Publicado em 1 de julho de 2020 às 17:48
O número de pessoas mortas por policiais militares no estado de São Paulo durante confrontos cresceu 6% em maio na comparação com o mesmo período de 2019, segundo dados da secretaria de Segurança Pública da gestão Doria (PSDB). >
Esta é a quarta alta nas mortes ocasionadas em decorrência de intervenção policial nos cinco primeiros meses deste ano no estado.>
Em números absolutos, a quantidade de vítimas passou de 67, em maio do ano passado, para 71 no mesmo período de 2020. No acumulado no ano, são 442 mortos -isso é mais do que todos os homicídios dolosos (quando há intenção de matar) registrados na capital neste ano: 299 vítimas (excluindo as mortes de trânsito).>
O aumento dos casos em maio ocorreu mesmo com as restrições impostas pela quarentena contra o novo coronavírus, assim como em abril, quando a letalidade na PM no estado sofreu uma alta de 55% de 75 para 116 vítimas.>
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Essas mortes em decorrência de intervenção policial contabilizam tanto os casos ocorridos com policiais de serviço, quanto os de folga, desde que a ação do agente tenha relação com a condição de policial como intervir em um roubo.>
Já com relação aos policiais militares mortos no mês de maio, os dados divulgados pelo governo paulista também indicam um aumento de três para seis vítimas, um aumento de 100%. No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o número de PMs assassinados passou de 9, no ano passado, para 22 em 2020.>
A Secretaria de Segurança Pública não recomenda, porém, uma projeção percentual quando os números de comparação são inferiores a 30.>
Para a socióloga Viviane de Oliveira Cubas, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, há uma tendência do aumento da letalidade policial desde 2014 e que ganhou novo fôlego com as falas do governador João Doria (PSDB) na campanha, quando disse "a polícia dele iria atirar para matar".>
"Não é de se espantar que os números continuassem altos durante a gestão dele, porque foi a bandeira dele de campanha. Ele se apoiou nisso", diz a especialista.>
Viviane continua. "Muitos estudos e os próprios gestores das polícias sabem que os discursos emitidos pelos comandos sinalizam no policial lá na ponta aquilo que ele pode ou não pode fazer. Ele pode se sentir mais à vontade em extrapolar o uso da força quando o discurso é de apoio do uso dessa força", afirma.>
Ainda de acordo com a pesquisadora, a população paulista nunca se incomodou com as ações letais da polícia "porque sempre estão voltados para um público específico: população pobre da periferia.">
Os números ganham, agora, novo contexto com os casos de violência divulgados recentemente envolvendo policiais. "Quando você tem casos de brutalidade, gravados e tornados públicos, também fica a pergunta em relação a esses números das ações letais: o que garante que esses números são resultado de ações legítimas da polícia?", afirma.>
A Secretaria da Segurança Pública diz, por nota, que desde o início da atual gestão, tem reforçado "as ações de combate à criminalidade e proteção às pessoas em todo o estado". "A partir da análise dos indicadores criminais, os programas de policiamento são posicionados em áreas com maior incidência de delitos de forma a coibir essas práticas".>
No comunicado, a pasta afirma ainda que, nos primeiros cinco meses do ano, mais de 73 mil pessoas foram detidas, sendo 48 mil em flagrante.>
"Com o menor tempo de resposta -intensificado em razão da menor circulação de pessoas neste período de pandemia -os policiais, muitas vezes, chegam aos locais de crime com a ocorrência ainda em andamento, com os criminosos armados e subjugando as vítimas. O confronto não é uma opção da polícia, que atua para prender e levar à Justiça àqueles que infringem a lei", diz.>
A Secretaria afirma que o compromisso das forças de segurança "é com a vida, razão pela qual medidas para a redução de mortes são permanentemente estudadas e implementadas". "Por determinação da SSP, todos os casos são investigados pela Polícia Civil e pela PM, além de comunicados ao Ministério Público. As ocorrências desta natureza são analisadas para verificar a conduta dos policiais e avaliar a adoção de alternativas de intervenção para evitar o mesmo resultado em episódios futuros".>
A nota informa ainda que o governo não tem "complacência com o erro". "Só nos primeiros cinco meses do ano, mais de 70 policiais militares foram demitidos ou expulsos da instituição. Além disso, nesta quarta-feira (1º), teve início o programa de treinamento envolvendo todos os níveis hierárquicos, visando a reforçar os conhecimentos e técnicas da instituição.">
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