Arquiteto, professor da Ufes e diretor do IAB/ES. Cidades, inovação e mobilidade urbana têm destaque neste espaco

Aquaviário: mais que mobilidade, um atrativo turístico e de lazer

Deve-se tanto comemorar a reativação desse sistema de transporte, como também ficar atento aos próximos passos da política estadual em prol da efetiva melhoria da mobilidade urbana dos cidadãos da Grande Vitória

Publicado em 20/08/2023 às 09h00

Muitos moradores de Vitória, Vila Velha e Cariacica têm guardado na memória o tempo em que para ir de uma a outra cidade se usavam lanchas para cruzarem as águas da baía.

Iniciado em 1978, o aquaviário era o meio de transporte que conectava a população das cidades, até que entrou em decadência a partir da inauguração da Terceira Ponte. Em paralelo, houve a implantação do Sistema Transcol, com a integração de linhas de ônibus e construção de terminais, que buscava proporcionar a ordenação do transporte urbano coletivo de massa para a população de uma mancha urbana que só crescia em tamanho e densidade.

Nesse ponto da história, se tornava mais prático para os antigos usuários do aquaviário, que porventura não moravam ou trabalhavam nas margens da Baía de Vitória, se deslocarem através do Transcol do que, por exemplo, irem até um terminal de lancha, cruzar a baía e, já na outra margem, embarcar num outro meio de transporte até seu destino final. Ou seja, o passageiro teria que fazer transbordos intermodais, o que lhe tomaria um tempo precioso no seu deslocamento diário.

Estação do Aquaviário na Praça do Papa, em Vitória
Estação do Aquaviário na Praça do Papa, em Vitória. Crédito: JV Andrade/Ales

Porém, independentemente se hoje as áreas residenciais e a oferta de trabalho são pequenas nas margens da baía quando comparada com outras partes da Grande Vitória, a ideia de que a via aquática é inequívoca para a mobilidade urbana da região metropolitana é algo ainda presente no imaginário de boa parte da população. Junte-se ao expressivo aumento da frota de veículos transitando entre os municípios, e assim temos uma pressão por todo tipo de alternativa que possa aliviar os congestionamentos diários que comprometem a qualidade de vida dos cidadãos que vivem e circulam por aqui.

Segundo estimativas, o novo aquaviário transportará apenas 1% do número de passageiros do Transcol. Além disso, parte do subsídio dos cofres públicos destinado ao transporte coletivo será deslocado para viabilizar o novo modal, buscando fazer com que as tarifas sejam suficientemente atraentes para os futuros usuários das lanchas.

Muitos capixabas costumam citar o caso da travessia Rio-Niterói como exemplo de um sistema de transporte por embarcações que continua em funcionamento, a despeito da existência de outros modais de locomoção, bem como de uma ponte para circulação de veículos. Niterói, porém, possui uma população superior a 500 mil habitantes, muitos deles morando na parte central da cidade, às margens da baía de Guanabara. As barcas, no Rio, chegam e saem do Centro, onde há grande concentração de trabalho, dado o número de empresas e instituições lá instaladas.

Outro exemplo que serve de referência, e que talvez pela escala se assemelha mais ao caso capixaba, é o das cidades de Petrolina/PE (com quase 400 mil habitantes) e Juazeiro/BA (cerca de 250 mil habitantes), separadas pelo Rio São Francisco, cuja largura do canal é mais próxima à da Baía de Vitória. Lá também há uma ponte ligando as duas cidades, assim como embarcações para travessia da população entre as duas margens.

Cabe lembrar, porém, que aqui temos três pontes sobre a baía, o que aumenta a capilaridade da conexão viária entre as cidades e, consequentemente, do transporte sobre rodas, algo que também pode contribuir para a menor demanda do modal aquático para o transporte de passageiros. Além disso, no sentido transversal ao das margens, temos uma intensa circulação de grandes navios de carga.

De qualquer modo, não se pode desconsiderar a reinauguração do aquaviário como mais um atrativo turístico e de lazer para a população local. Sem dúvida, a visão do Convento da Penha, do Penedo, da Pedra dos Olhos ou do Moxuara, em contraste com o porto, a cidade construída, enquanto se navega pelas águas da baía, será algo realmente deslumbrante.

  Com tudo isso, deve-se tanto comemorar a reativação desse sistema de transporte, como também ficar atento aos próximos passos da política estadual em prol da efetiva melhoria da mobilidade urbana dos cidadãos da Grande Vitória, uma vez que o Transcol – o principal meio de locomoção da população – precisa dos mesmos holofotes, afinal hoje ele encontra-se pouco atraente, desconfortável, inseguro e, inclusive por tais motivos, perdendo passageiros.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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