Publicado em 10 de novembro de 2020 às 17:53
A PGR (Procuradoria Geral da República) abriu apuração preliminar para averiguar o envolvimento da ministra Damares Alves, titular da pasta da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, na mobilização que buscou impedir uma menina de dez anos, vítima de estupro no Espírito Santo, de ter acesso aos serviços de saúde para interromper a gravidez. >
Reportagem da Folha de S.Paulo revelou que a ministra atuou nos bastidores para impedir a realização do procedimento. Após a publicação do texto, parlamentares de oposição pediram à PGR para investigar Damares, acusando-a de crime de responsabilidade.>
O procurador-geral da República, Augusto Aras, comunicou a abertura da apuração preliminar à ministra Rosa Weber, relatora do caso no STF (Supremo Tribunal Federal), na sexta-feira (6). Em caso de indícios de crime, afirmou Aras, um inquérito poderá ser requisitado.>
O estupro aconteceu no Espírito Santo, mas o aborto foi realizado em Recife, após decisão judicial que determinou a realização do procedimento.>
>
Em nota, após a informação de que a PGR analisa o caso, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirmou que "enxerga a situação com total tranquilidade".>
Disse a pasta que "tratou sua atuação nesse caso com absoluta transparência e lisura, e com extremo respeito aos princípios da administração pública". A assessoria informou ainda que a própria ministra Damares solicitou investigação à Polícia Federal.>
O caso veio à tona em 7 de agosto, quando foi revelado que a menina engravidara após quatro anos de estupro recorrente por um tio não consanguíneo. O tio foi preso.>
Constatou-se no hospital que a vítima se enquadrava nas duas condições previstas pelo Código Penal brasileiro para o aborto legal: gravidez após estupro e risco de morte (dado seu corpo infantil).>
Em setembro, a Folha de S.Paulo mostrou que Damares agiu nos bastidores para tentar impedir que o aborto fosse feito.>
A partir de 9 de agosto, de acordo com a reportagem, o ministério comandado por ela passou a manter contato via chamada virtual com conselheiros tutelares no Espírito Santo a fim de obter mais informações sobre o caso e de influenciá-los.>
A operação coordenada pela ministra tinha como objetivo transferir a criança de São Mateus (ES), onde vivia, para um hospital em Jacareí (SP), onde aguardaria a evolução da gestação e teria o bebê, apesar do risco para a vida da menina.>
Narrou ainda a reportagem que Damares enviou à cidade capixaba representantes do ministério e aliados políticos para tentar retardar a interrupção da gravidez e que estes, em uma série de reuniões, pressionaram os responsáveis por conduzir os procedimentos, inclusive oferecendo benfeitorias ao conselho tutelar local.>
A própria Damares chegou a participar de pelo menos uma dessas reuniões por meio de videochamada, como mostram fotos obtidas pela Folha.>
Pessoas envolvidas no processo afirmam ainda que os representantes da ministra seriam os responsáveis por vazar o nome da criança à ativista bolsonarista Sara Giromini, que o divulgou em redes sociais.>
A exposição da menina atenta contra o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez da família da vítima alvo de ameaças e pressão.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta