Publicado em 31 de agosto de 2020 às 16:57
Jornalistas dos principais veículos da imprensa escrita participaram, na manhã desta segunda (31), de uma entrevista coletiva por videoconferência, convocada pela plataforma Globoplay. Os executivos Erick Brêtas, que comanda o serviço, e João Marinho, diretor dos canais Globo, comunicaram uma novidade aparentemente simples, mas que pode desembocar numa mudança profunda na maneira com que os brasileiros consomem televisão. >
Para começar, os não assinantes do Globoplay -a única plataforma de streaming disponível no país que "se diz menino", tratando a si mesma no masculino- passam a ter acesso não só à transmissão ao vivo da própria TV Globo, como já acontecia antes, como também à do Futura, o único outro canal aberto do Grupo Globo.>
Quem já é assinante passa a ter, a partir desta terça (1°/9), a opção de um pacote mais caro, ao preço de R$ 49,90 por mês (ou R$ 42,90, no plano anual), que dará direito à transmissão ao vivo de 21 canais do Grupo Globo. A lista inclui GloboNews, GNT, Multishow, Viva, Off, Universal, Studio Universal, SyFy, Gloob, Gloobinho, Bis, Megapix, Mais Globosat, Canal Brasil e os três SporTV.>
Também haverá pacotes especiais (e mais caros) incluindo os canais Telecine, o Combate (de artes marciais) e o Premiere (futebol). Além disso, o assinante do Globoplay + canais ao vivo (o nome oficial do produto) também disporá de conteúdo sob demanda desses canais, seis meses depois da exibição ao vivo.>
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Ou seja: o acesso a todos esses canais será mais barato do que pelos planos atuais oferecidos pelas operadoras de TV paga. Mas Brêtas e Marinho garantem que o objetivo não é roubar clientes dessas empresas, e sim atingir quem não é contemplado por elas: ex-assinantes, que abandonaram a TV paga principalmente por causa dos preços exorbitantes, e o público mais jovem, que nunca cogitou assinar um pacote desses e está imerso no streaming.>
Os executivos podem negar, mas é óbvio que um movimento desses afeta o modelo de negócios de Claro, Vivo, Sky e demais operadoras. É verdade que a qualidade do sinal entregue por elas ainda costuma ser superior ao do streaming. Também contam com a amplidão da cobertura: em rincões do Brasil onde mal existe o 3G, o streaming simplesmente não é uma alternativa viável.>
Claro que essas gigantes não estão paradas. A Claro já oferece Netflix em alguns de seus pacotes. Nos EUA, a operadora Comcast criou seu próprio serviço de streaming, o Peacock, em parceria com a rede NBC. Não vai demorar para que o mesmo aconteça também no Brasil, um dos maiores mercados do mundo.>
Brêtas ressaltou que, em 2021, nove ou dez grandes serviços de streaming estarão disputando este mercado. A Disney + chega ao país em novembro. A HBO Max deve substituir a HBO GO. O Pluto, uma plataforma gratuita porque também tem anúncios, desembarca no final deste ano.>
Com tamanha ebulição, é curioso que as outras grandes redes de TV aberta permaneçam à margem deste processo. A plataforma PlayPlus, do Grupo Record, ainda não causou maior impacto, dois anos depois de ser lançada. E o SBT, restrito ao YouTube, parece decidido em perder mais um bonde da história.>
Essas redes deveriam se preocupar, porque, em algum momento, também serão atingidas. Não no conteúdo, mas na maneira como chegam ao espectador. Ainda vai demorar bastante, até porque o Brasil é um país tremendamente desigual, mas já dá para imaginar um futuro em que toda a TV aberta será transmitida online, gratuitamente.>
No caso brasileiro, há uma implicação política imensa. Os canais abertos são uma concessão do governo federal, e costumam ser distribuídos para os aliados de quem estiver no poder. Os governantes de plantão também costumam ameaçar seus desafetos com a cassação desta concessão, como Bolsonaro tem feito com a própria Globo.>
No streaming, é muito mais difícil fazer isto. O Brasil teria que se converter num estado totalitário como a China para que o governo continuasse com tanto poder. Apesar de tudo, esta hipótese ainda parece remota. O avanço rápido da tecnologia, com uma mudança radical nos hábitos de consumo audiovisual, é bem mais provável. Ainda bem.>
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