CEO e fundador da VPx Company, consultoria de negócios e de educação executiva, e presidente do conselho de administração da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Rio Branco. Fundou os apps de entregas Shipp e Packk, atuais Americanas Delivery, e a rede de lojas autônomas Zaitt, adquirida pela Sapore S/A

A empresa perfeita não existe

O Instagram e o LinkedIn estão repletos de falsos profetas do empreendedorismo. Não é à toa que muita gente chama a rede profissional de “LinkeDisney”, fazendo uma brincadeira com a ideia de mundo perfeito

Vitória
Publicado em 29/04/2024 às 01h30

Existe um ditado popular bem famoso que diz “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Mas sabemos que, na verdade, o que acontece é que nos preocupamos tanto com o jardim que está do outro lado do muro que nos esquecemos do nosso: não o regamos, não cuidamos das ervas daninhas, não recolhemos as folhas espalhadas... ou, até mesmo, não conseguimos perceber que o vizinho pintou a sua grama de um verde mais verde. E essa incessante busca de colhermos o que não plantamos gera uma comparação injusta e, consequentemente, uma frustração.

Frustração essa que um amigo meu — proprietário de uma loja de rua que vende roupas — está passando e veio me contar. Depois de “ouvir por aí de grandes nomes da consultoria de negócios” histórias de outras empresas, saber do faturamento e de processos supostamente “bem melhor estruturados”, ele simplesmente entrou em desespero, achou que seu negócio era um fracasso.

Essa percepção veio junto com informações preciosas: a sua loja fatura cerca de R$ 200 mil por mês e conta, além dele, com somente uma funcionária. Ou seja, na verdade a empresa dele está indo muito bem. Não é qualquer pessoa que abre uma porta pra rua, contrata alguém pra ajudar, e fatura o que ele fatura.

Talvez ele deva organizar melhor os processos? Repensar algumas estratégias? Claro! Mas isso também faz parte da rotina de empresas de sucesso. O que ele e todos nós empreendedores temos que fazer é parar de achar a grama do vizinho mais verde e, sim, realizar um planejamento estratégico eficiente e alinhar as expectativas do nosso negócio.

No entanto, é difícil parar de comparar quando somos estimulados a todo momento a por falsas premissas. O Instagram e o LinkedIn estão repletos de falsos profetas do empreendedorismo. Não é à toa que muita gente chama a rede profissional de “LinkeDisney”, fazendo uma brincadeira com a ideia de mundo perfeito.

Realmente, parece mesmo que o tal CEO ou Founder não precisa nem estar presente que tudo roda de forma perfeita e os processos são perfeitamente seguidos. É a cultura da empresa perfeita — da porta pra fora.

Só que da porta pra dentro a realidade normalmente é outra. As empresas são sistemas complexos onde você não consegue controlar as variáveis, por diversos motivos, e problemas acontecem com bastante frequência. Um processo redondo e indicadores de uma cultura perfeita são ilusões.

Isso quer dizer, então, que devemos aceitar a imperfeição? Não! Precisamos mirar o excelente, mas não desanimar achando que o mundo perfeito existe ao olhar os concorrentes.

Nesse sentido, um ponto fundamental é saber a hora de investir em cada área, para executar com precisão um planejamento estratégico que ande, lado a lado, com você. A palavra-chave é priorização. Não adianta investir, de uma só vez, nas melhores consultorias do mundo para resolver todos os problemas do seu negócio, pois, na prática, você não terá recursos suficientes para executar tudo aquilo que for proposto. Lembre-se: dá pra ter tudo, só não dá pra ter tudo de uma vez.

Que tal fortalecer seu time de vendas no próximo trimestre? Ou então uma consultoria especializada em marketing — ou em recursos humanos — para melhor estruturar o departamento? A mensagem é: invista e priorize onde está doendo mais, seja o setor que for. Por consequência natural, o departamento investido tende a impactar e elevar o nível de todo o negócio, gerando resultados positivos para a empresa como um todo.

Negócios comandados por família
Negócios . Crédito: Pixabay

Entramos, então, na terceira recomendação — ou conselho de amigo — para quebrar qualquer estigma: não existe um único indicador de sucesso, nem na vida pessoal, nem na profissional. Sua empresa não precisa atingir um número mágico de faturamento, de EBITIDA, ou seja lá qual for o indicador. Não existe isso. Sua empresa será um sucesso se você alcançar o que planejou, se entregar o que está se propondo, se ela for saudável. Esse deve ser o seu parâmetro, que não é imutável e pode ser ajustado durante a trajetória, de forma consciente.

Muitos clientes me contratam na esperança de que vou deixar as empresas deles perfeitas, e o meu papel é mostrar para eles, assim como mostrei aqui, que isso não existe. Sei que parece que estou jogando contra meu próprio negócio, mas a verdade é que sempre existirão problemas e processos a serem corrigidos e melhorados e boas práticas a serem instauradas.

Ir além disso é um desserviço, é a mesma coisa que pintar a sua grama de verde.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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