de dólares da renda fixa, há uma saída recorde da Bolsa de Valores. O saldo de investimento estrangeiro em ações brasileiras está negativo em R$ 63,3 bilhões até a última segunda (30).>
Para conter a alta da moeda e garantir liquidez ao mercado, que busca dólares diante da aversão a risco, o Banco Central (BC) tem feito leilões diários da moeda americana.>
Nesta terça, o Banco Central (BC) vendeu US$ 645 milhões à vista, reduzindo a valorização do dólar, que chegou a R$ 5,2750 na máxima do pregão.>
Até 20 de março, o BC vendeu US$ 16,211 bilhões à vista em 2020 para conter a alta da moeda. As intervenções levaram as reservas internacionais a US$ 347,423 bilhões. Em 2018, elas somavam US$ 374,72 bilhões.>
A Bolsa brasileira também refletiu a aversão a risco que predominou nos mercados globais nesta quarta e caiu 2,81%, a 70.966 pontos, menor patamar desde junho de 2018, antes da corrida eleitoral que levou Jair Bolsonaro à Presidência.>
Nos EUA, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram em torno de 4,4% cada uma.>
Após ajustes na carteira ao fim de março e do primeiro trimestre de 2020, que trouxe calmaria aos mercados nas últimas semanas, investidores voltaram a precificar o coronavírus.>
Na tarde de terça (31), o presidente americano, Donald Trump, apresentou, junto a membros do governo, projeções sobre o impacto da doença nos EUA, que deve ocasionar de 100 mil a 240 mil mortes.>
Por precaução, o governo americano já havia estendido a recomendação de isolamento social até o fim de abril.>
Segundo analistas, as medidas de combate ao vírus devem gerar contração da atividade industrial e aumento do desemprego nos EUA em pesquisas divulgadas nesta semana.>
No Brasil, a produção industrial contrariou as expectativas e subiu em fevereiro pelo segundo mês seguido, embora alguns segmentos possam já dar os primeiros sinais das consequências da pandemia de coronavírus.>
"Todo mundo percebeu que não tinha certeza de nada quanto ao coronavírus e isso gerou um pânico no mercado. No início, achavam que o impacto do vírus não seria tão forte. Também pesa um efeito psicológico de medo pessoal da doença", diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo.>
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