Publicado em 9 de abril de 2020 às 09:48
O projeto emergencial de socorro aos Estados que está em discussão na Câmara dos Deputados autoriza aumentar em 10% o estoque de suas dívidas, algo entre R$ 55 bilhões e R$ 65 bilhões em novos empréstimos, além do volume de R$ 565 bilhões do fim do ano passado.>
O cálculo foi feito pela Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. Além de suspender o pagamento de parcelas de dívidas com a União e bancos, o projeto permite aos governadores tomar crédito novo no limite de até 8% de suas receitas.>
A votação do projeto foi interrompida ontem depois de uma guerra de números sobre o impacto da proposta que colocou de lado opostos o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governo federal. Economistas alertaram para os efeitos nocivos do projeto nas contas públicas para além do fim da calamidade pública causada pela covid-19, ultrapassando o ano de 2020.>
Durante a votação, começou a circular a informação que artigo incluído no projeto facilitaria diretamente o Rio de Janeiro - Estado de Maia -, piorando ainda mais o clima para a votação.>
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Articulador do projeto, o presidente da Câmara, que pretendia concluir a votação da proposta ontem mesmo, decidiu suspender a sessão. "A matéria tem ainda muita polêmica, muita gente querendo incluir temas de municípios, outros querendo tirar", admitiu Maia pouco antes de interromper a sessão.>
Depois de lido o texto, a equipe econômica calculou que o impacto do projeto chegava a R$ 159,7 bilhões (à tarde em versão anterior, o projeto custava aos cofres públicos R$ 190 bilhões).>
Já o relator, deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), disse ao jornal O Estado de S. Paulo. que não passa de R$ 50 bilhões.>
Maia também contestou os números do governo e dos economistas Marcos Lisboa e Marcos Mendes, que ao longo do dia publicaram um artigo no Brazil Journal, calculando o impacto em R$ 150 bilhões. Para Maia, o impacto fiscal do novo projeto é de R$ 35 bilhões, mais um volume de empréstimo na ordem de R$ 50 bilhões.>
Segundo Pedro Paulo, o cálculo de impacto de R$ 180 bilhões feito pela equipe econômica inclui medidas já adotadas pelo governo para os municípios e a suspensão de pagamento de dívidas durante a calamidade. "São contas diferentes", afirmou. >
Para o diretor executivo da IFI, Felipe Salto, o novo texto que se criou como alternativa ao Plano Mansueto é muito ruim. "O custo recairá sobre a União, passada a tempestade, e o problema fiscal será maior do que antes da crise", disse Salto. >
Ele advertiu que a proposta permite a contratação de dívida nova pelos Estados e municípios em até 8% da Receita Corrente Líquida (RCL), sem olhar para nenhuma condição ou limite. "Agora, é hora de gasto descentralizado financiado com dívida da União. O que precisamos agora não é contratar mais custos e riscos para o futuro, uma herança que será muito difícil de manejar", ressaltou o diretor da IFI, que tem como missão avaliar o impacto das medidas em tramitação no Congresso. >
A ampliação dos limites de endividamento dos Estados nos anos que se seguiram à crise financeira de 2008 levou à situação de penúria e excesso de dívidas estaduais. Muitos dos recursos estaduais foram utilizados para criar gastos permanentes. Mesmo antes da crise do coronavírus, muitos governadores estavam sem dinheiro até mesmo para pagar salários. >
Pedro Paulo negou com veemência que tenha incluído no seu relatório "jabuti" para ajudar o seu Estado, o Rio de Janeiro, que está em Regime de Recuperação Fiscal (RRF), programa de socorro do governo federal. >
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