> >
Clínicas de diálise vão ao STF contra piso salarial da enfermagem

Clínicas de diálise vão ao STF contra piso salarial da enfermagem

Ação Direta de Inconstitucionalidade pede que seja suspensa lei sancionada por Bolsonaro que autorizou reajuste salarial

Publicado em 12 de agosto de 2022 às 17:23

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura
  • Cláudia Collucci

SÃO PAULO - A ABCDT (Associação Nacional dos Centros de Diálise e Transplante) decidiu entrar como amicus curiae (amigo da corte) em uma ação ingressada no STF (Supremo Tribunal Federal) que pede a nulidade da lei que instituiu o piso nacional da enfermagem.

A ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) foi proposta pela a CNSaúde (Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços).

Enfermeira, profissional da saúde, enfermagem
Medida criou piso salarial de R$ 4.750 para os enfermeiros. (Freepik)

Sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a lei não determinou qual seria a fonte de custeio para esse aumento salarial de enfermeiros, técnicos e auxiliares. A medida cria um piso mensal de R$ 4.750 para os enfermeiros. Técnicos em enfermagem devem receber 70% desse valor, e auxiliares de enfermagem e parteiras, 50%.

Entidades nacionais de representação do setor privado de saúde têm alertado para sobre o custeio do aumento salarial, e alguns hospitais privados já estudam demitir funcionários, segundo a CNSaúde.

Associações de hospitais e planos de saúde também se reuniram com a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) nesta semana para comunicar o órgão que a nova lei do piso da enfermagem vai gerar repasse de custos no setor, com possível impacto sobre o consumidor final, com aumento das mensalidades.

Pelos cálculos que levaram à ANS, a estimativa é que o impacto chegue a R$ 16 bilhões nos setores público e privado.

Para a ABCDT, a realidade da diálise é a mais grave em todo o sistema de saúde brasileiro porque 87% dos pacientes renais do país são atendidos por clínicas privadas conveniadas ao SUS, que já vinham enfrentando uma crise por falta de reajustes da tabela SUS.

O setor estima que o valor pago pelo sistema já estava ao menos 32% abaixo dos custos de uma sessão de diálise antes mesmo do novo piso da enfermagem.

Segundo a entidade, uma sessão hoje tem custo médio de R$ 288. O SUS repassa R$ 218, uma defasagem de R$ 70. Agora, com o novo piso, a próxima folha de pagamento das clínicas será 25% maior na média nacional.

De acordo com a associação, em clínicas de regiões do país em que os salários eram bem menores do que o novo piso, o aumento da folha de pagamento chega a 138%.

Hoje, são quase 150 mil pessoas tratando da doença renal crônica no país, sendo que pelo menos 3.000 aguardando vaga para fazer diálise ambulatorial, segundo a ABCDT. Há cerca de 800 centros de diálise atuantes no Brasil.

"Sem fonte de financiamento para custear o aumento [gerado pelo piso da enfermagem], de imediato muitas clínicas estão deixando de aceitar novos pacientes SUS. Mas em breve, as clínicas terão que fechar as portas", diz o nefrologista Yussif Ali Mere Junior, presidente da ABCDT.

Um levantamento da associação mostrou que 40 clínicas fecharam as portas nos últimos seis anos devido à crise de subfinanciamento do tratamento de diálise, o que deve se agravar caso a fonte de financiamento do novo piso não seja definida, segundo Ali Mere.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais