Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Candidatura de Meneguelli ao Senado está por um fio, mas ele resiste

Intervenção de Jair Bolsonaro, para beneficiar Magno Malta, pode tirar ex-prefeito de Colatina do páreo. Magno nega e Meneguelli faz apelo em vídeo

Vitória
Publicado em 26/07/2022 às 02h10
Ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli
Ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli durante live na noite desta segunda-feira (25). Crédito: Facebook/Sérgio Meneguelli

A pré-candidatura do ex-prefeito de Colatina Sérgio Meneguelli (Republicanos) ao Senado está por um fio. Na verdade, esse fio até já se partiu, mas Meneguelli tenta costurá-lo.

Na última sexta-feira (22), o presidente nacional da legenda, Marcos Pereira, telefonou para o presidente estadual, Roberto Carneiro, e pediu – mas não há opção de não atender ao pedido – que o ex-prefeito seja rifado.

Isso ocorreu, de acordo com uma fonte do Republicanos, por solicitação do presidente da República, Jair Bolsonaro, que é filiado ao PL.

Os dois partidos são aliados nacionalmente.

Sem Meneguelli na corrida, o principal beneficiado seria o ex-senador Magno Malta, apoiador de primeira hora e correligionário do chefe do Executivo federal.

Há cerca de duas semanas, no último dia 12, Marcos Pereira confirmou à coluna que o ex-prefeito seria, sim, candidato. A convenção estadual do partido, marcada para o próximo domingo (31), chancelaria o nome dele.

Meneguelli afirmou à coluna, nesta segunda-feira (25) à tarde, que "forças estranhas" querem puxar o tapete dele, apesar de o republicano ser um dos líderes das pesquisas de intenção de voto para o Senado. Ou justamente por isso.

O ex-prefeito, inclusive, deu nome às forças estranhas. Creditou as tentativas de sabotagem a Magno Malta, que negou ter feito qualquer intervenção.

O presidente nacional do Republicanos, desta vez, preferiu não dizer se Meneguelli está ou não mantido na corrida.

Informou apenas que a pergunta deve ser feita ao presidente estadual. Carneiro, no entanto, "mergulhou", não atendeu nem retornou às tentativas de contato.

Integrantes do partido dizem que ele está desconfortável com a situação.

A esta altura do campeonato, Meneguelli não teria como disputar o pleito por outra sigla. O prazo de filiação já se encerrou.

Sobraria a ele "descer" para a chapa de candidatos a deputado federal. Não se sabe se aceitaria a mudança. Não está inclinado a isso.

Nesta segunda, Meneguelli esteve em Vitória e teve uma conversa com Roberto Carneiro.

Antes, desabafou com a coluna, rechaçou a possibilidade de ser retirado da disputa e disse acreditar na palavra de Marcos Pereira que, até então, o garantia na corrida pelo Senado.

Também afirmou que "Bolsonaro não faria esse jogo sujo".

Depois, não atendeu mais o telefone e nem respondeu a mensagens.

"NÃO POSSO ACREDITAR"

Mas fez uma live, uma transmissão ao vivo, no Facebook, à noite. Em tom quase desesperado, ele foi ás lágrimas.

O título da live é: "É mentira ... eu não posso acreditar". De novo, Meneguelli disse desconhecer que sua candidatura ao Senado tenha sido retirada pelo Republicanos e creditou a tentativa de manobra a adversários, como Magno Malta.

As redes sociais são a principal arma do ex-prefeito de Colatina, que ficou famoso até fora do Espírito Santo ao aparecer em vídeos pintando bancos de praça, por exemplo.

"Peço, pelo amor de Deus, capixabas, pessoas do bem, não deixem aniquilar uma campanha que não tem ficha suja, que está liderando as pesquisas, que recebeu vários prêmios como prefeito", diz o republicano.

Ele reforçou que confia no presidente nacional do partido, mas que não conseguiu falar com ele nesta segunda. "Deve estar ocupado, é muito importante", minimizou.

É um recado. Em outras palavras, Meneguelli diz: se quiserem me rifar, não vai ser sem constrangimento para vocês.

Ele garantiu que o partido está "unido e forte". As direções nacional e estadual do Republicanos, entretanto, não vieram a público para endossar o ex-prefeito.

NADA DE CONSERVADOR

Não é a primeira vez que Meneguelli fica na berlinda.

Nos bastidores, já se falou de uma articulação em que o ex-deputado federal Carlos Manato (PL), pré-candidato ao governo do Espírito Santo, seria sacrificado, deixando de concorrer, como contrapartida ao Republicanos para que este retirasse Meneguelli da corrida. Mais uma vez, a estratégia seria ajudar a eleição de Magno Malta.

O próprio Magno, que preside o PL no estado, no entanto, negou a possibilidade e disse, em junho: "Quem não quer Manato candidato a governador vai ter que passar por cima de mim".

Depois, foi o próprio Meneguelli quem deu corda aos desafetos. Em entrevista ao site ES 360 ele afirmou que "não tem nada de conservador", contrariando o slogan do Republicanos. Acabou alvo de fogo amigo.

Mas o episódio foi superado. Graças a isso, Marcos Pereira garantiu que ele seria candidato, no último dia 12.

E agora surge o balde de água fria.

"PAU GRANDE"

Neste domingo (24), outra atitude do ex-prefeito de Colatina gerou críticas de integrantes da direita, campo no qual o Republicanos e Bolsonaro estão inseridos.

Em um story no Instagram (uma publicação que desaparece em 24 horas), ele postou uma reportagem do portal G1, cujo título contém "Eu amo Pau Grande". É uma referência a um letreiro turístico de um distrito da cidade de Magé, no Rio de Janeiro.

Story de Meneguelli no Instagram
Story de Meneguelli no Instagram. Crédito: Reprodução

Por razões óbvias, a peça virou motivo de brincadeira: "'Eu ❤️ Pau Grande': distrito onde nasceu Garrincha viraliza após instalação de letreiro em praça", diz o G1.

É só isso, mas os detratores de Meneguelli aproveitaram. Até chegaram a dizer que é esse o verdadeiro motivo de ele ter caído em desgraça. Menos, gente.

INFIDELIDADE

Um fator a ser levado em consideração é que senador é um cargo majoritário e, como tal, não é submetido às regras para impedir infidelidade partidária.

Se um deputado quiser mudar de sigla fora da janela partidária, que é aberta apenas em anos eleitorais em que o cargo está em disputa, tem que apresentar justa causa, pode enfrentar briga na Justiça e até perder o mandato.

Já um senador pode sair da legenda a qualquer momento, sem risco algum. Assim, se Meneguelli fosse eleito pelo Republicanos, poderia trocar de partido logo em seguida.

Como não parece ter muita afinidade com a agremiação, essa é uma possibilidade que certamente não foi descartada pelos caciques partidários.

Nesta segunda, Meneguelli recalibrou as próprias declarações a respeito de não ser conservador: "Prefiro não entrar nessa polêmica. Eu quis dizer que não sou careta, mas, politicamente, tenho que estar alinhado ao partido".

A SEGUNDA CHANCE DE MAGNO MALTA

No sábado (23), Bolsonaro esteve no Espírito Santo. Magno Malta acompanhou cada passo. Meneguelli não participou das agendas. O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, pré-candidato ao governo pelo Republicanos, foi lá e acabou vaiado.

Em discurso realizado durante um culto no Espaço Patrick Ribeiro, em Vitória, o presidente da República mencionou o ex-senador. Foi o único político que teve o nome citado por ele. "Tivemos no Senado Federal uma grande batalha e tivemos lá um grande general (...) que foi o então senador Magno Malta", afirmou Bolsonaro.

Logo após, o presidente mandou um recado. Difícil não supor que ele se referia ao próprio ex-senador:

"Aqui todos erraram um dia. Não existe nenhum santo aqui. Todos nós erramos. E uma coisa tem que se fazer presente entre nós. Se bem que isso não pode ser imposto. Isso vem da consciência de cada um, vamos na medida do possível perdoar aqueles nossos irmãos que, por ventura, fizeram algo que não foi do seu acordo. Essas pessoas merecem uma segunda chance, até pra demonstrar mais ainda o seu valor na função que, por ventura, vocês acharem ela deva ocupar".

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