Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 16:05
- Atualizado há 4 anos
A eleição de petistas e aliados para os governos do eixo São Paulo-Rio-Minas Gerais ganhou prioridade entre dirigentes do PT nas articulações para a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.>
A escolha de candidatos e a construção de alianças nesses estados são tratadas como pontos essenciais não apenas para impulsionar Lula, mas também para dar estabilidade a uma possível Presidência petista.>
Segundo integrantes do partido, além dos 60 milhões de votos em jogo, esse triângulo pode ter governadores que atuem para conter eventuais abalos a uma gestão do ex-presidente - incluindo o risco de um processo de impeachment.>
A ideia é erguer um polo de sustentação política que complemente a força que a legenda tem no Nordeste. Para isso, integrantes da campanha de Lula negociam a formação de chapas competitivas nos três estados.>
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O quadro é observado com cautela por dirigentes do PT, uma vez que a sigla ainda não bateu o martelo em relação a seus planos em nenhum desses três locais.>
Petistas trabalham para aproximar Lula da pré-candidatura de Alexandre Kalil (PSD) em Minas Gerais e acertar uma chapa única de esquerda em São Paulo, preferencialmente liderada por Fernando Haddad (PT).>
A situação do Rio de Janeiro se tornou alvo de questionamentos. Lula apoia o nome de Marcelo Freixo (PSB) para governador, mas viu nos últimos dias um estremecimento na relação com o grupo do prefeito carioca, Eduardo Paes (PSD).>
Gleisi Hoffmann
Presidente do PTNa avaliação de petistas, governadores nesses estados podem ter influência sobre parte das bancadas de deputados e senadores. Essa ascendência pode contribuir para a formação de maiorias parlamentares favoráveis ao governo ou, ao menos, de uma proteção contra investidas de opositores.>
Além disso, Rio e São Paulo também têm os maiores orçamentos estaduais e movimentam parte da economia e do turismo. Desta forma, são palcos importantes para o governo federal investir em obras estruturais e ações que sirvam de vitrine para o país.>
A insistência do partido na candidatura de Haddad em São Paulo decorre dessa lógica. Dirigentes dizem enxergar uma chance inédita de vitória no estado e avaliam que o nome do ex-prefeito da capital paulista é mais competitivo do que o de potenciais aliados, como Márcio França (PSB).>
O ex-presidente aposta que a alta rejeição ao governador João Doria (SP) fragiliza o candidato apoiado pelo tucano, Rodrigo Garcia (PSDB-SP), abrindo espaço para o crescimento de uma candidatura de esquerda.>
Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, Doria tem rejeição de 38% dos paulistas e aprovação de 24%.>
O petista avalia também, em conversas privadas, que a presença do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido) em sua chapa e o apoio do ex-tucano a Haddad vão impulsionar a candidatura do ex-prefeito de São Paulo.>
Lançar uma candidatura única é uma aposta do PT, que teme a fragmentação de votos no estado.>
Lula já se reuniu com Guilherme Boulos (PSOL) e diz a aliados que dá como certa a desistência do líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) da disputa. Em outra frente, ex-presidente deverá ter um encontro também com França para tratar do assunto.>
Apesar dos números positivos, os petistas consideram que a eleição paulista tende a ser dura, dado o potencial de crescimento do candidato bolsonarista no estado.>
No Rio, uma fratura recente pode dificultar os planos do ex-presidente. Ainda que Lula tenha fechado apoio à candidatura de Freixo, petistas demonstraram incômodo com movimentos recentes de Eduardo Paes.>
Aliados do ex-presidente gostariam de ter o prefeito carioca no mesmo palanque de Freixo e Lula.>
No início de fevereiro, porém, Paes disse ao jornal Valor Econômico que o petista usa "salto alto" ao apoiar o deputado do PSB. Ele defende a candidatura do ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Felipe Santa Cruz.>
Lula se reuniu com o prefeito na terça-feira (15) para discutir a eleição para o governo fluminense. Paes manteve o apoio a Santa Cruz, mas os dois acertaram um acordo para que estejam juntos no segundo turno.>
Além de encontrar essa divisão no estado, alguns petistas têm colocado em dúvida as chances de vitória de Freixo caso ele não tenha uma base mais ampla, com a participação do grupo de Paes. Esses aliados de Lula temem que, nesse cenário, o atual governador Cláudio Castro (PL) saia fortalecido.>
O ex-presidente, porém, não pretende abrir mão do apoio a Freixo, em quem diz ter muita confiança. Em conversas reservadas, Lula diz que a candidatura do deputado é a única chance que ele tem de estabelecer uma polarização com Castro, segundo indicam pesquisas.>
Por esse raciocínio, mesmo que Freixo não vença, o petista terá um palanque forte disposto a defendê-lo em um estado cuja maioria dos eleitores votou em Bolsonaro na última eleição.>
Hoje, a única hipótese de o ex-presidente retirar apoio a Freixo é no cenário em que o próprio Paes saia candidato a governador, o que o prefeito já disse que não fará.>
Já em Minas Gerais, as conversas avançam em direção ao apoio de Lula à candidatura de Alexandre Kalil. O PT já decidiu que não terá candidato e avalia que o prefeito de Belo Horizonte tem chances de evitar a reeleição do atual governador, Romeu Zema (Novo).>
Uma aliança no estado é uma das peças nas negociações nacionais entre PT e PSD.>
Embora o presidente do PSD, Gilberto Kassab, mantenha a intenção de lançar um candidato do próprio partido à Presidência, petistas dizem acreditar que o apoio a Kalil poderia abrir caminho para um acordo entre as duas legendas na disputa pelo Planalto.>
Lula deve marcar uma viagem a Minas para encontrar aliados. Nessa passagem pelo estado, ele deve procurar Kalil para conversar sobre a aliança.>
O ex-presidente tem ciência de que a eleição mineira também não será fácil. Pesquisas indicam Zema à frente de Kalil, que aparece em segundo lugar na corrida pelo governo mineiro. Petistas creem, porém, que com apoio de Lula, o atual prefeito se torna mais competitivo.>
Em 2018, os três estados elegeram governadores alinhados a Jair Bolsonaro: João Doria (PSDB) em São Paulo, Wilson Witzel (PSC) no Rio e Zema em Minas.>
No segundo turno daquela eleição, Bolsonaro teve uma vantagem de 12,8 milhões de votos sobre Fernando Haddad nesses estados - o que anulou a vantagem de 11,5 milhões de votos que o petista teve no Nordeste e ajudou a consolidar a vitória do atual presidente.>
Embora os petistas descrevam os governadores desses estados como uma espécie de tropa de choque contra um possível impeachment, eles não são uma garantia de estabilidade de um presidente.>
Quando Dilma Rousseff (PT) foi afastada da Presidência, em 2016, os governadores de São Paulo, Rio e Minas eram Geraldo Alckmin (PSDB), Luiz Fernando Pezão (MDB) e Fernando Pimentel (PT), respectivamente. O primeiro aderiu à tese do impeachment tardiamente, e os outros dois eram aliados de Dilma.>
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