
Por séculos, povos de diferentes religiões e culturas conviveram em relativa harmonia no Oriente Médio, mas as últimas décadas de políticas colonialistas e equivocadas o transformaram em uma região em permanente conflito, inclusive com atentados terroristas em solo norte-americano.
Estratégias de confronto direto revelaram que os EUA são capazes de vencer as guerras, mas invariavelmente perdem a paz. Não conseguem se retirar após suas vitórias e só veem os ânimos se acirrarem. Uma das muitas razões é não se darem conta da diversidade dos grupos e interesses envolvidos, da interação entre eles e de que tanto os adversários quanto as alianças, ali, são de ocasião.
Não é nada diferente do que acontece nas regiões urbanas brasileiras dominadas por traficantes, rivais, mas também aliados, que evitam, o quanto possível, enfrentamentos com as polícias. Por mais exitosas que sejam as operações, seus efeitos práticos podem ser inversos aos pretendidos.
De um lado, a quantidade e mesmo a importância hierárquica dos criminosos presos pouco ou nada afetam as quadrilhas e menos ainda facções mais organizadas, pois a substituição é imediata. De outro, essas prisões podem fomentar os homicídios, tanto por enfraquecerem momentaneamente um grupo, gerando oportunidade para disputa de territórios, como por resultarem na cobrança, aos que forem posteriormente libertados, das drogas e armas apreendidas. E antigos líderes, quando voltam à liberdade, frequentemente tentam retomar seus territórios a bala.
Se um grupo de traficantes passar muito tempo sem revezes, ele se fortalece, o que é um risco óbvio. Porém, se for apenas enfraquecido de maneira transitória, sem desaparecer, provavelmente será atacado por rivais e isso também é terrível para as comunidades em volta. Não há escolha se não enfrentar o problema. Mas quando e, principalmente, como é uma decisão capital e dificílima. E nada mais importante, nesses momentos, que os serviços de inteligência, assessorando o decisor.
O perigo é cair na armadilha do senso comum, de que essa guerra contra as drogas pode ser vencida por meio de lutas individuais entre espadachins, como em filmes. É preciso coragem pessoal, sim, disposição de colocar a própria vida em risco, mas isso não basta. Vontade não é suficiente. Enfrentar o tráfico está mais para um xadrez às cegas, também conhecido como vendado ou florentino, em que os adversários veem somente as próprias peças, podendo apenas imaginar onde estão as do oponente e seus possíveis movimentos. É pura informação, memória e processamento – astúcia e estratégia.
Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido possível