Publicado em 28 de agosto de 2020 às 14:57
O procurador Eduardo El Hage, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, afirmou nesta sexta-feira (28) que os investigadores se viram num "túnel do tempo" ao encontrar semelhanças entre o suposto esquema de corrupção do governador afastado Wilson Witzel (PSC) e de seu antecessor Sérgio Cabral.>
A fala se deve ao fato de Witzel ter utilizado, segundo as investigações, o escritório da primeira-dama Helena Witzel para receber propinas. Uma das formas de lavagem de dinheiro de Cabral também foi por meio de sua mulher, Adriana Ancelmo.>
"Nos vimos como num túnel do tempo, revendo velhos fatos investigados com outros personagens", disse El Hage, em pronunciamento no Ministério Público Federal no qual respondeu apenas a uma pergunta.>
Por orientação da Secretaria de Comunicação da Procuradoria-Geral da República, o procurador e demais autoridades presentes não puderam responder a questionamentos dos jornalistas.>
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El Hage negou ainda que a operação tenha motivação política, como disse Witzel em pronunciamento no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador.>
"Não havia outra medida que não a que foi adotada. Pela gravidade dos fatos e pelo momento histórico. Depois de um ex-governador ficar quatro anos preso, outro governador preso no curso do mandato, o atual governador no curso do mandato promover atos de corrupção é inadmissível", disse o procurador.>
El Hage apontou ainda a contemporaneidade dos fatos como uma das razões da necessidade de retirada de Witzel do cargo.>
O pedido de prisão contra Witzel feito pela Procuradoria, negado pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), descreve pagamentos ao escritório da primeira-dama até maio deste ano.>
Além disso, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos afirmou, em delação premiada, que o governador escondeu R$ 15 mil de dinheiro vivo com o presidente do PSC, pastor Everaldo, na véspera da Operação Placebo, deflagrada em maio e que teve Witzel como alvo.>
Witzel foi afastado do cargo por, inicialmente, 180 dias, por determinação de Benedito Gonçalves. Ele foi denunciado sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.>
A PGR (Procuradoria-Geral da República) chegou a pedir a prisão do governador, que foi negada pelo STJ. Gonçalves entendeu que o afastamento seria suficiente para impedir a continuidade das supostas ações ilícitas.>
Os investigadores afirmam que, a partir da eleição de Witzel, estruturou-se no governo estadual uma organização criminosa dividida em três grupos, que disputavam o poder mediante o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos.>
Liderados por empresários, a PGR afirma que esses grupos lotearam algumas das principais pastas estaduais, como a Saúde, para implementar esquemas que beneficiassem suas empresas.>
Os investigadores afirmam que o escritório de advocacia da primeira-dama firmou contratos com empresários que estariam envolvidos no suposto esquema de corrupção.>
Um dos contratos, firmados com uma empresa de Mário Peixoto, tem o valor de R$ 540 mil, segundo documentos apreendidos no âmbito da Operação Favorito, deflagrada em maio, que prendeu o empresário.>
De acordo com a PGR, a contratação do escritório de advocacia foi um artifício para permitir a transferência de valores de Peixoto para Witzel.>
No caso de Cabral, o ex-governador afirmou em fevereiro, pela primeira vez, que a esposa dele, Adriana Ancelmo, o ajudou na lavagem de dinheiro de propina recebida por fornecedores do estado.>
Na ocasião, ele também afirmou que Ancelmo tinha conhecimento de seu "caixa paralelo", referindo-se aos recursos obtidos com propina.>
O ex-juiz poderá permanecer na residência oficial, mas a decisão do STJ proíbe seu acesso às dependências do governo do estado e sua comunicação com funcionários.>
Witzel continua respondendo a um processo de impeachment na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), travado após o acolhimento de recursos da defesa no STF (Supremo Tribunal Federal).>
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