Publicado em 28 de agosto de 2020 às 21:52
Afastado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) do cargo de governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) afirmou à imprensa nesta sexta-feira (28) que está sendo "massacrado politicamente" porque há interesses poderosos que não o querem governando o estado. >
Ele negou atos ilícitos, atacou a PGR (Procuradoria-Geral da República) e sugeriu uma possível influência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu desafeto, sobre o órgão.>
"Minha indignação é a de um cidadão que está aqui com o compromisso de governar o estado, reduzir os índices de criminalidade, enfrentando todas as dificuldades. Querem me tirar do governo, organizações criminosas estão perdendo dinheiro", disse.>
Witzel questionou a suposta proximidade entre a família Bolsonaro e a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo, que reiterou ao STJ a denúncia de que o ex-juiz está possivelmente na cúpula de uma organização criminosa no governo.>
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"Uma procuradora cuja imprensa já notificou seu relacionamento próximo com a família Bolsonaro. Bolsonaro já declarou que quer o Rio de Janeiro. Já me acusou de perseguir a família dele. Mas, diferentemente do que ele imagina, aqui a Polícia Civil é independente, o Ministério Público é independente", disse Witzel.>
"O senhor presidente da República, com todo o respeito, fez acusações extremamente graves e levianas contra mim porque acredita que vou ser candidato a presidente.">
Questionado se acredita na participação do presidente em seu afastamento, Witzel respondeu: "Não cabe a mim investigar. Cabe ao STF, através do procurador-geral da República, investigar. Agora, a procuradora Lindôra tem relação, já foi inclusive divulgado na imprensa, com o [senador] Flávio Bolsonaro. Essas questões precisam ser respondidas no Conselho Nacional do Ministério Público.">
Witzel também afirmou que a PGR, na figura da subprocuradora, está se especializando em perseguir governadores, desestabilizar os estados com investigações rasas e buscas e apreensões preocupantes. "Eu, assim como outros governadores, também estamos sendo vítimas do possível uso político da instituição.">
O ex-juiz criticou ainda um suposto uso político do instituto da delação premiada e afirmou que o processo penal brasileiro está se transformando em um circo.>
A denúncia apresentada pela PGR contra Witzel ocorreu na esteira da homologação do acordo de colaboração premiada do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, solto no início do mês.>
"Reafirmo que não tenho medo de delação, porque a delação desse canalha do Edmar é mentirosa. Foi pego com a boca na botija.">
Witzel afirmou que não cometeu atos ilícitos e que não recebeu vantagens indevidas. Ele desafiou Lindôra a apresentar provas que comprovem a afirmação de que ele atuou como chefe de uma organização criminosa em seu governo.>
"Quero que ela apresente um único e-mail, um único telefonema, uma prova testemunhal, um pedaço de papel, em que eu tenha pedido qualquer tipo de vantagem ilícita para mim", disse.>
"Não existe nenhum ato de corrupção na decisão de afastamento e na representação. Que provas são essas que eu sou o chefe da organização criminosa? Para ser chefe, você tem que praticar ato ilícito. Qual foi o ato que eu pratiquei? Nunca, não vão achar.">
Witzel rebateu a acusação da PGR de que o escritório de advocacia da primeira-dama, Helena Witzel, teria sido utilizado para lavar dinheiro da propina obtida por meio de contratos fraudulentos firmados pelo governo.>
"Para haver lavagem de dinheiro, tem que ter vantagem ilícita. Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei? Estão criminalizando a advocacia.">
O ex-juiz negou ter relações com o empresário Mario Peixoto, um dos investigados no esquema, que firmou contrato com o escritório da primeira-dama. Também disse que nunca pediu para seus secretários a contratação de qualquer empresa.>
Witzel afirmou ainda que seu afastamento é um ultraje à democracia e que não tentou atrapalhar as investigações.>
"Eu estou incomodando prendendo miliciano, traficante de drogas? Afastamento de 180 dias por que, se em dezembro eu tenho que escolher o novo procurador-geral de Justiça? Busca e apreensão na casa do vice-governador? Na casa do presidente da Alerj [Assembleia do Rio]? Com base numa delação mentirosa, de um homem desesperado?", questionou.>
O governador defendeu que delações mentirosas estão sendo produzidas e usadas politicamente e citou o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para dizer que está preocupado "com os caminhos pelos quais nosso país está seguindo".>
"Não sou a favor de Lula nem contra Lula. Mas o STF está chegando à conclusão de que, infelizmente, o ex-ministro Sergio Moro foi parcial. Com essa decisão, [o ministro do STF e do TSE Edson] Fachin foi muito claro, evitou-se que Lula disputasse a Presidência", afirmou.>
"Já falei várias vezes como morrem as democracias. Morrem assim, aniquilando os adversários, com uso da máquina pública, e cooptando as instituições.">
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