É engenheiro de produção, cronista e colhereiro. Neste espaço, sempre às sextas-feiras, crônicas sobre a cidade e a vida em família têm destaque, assim como um olhar sobre os acontecimentos do país

Dos Açores até Vitória, ou a história de uma amizade além-mar

Desconfiada, mas curiosa que só, Cidália foi ganhando confiança com a troca de mensagens. Hoje a tenho como uma amiga de longa data e que espero conhecer pessoalmente um dia

Publicado em 19/04/2024 às 01h40

Gosto de dizer, com a melhor cara deste mundo e sem qualquer constrangimento, que faço colheres para ganhar elogios. Descobri, depois de um infarto no final de 1994, que elogios verdadeiros reforçam a autoestima e fazem bem pra saúde. Mais adiante, fui percebendo que os tais elogios vão se desdobrando na forma de reconhecimento de mérito e, por que não, de fama criada.

Virou rotina na vida de muita gente postar nas redes o que fez de bom, onde e com quem esteve, o que pensou, o que sentiu e muito mais. Isso para reforçar amizades, abastecer grupos de pessoas e, também, para atrair a atenção de muitos. Comentários, likes, curtidas e elogios são moedas de um mesmo saco, que têm a capacidade de nos fazer satisfeitos, orgulhosos, “se achando”, como se diz.

Bem sei que melhor do que nos chega pelas redes são os beijos, os abraços e as declarações emocionadas que ganhamos ao entrar num bar, ao andar nas calçadas, ao participar de uma festa de gente conhecida.

Eu mesmo fui achado na internet por uma moça que tinha acabado de se formar em Zootecnia, lá nos Açores, por ter se encantado com as fotografias das colheres que faço. Isso lá nos idos do início deste século.

Desconfiada, mas curiosa que só, foi ganhando confiança com a troca de mensagens. Hoje a tenho como uma amiga de longa data e que espero conhecer pessoalmente um dia. Ela se chama Cidália e a trato por Sissi; ela me trata por “amigo de além mar”.

Por incrível que pareça, ela teve a pachorra de me mandar um baita presente de aniversário de 65 anos: dois queijos enormes feitos na Ilha de São Jorge e um potinho com geleia feita com frutinhas que colheu nos altos do Pico, elevação cônica e imponente que existe por lá. Para completar, ela tratou de colocá-lo numa cestinha que teceu com folha de uma planta chamada de correola. Luxo só.

Pois no começo da semana recebi um exemplar do livro que ela acaba de escrever, movida, segundo ela, “pela faúlha que respingou do livro do meu amigo além-mar em mim e pelo que ele havia me dito faz algum tempo: escrever um livro deveria ser obrigatório a toda gente”.

Ribeira Grande, nos Açores, cidade coirmã de Viana
Ribeira Grande, nos Açores. Crédito: PMV

Motivos e assuntos ela tinha aos montes. Mas no centro de tudo estavam os quadros que vem pintando nos últimos três anos, quase sempre para presentear amigos e parentes. Não conheço nada parecido com suas pinturas, cada qual surgida de algo muito forte das profundezas da sua alma irrequieta, sofrida e despojada de medos. Ela diz que cada qual tem motivações específicas e se realiza com os comentários, feitos a seu pedido, por pessoas da sua confiança.

Mulher disposta, habilidosa e decidida, Sissi escreveu, imprimiu, encadernou, numerou e dedicou os primeiros exemplares. O meu é o de número 7 e a sua dedicatória inclui um trevo de 4 folhas e fios de cabelos sob um selo daqueles antigos, usados para lacrar documentos.

Pelo que está devidamente registrado no seu livro, faremos uma exposição de quadros e colheres em algum lugar dos Açores, bem no início de dezembro de 2025, para comemorar os seus 50 anos em festa animada e concorrida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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